O velho oeste nunca foi tão sombrio, bizarro e desbocado como em Jonah Hex de Joe R. Lansdale O autor, fã confesso do personagem, deu um tom mais brincalhão e ácido as tramas e trouxe elementos sobrenaturais fortes: zumbis, vermes assassinos e seres místicos esperam o leitor nessa HQ – isso sem contar nos parceiros e amigos “peculiares” que o pistoleiro encontra.
Jonah Hex de Joe R. Lansdale lançado pela Panini no Brasil traz as três histórias que foram feitas para o personagem na década de 90: “Jonah Hex Oeste Sombrio”, “Jonah Hex Pistoleiro do Além” e “Jonah Hex Riders of the Worm and Such” (essa última era inédita no Brasil). A arte e colorização ficaram a cargo de Timothy Truman e Sam Glanzman e é preciso dizer que o trabalho deles encaixa perfeitamente com a proposta da obra.
Dica para o leitor: Essa é uma versão mais “extrema” de Hex que sai do tradicional ambiente de faroeste mais pessimista e vai para um weird western (basicamente uma mistura de faroeste, terror e ficção científica) que é bem ácido e tem um humor que pode ser descrito como “estranho”.
É interessante que o próprio Joe R. Lansdale assume que sua versão é diferente: ele conta que se recordava que as histórias do pistoleiro da DC eram sobrenaturais e bizarras, mas que ao reler, muitos anos depois, percebeu que sua memória havia lhe pregado uma peça. Mesmo assim, optou por seguir o que sua memória guardava em sua própria versão!
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O caçador de recompensas mais temido do Oeste se prepara para “dar o bote” em Jonah Hex de Joe R. Lansdale
As Tramas das HQs Jonah Hex de Joe R. Lansdale
As três histórias de Hex trazidas por Joe R. Lansdale são muito estranhas – não tem outra palavra para definir. Hex está mais debochado do que nunca e sua narração das aventuras é um espetáculo à parte por não descrever com exatidão o que estamos vendo nas cenas. A HQ traz sangue, violência e outras temáticas adultas. Nas três tramas vemos Hex sendo pego meio de surpresa no meio de narrativas peculiares e pouco comuns.
Em Jonah Hex Pistoleiro do Além, a trama que abre o encadernado da Panini, vemos o personagem ser salvo de um enforcamento por conta de Smith Vagaroso – um “colega” de profissão que o socorre. A bizarrice começa quando os dois encontram uma espécie de mago que é capaz de criar zumbis. A estranha jornada traz mortes, confrontos em saloon, perseguições “animadas” e confrontos com os índios.
Já em “Jonah Hex Riders of the Worm and Such”, a única história inédita no Brasil do encadernado da Panini lançado em 2023, Hex enfrenta homens com recursos “diferentes” que querem matá-lo. Após esse confronto vemos o personagem cruzando o caminho de um rancho que paga muito bem mas tem suas particularidades: o dono é apaixonado por artes de todos os tipos (e obriga os trabalhadores a terem sua própria produção artística) e o local é “assombrado” por minhocas gigantes assassinas. Surreal!
Hex é ferido e busca abrigo em uma das histórias da HQ Jonah Hex de Joe R. Lansdale
A terceira e última história é Jonah Hex Oeste Sombrio. Essa trama mostra o pistoleiro mais “bonito” da DC Comics se unindo a um “circo dos horrores” que tem anão, pistoleiro, um pequeno urso que fala e muito mais. A narrativa se desenvolve mostrando Hex interagindo com esse ambiente e logo tendo problemas graves com ele.
As três histórias têm a mesma equipe criativa e a mesma pegada – se você gostar de uma é possível que goste de todas – e as narrativas têm prerrogativas similares: colocar o pistoleiro da Editora das Lendas em situação estranha e sobrenatural.
A personalidade do protagonista é muito bem definida e ele está sempre buscando o enfrentamento, o escalonamento do confronto e o que ele julga ser certo (conceito que parece meio “errático” nesse ambiente doido) – tudo isso regado a muito sangue, deboche e tiradas de humor ácido que são capazes de nos arrancar risos.
Apesar do protagonismo de Hex, é inegável que os coadjuvantes roubam a cena. Cada uma das tramas tem antagonistas ou parceiros marcantes esperando pelo caçador de recompensas e eles tendem a ser divertidos e bem engraçados. Os ambientes sobrenaturais e bizarros também são muito bem pensados e ajudam as histórias a serem únicas por essa mudança grande e complexa de ambiente.
OBS. Evitei dar muitos detalhes das tramas porque uma das diversões é ver como o autor consegue mudar a rota da história de forma simples e natural.
Hex conhece Smith Vagaroso em uma das tramas de Joe R. Lansdale
Se você estiver disposto a embarcar na proposta de weird western de Lansdale, você vai ficar maravilhado com os ótimos diálogos que o autor entrega. Além de ácidos eles sempre trazem uma crítica social embutida. Um deles acontece entre um juiz e um cidadão após um confronto de Hex com uma quadrilha.
O tal confronto praticamente dizimou a cidade e vemos os dois personagens lamentando a morte de duas figuras que normalmente não são lembradas (ou não são destacadas): um cachorro abandonado e a única prostituta da cidade. A acidez da conversa é marcante e dá o tom da obra.
Apesar de ser fã da proposta de Lansdale, confesso que não é o meu tipo de tom favorito para o Jonah Hex mas é inegável que as histórias são muito boas. Jonah Hex de Joe R. Lansdale é o tipo de leitura ideal para aqueles que não têm apego exacerbado a versão “tradicional” do pistoleiro da DC (ou gostam de ver outras versões) ou para os que que são fãs de histórias “esquisitas e ácidas” de faroeste. O ritmo alucinante das tramas é regado com uma arte sinérgica, excelentes diálogos, coadjuvantes bem construídos e muita violência!
Avaliação: Ótimo!
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Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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