Ultimato do Bacon

Porque o Superman é um vilão tão bom?

Em 26 de Dez de 2018 4 minutos de leitura

Por Lucas Souza

 

Altruísta, bondoso, humano e superpoderoso. Essas são as principais características que vem à mente quando pensamos no Homem de Aço. O “S” é um símbolo já associado ao heroísmo e a esperança. Porém, seja no mundo dos quadrinhos, cinema ou games, temos versões malignas do Azulão aparecendo a todo momento. Porque isso acontece? O que o maior herói de todos tem de tão cativante que faz com que roteiristas queiram usá-lo como vilão?

Todos sabem que o Superman foi lançado em 1938 em Actions Comics 1. O que poucos lembram é que sua primeira versão foi lançada de uma forma bem diferente. Em 1933, Jerry Siegel e Joe Shuster lançaram o conto de ficção científica “The Reign of the Super-man”. Nesse conto, Bill Dunn é submetido por um cientista louco a experimentos que o tornam super poderoso. Bill decide então manipular a economia e dominar o mundo. Segundo os criadores, a ideia era simplesmente subverter o arquétipo dos “super-homens” padrão e transformá-lo em vilão da história – à época Hércules e Sansão eram bons exemplos desse padrão. Depois, eles perceberam que o conceito funcionaria melhor se o personagem fosse de fato um herói e o resto, como dizem, é história.

 

Em sua primeira versão, Superman era o vilão Bill Dunn

 

A criação de Shuster e Siegel é hoje o perfeito modelo de super-herói. Tendo inaugurado o gênero, temos a sensação de que – de alguma forma – todos os que vieram depois tem algo do Azulão. Essa pureza e espírito nobre que tornam o personagem tão bom e – nas versões malignas – tão ruim. Esse é o principal motivo para ele ser um vilão tão temido. Temos nos universos das HQ´s diversos vilões super poderosos, muitos inimigos do próprio Super, que não são tão temidos quanto a versão “maligna” do herói. Uma característica que o personagem tem, e nós eventualmente esquecemos, é  o comprometimento. Imagine toda essa força de vontade empregada para o mal? Os games e HQ´s de Injustice extrapolam justamente esse conceito e levam a vilania do personagem ao extremo.

No jogo, Superman surta após a morte de Lois Lane e mata o responsável – o Coringa. Após isso, ele começa a montar um regime ditatorial para comandar o mundo – entendendo que os humanos já tiveram a chance deles e não souberam aproveitar. O que a série tem de especial é o quanto o conceito é levado ao limite. Estamos acostumados a ver o Superman vilão em pequenos arcos e afins. Mas não em uma série longa. Vê-lo se transformar em algo ruim é realmente poderoso. A título de comparação, Injustice faz com o conceito de super vilão o que as HQs de The Walking Dead fazem com o conceito de mortos-vivos – ambas respondem todas as perguntas possíveis acerca do tema. O foco não é só o que tornaria o Azulão mal e sim o que ele faria depois de mudar.

 

Superman vilão de Injustice: Conceito levado ao limite

 

Algumas outras histórias nas HQ´s já flertaram com o conceito de forma bem interessante, mas desistiram de seguir em frente – é o caso do arco “Rei do Mundo”. Nessa saga, Superman começa a se preocupar após perceber que não pode impedir todos os desastres e catástrofes do mundo. Por conta disso ele começa a criar versões robóticas de si mesmo para patrulhar o planeta inteiro – o que preocupa a Liga e outros heróis. A ideia primária dessa saga talvez fosse realizar o que foi feito em Injustice, com o Superman criando um regime e extrapolando a ideia de heroísmo tradicional. O embate de ideias entre ele e outros heróis chama a atenção e aqui ele poderia ter se tornado um vilão “sem querer”. A saga segue com essa premissa até descobrirmos que o Homem de Aço estava sendo manipulado e, com isso, a saga volta a uma zona de conforto e tudo vira uma questão de libertar o herói.  Caso queira saber tudo sobre o arco, confira o Vídeo do canal Sobrecapa clicando AQUI.

A ideia do Superman vilão também já deu as caras no cinema. Em Batman v Superman, o herói é mostrado como um ditador em um possível futuro – baseado inclusive no universo criado em Injustice – mas o uso da ideia não foi para frente. O que poucos se recordam é que vimos uma versão maligna do herói em Superman III de 1983. No filme, após ser exposto a uma espécie de Kryptonita sintética, o Homem de Aço se divide em 2 – e uma das personalidades é completamente má. O filme rende bons confrontos e cenas memoráveis do “Evil Superman” – veja a cena dele no bar e tire suas próprias conclusões.

 

Em Superman III, o Homem de Aço maligno bebe e causa confusão em um bar

 

O que torna o Superman um grande herói é seu caráter e seu comprometimento com o bem. Ele voa acima de nós e serve no Universo DC como um grande farol de esperança para guiar os outros heróis (leia O Prego de Alan Davis e veja a diferença que o personagem faz). Criar eventos que transformam o melhor dos personagens em vilão é o que acaba chamando a atenção dos roteiristas. “Quebrar” o conceito do Homem de Aço é muito mais poderoso do que derrotá-lo em combate e ter toda essa força de vontade e poder a disposição para enfrentar os outros heróis é um excelente ponto de partida para qualquer saga e história.

Dizem que um herói só é tão bom quanto seu principal vilão. Ter o Azulão como vilão é a certeza de que já teremos um antagonista com o qual as pessoas se importam e querem entender a jornada que fez o mudar de lado. O conceito do primeiro super-herói de todos é muito poderoso. Tenho certeza de que – durante os seus próximos 80 anos – o Super vai continuar enfrentando e combatendo o mal e, eventualmente, servindo de personagem maligno em histórias alternativas e universos paralelos. Que venham os próximos 80 anos!

Fique de olho no Ultimado do Bacon para acompanhar mais matérias do nosso especial de 80 anos do Superman!

 

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