Ultimato do Bacon

Afinal, vale a pena ler O Incal (1980-1988)?

Em 10 de Fev de 2021 5 minutos de leitura
Vale a pena ler O Incal - capa

A HQ O Incal, lançada originalmente na França entre 1981 e 1988 e considerada por muitos como a obra máxima de Alejandro Jodorowsky, ilustrada pelo mestre Moebius, retornou ao Brasil de forma triunfal pela editora Pipoca e Nanquim – que lança toda a série em 3 edições com acabamento luxuoso e capa dura.

Com o anúncio feito pela famosa editora, muitos leitores estão tendo contato pela primeira vez com a série e um debate acalorado tem tomado conta dos fóruns digitais: afinal, vale a pena ler O Incal?

É importante que entendamos que esse debate toma ainda mais corpo por conta do valor monetário da obra que faz com que o leitor fique temeroso. Afinal, se ele não gostar, o “prejuízo” é grande.

Iremos detalhar alguns dos pontos principais da HQ para que você possa ter mais informações para decidir se vale ou não o investimento!

Os belos painéis são um grande atrativo da HQ O Incal de Jodorowsky e Moebius.

Vale a pena ler O Incal? – A trama

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Para aqueles que nunca tiveram contato com nenhum trabalho de Moebius, eu recomendo que leiam a sensacional Surfista Prateado Parábola, obra que Moebius fez junto com Stan Lee. Nessa obra fica fácil de perceber o estilo gráfico e narrativo do autor, que sempre nos encanta com painéis e desenhos diferenciados.

Apesar do roteiro não ser de Moebius, vale ressaltar que O Incal tem uma pegada filosófica que é bem mais carregada do que a que vemos na obra da Marvel Comics – que figura na nossa lista de Melhores HQs da editora.

Me arrisco a dizer que se a obra da Casa das Ideias não te agradar, é possível que O Incal também não te encante. Para o bem do seu bolso, se você nunca teve contato com nada dos autores, busque essa HQ da Marvel antes de decidir se vai adquirir O Incal ou não.

Outro ponto importante para os que estão pensando em comprar a obra é a temática. Muita gente fala que a obra é genial, mas poucos destrincham um pouco mais sua trama.

De maneira simplória podemos dizer que a obra acompanha a história de John Difool, um detetive classe “R” que se mete em uma confusão após ter – acidentalmente – em suas mãos algo chamado Incal. A tal peça logo mostra ser um item de desejo de muitos e vemos a vida do detetive ser virada do avesso por conta disso.

Incal possui muitas passagens filosóficas que podem não agradar aos leitores que querem uma obra voltada mais para ação

Antes de falarmos do volume gigantesco de ficção científica densa e um tanto lisérgica em alguns momentos – especialidade do autor Alejandro Jodorowsky -, vale dizer que Moebius é extremamente hábil ao iniciar a HQ com uma pegada de ação intensa.

Nas primeiras 30 páginas da história vemos John Difool chegar perto da morte algumas vezes – tudo isso com muitas sequências de ação que são verdadeiras pinturas.

No entanto, o que começa como uma obra acelerada de ficção científica “comum”, logo mostra que é muito mais do que aparenta quando o pássaro do detetive, o Deepo, engole o Incal e começa a filosofar e realizar pequenos milagres. Ali fica claro que o tal item passa longe de ser apenas uma “tecnologia de ponta”.

Toda essa ação desenfreada começa a tomar rumos diferentes e mergulha cada vez mais no absurdo, quando o Metabarão aparece. O personagem, uma espécie de matador de aluguel, é contratado pelo presidente para matar John Difool e recuperar o Incal.

Enquanto a obra se desenrola, temos a entrada de diversos personagens marcantes e únicos na trama e cada um deles traz toda uma mitologia ao redor de si. É a partir daí que a obra, talvez, afaste alguns leitores.

John Difool é empurrado da Alameda do Suicídio para o Lago de Ácído logo no começo da HQ Incal de Jodorowsky e Moebius

Desde o começo, O Incal pega pesado na ficção científica: carros voadores, armas espetaculares, aliens de todos os formatos, construções “humanamente impossíveis”, planetas que misturam tecnologia com elementos orgânicos, rituais de acasalamento com entidades e mudanças de corpo… elementos que são vistos durante toda a leitura e que são marca registrada do sci-fi de Jodorowsky.

A questão é que a partir do segundo livro, O Incal Luz, temos a introdução de diversos conceitos diferentes e a obra pode ser um pouco confusa para alguns. Se você não estiver disposto a abraçar ideias que pareçam “loucas” em um primeiro olhar, a leitura pode te perder e se transformar em um martírio.

Me arrisco a dizer que Jodorowsky escreveu uma HQ que é um verdadeiro deleite para os fãs hardcore de ficção científica. Carro voador é “besteira” perto do que vemos na HQ que faz questão de levar os conceitos apresentados ao extremo! Se você busca algo “pé no chão”, O Incal não vai te agradar…

Além disso, vale salientar que o volume de balões, diálogos e elementos por página é enorme. Isso passa longe de ser um problema, a não ser que você esteja buscando uma leitura mais casual, simples e sem muita profundidade.

Vale a pena ler O Incal

John Difool passa por situações inacreditáveis na HQ Incal de Jodorowsky e Moebius

Vale a pena ler O Incal? – Veredito

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Jodorowsky, o chileno nascido em 1929 e Jean-Giraud, mais conhecido como Moebius, o parisiense nascido em 1938, são sem sombra de dúvida dois dos grandes mestres da nona arte.

O primeiro, diretor, ator, produtor, roteirista, poeta e psicólogo domina a arte narrativa e a “viagem” imaginativa como raros outros criadores jamais fizeram. O segundo, escritor e desenhista, domina sua arte em um nível extremo, imitado por nomes como Simon Bisley e Geoff Darrow, com enquadramentos e painéis que encantam de uma forma que poucas vezes vemos.

O que precisamos pensar aqui é no famoso “gosto do leitor”. Eu, particularmente, sou um fã de O Incal. A obra dialoga comigo justamente porque sou um leitor assíduo de HQs e sou um fanático por ficção científica.

No entanto, os leitores que não estão acostumados com uma ficção científica que foge do tradicional e que ainda estão iniciando a caminhada no mundo das HQs podem achar a obra chata, pesada, extensa.

E não é nenhum pecado dizer isso. Temos que parar de tratar os quadrinhos – mesmo os geniais – como algo acima de críticas e que devem ser admirados por todos. Tudo bem não gostar de ficção científica e tudo bem não se sentir atraído por O Incal.

De forma similar, no cinema temos os filmes de Werner Herzog, por exemplo: obras-primas da técnica e da narrativa cinematográfica, mas que  podem ser de consumo dificílimo para a maiorias dos espectadores.

No fim das contas, acreditamos sinceramente que o leitor deve investir seu tempo e dinheiro naquilo a que se sente atraído. Gostos mudam com o tempo e a vivência, com a mudança de nossa maturidade enquanto leitor.

Minha sugestão? Pesquise, veja vídeos e entenda a história antes de decidir. Quem manda na sua pilha de cabeceira é você.

Quer conhecer quadrinhos nacionais de qualidade? Confira nossa seção sobre o tema e não deixe de ver a nossa lista de 20 grandes quadrinistas nacionais!

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Vale a Pena Ler o incal

 

 


Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Alexandre Baptista

Matéria publicada originalmente em 05 de fevereiro de 2021.

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