Não sei bem a utilidade disso, mas Podrão Aniquilação (2021) é uma HQ com o formato de uma nostálgica fita de vídeo e, conforme fotos de divulgação podem atestar, cabe tranquilamente em um aparelho VHS, caso você ainda tenha um em sua casa. E já advirto, Podrão Aniquilação é o que existe de mais podre entre os quadrinhos nacionais.
A boa notícia? É que se você não vai com a cara de restaurantes e lanchonetes gourmets – essa onda devastadora que só faz subir o preço do nosso lanche de cada dia – e curte comer em estabelecimentos carinhosamente chamados de “comeu morreu” e “podrão”, a gosto de cada região do Brasil, esta HQ lhe nutrirá do que você precisa. É uma trashera das boas. Junk food total.
Podrão Aniquilação tem roteiro, arte e diagramação de Pablo Carranza, foi publicado por Escória Comix e MauGosto Corp. e conta com 288 páginas em preto e branco. É inspirado em filmes trash, aqueles que são ótimos de tão ruins.
Curtir filmes de Van Damme, Bruce Lee e Steven Seagal é um bom sinal. Na HQ, a porradaria corre solta
Apesar de a classificação na própria capa da HQ a definir como do gênero terror e sci-fi, assim como no caso desse tipo de produção cinematográfica, acaba sendo uma comédia escatológica, com humor tosco e de péssimo gosto que, por alguma obra do destino, uma parte considerável da humanidade – me incluo nisso – adora.
Qual a trama de Podrão Aniquilação
Você já deve estar se perguntando: “mas o que lanches gourmets e podrões têm a ver com quadrinhos?” Neste caso, tudo! O cenário principal da história é a praça de alimentação da Playlândia, um parque de diversões com brinquedos perigosos e espetáculos bizarros.
Acontece que o “Fagner Foodtruck”, novo no local, com uma proposta mais gourmet, fazendo aparentemente o mesmo tipo de hamburgueres que o “Galego’s Lanches” – mas com uma apresentação da moda, cobrando mais caro –, está conquistando todos os clientes. Nessa, o Galego e seus antigos concorrentes do “Pastel China” estão praticamente sem entrada financeira.
Na obra, temos acesso ao drama de manter dois funcionários e pagar as contas frente a concorrência gourmet
Fato é que não demora para o Galego e o chinês, disputando um cliente azarão, entrarem em uma luta digna de filmes de kung fu, com direito a sangue jorrando e tudo. A briga acaba com uma perseguição policial – sente o drama –.
Fugindo da perseguição, o Madona, do “time Galego”, encontra uma estranha substância, fruto de uma experiência científica malsucedida, e a leva para a lanchonete. Os desmiolados misturam o produto na maionese, que fica brilhante e saborosa. E a loucura funciona. A cidade inteira fica viciada no lanche do Galego.
A partir daí, acompanhamos os chineses tentando roubar a maionese, o misterioso sumiço de diversas pessoas que comeram na Playlândia, a investigação do delegado Bareta e até Monga, a mulher-macaco, uma bizarra e animalesca atração do parque, tentando resolver o caso. É óbvio que o principal suspeito só poderia ser Fagner, do foodtruck gourmet. Será que foi ele mesmo?
Estaria a deliciosa maionese criando zumbis, viciados, ou algo pior?
Vale a pena ler Podrão Aniquilação?
Depende. Como eu disse no início, a HQ é ótima de tão ruim, caso você curta a ideia de um quadrinho trash. Caso contrário, esta obra é só ruim mesmo.
A arte de Carranza em Podrão Aniquilação não é nem um pouco requintada, mas se encaixa perfeitamente na proposta. Os personagens são toscos e ao mesmo tempo incríveis.
Acabam se tornando uma sátira para alguns estereótipos típicos – e as vezes preconceituosos – do nosso dia a dia, como o agente da lei bonachão que acredita na primeira pista e ainda acha que está abalando, o pequeno empreendedor dos “podrões” da vida, o empresário – no caso, dono da Playlândia – que não está nem aí para a segurança do consumidor e só faz trambiques…
Se você curtia os filmes trash típicos dos anos 1980, sejam de terror, luta ou sci-fi, aqui você estará em casa. Até porque o autor traz essas referências para nossa cultura de nerd trabalhador brasileiro.
Antes de encerrar, mais do que necessário dizer, embora presumível: Podrão Aniquilação tem violência, sexo, palavrões e escatologia. O politicamente correto passa longe. Portanto, é para maiores de 18 anos.
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Créditos:
Texto: David Horeglad – HQ Ano 1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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