Ultimato do Bacon

Junji Ito fala de influências e expectativas com o Brasil em entrevista exclusiva ao Ultimato do Bacon

Em 19 de Jan de 2023 4 minutos de leitura
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“Acho fantástico o trabalho das editoras brasileiras” declara mangaká

Junji Ito, mangaká especialista em histórias de horror, ganhou destaque no Brasil. Com influências que incluem os artistas de mangá de horror clássico Kazuo Umezu e Hideshi Hino, assim como os autores Yasutaka Tsutsui e H.P. Lovecraft, Junji Ito passou de um simples técnico odontológico para um dos maiores artistas contemporâneos dos mangás de terror. Tudo através de uma arte realista e visceral, e um roteiro poderoso. 

O ultimato do Bacon, a convite da editora Darkside, teve a honra de entrevistar com exclusividade o mangaká que ganhou os holofotes nos últimos anos aqui no Brasil.  Nesta entrevista, Ito fala sobre suas referências, algumas curiosidades de sua produção, e o que está achando do trabalho das editoras brasileiras em seus materiais.

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Entrevista com Junji Ito

Pra começar, gostaria de dizer que suas obras são um enorme sucesso no Brasil e há mais ou menos 2 anos, temos uma explosão de seus trabalhos chegando aqui no país. Sua primeira obra que desembarcou aqui no Brasil foi Uzumaki em uma edição há mais de 10 anos atrás. Porém, foi com Fragmentos do Horror em 2017 lançado pela Darkside Books, que grande parte de seus fãs brasileiros conheceram seu trabalho. Quais são as vantagens, que você enxerga, de um leitor conhecer suas obras através de um formato de coletânea de histórias curtas, como é Fragmentos do horror

Junji Ito: Fragmentos do Horror é uma coletânea de histórias curtas, e desde minha estreia as histórias curtas têm representado uma grande parte do meu trabalho. Eu sempre preferi histórias curtas. Sou melhor em histórias curtas do que longas. Acho que é uma ótima maneira de se ter o primeiro contato, em termos de desfrutar uma variedade de histórias.

Sobre as influências em seus mangás, como mestres do horror japonês – como Shinichi Koga e Kazuo Umezu – inspiram e influenciam suas obras? Qual a importância deles em seu trabalho? 

Junji Ito: Penso que ser exposto ao mangá dos mestres Kazuo Umezu e Shinichi Koga na infância proporcionou uma influência forte e fundamental no meu trabalho criativo. Por exemplo, situações em que um monstro grotesco ataca uma bela garota e a expressão da garota distorcida pelo medo, que são as especialidades de Umezu e Koga, são coisas que incorporei como modelo básico para meus mangás de horror. Também absorvi muitas técnicas, como a criação de uma atmosfera sinistra por meio de desenho dos cenários.

O estilo e tipo de horror japonês é muito diferente do que estamos habituados e crescemos vendo aqui no Ocidente. Mesmo assim, você faz muito sucesso, sendo indicado e ganhando vários prêmios deste lado do mundo – inclusive o Eisner Award. A que você atribui o sucesso de suas obras aqui no Ocidente, mesmo sendo um estilo tão diferente para nós?

Junji Ito: Fui influenciado pelos mangás de horror japoneses, como os do Kazuo Umezu, Shinichi Koga e Hideshi Hino, e pelo tradicional kaidan (histórias assustadoras e misteriosas) do Japão, mas também fui fortemente influenciado por filmes de horror e romances de mistério da Europa e dos Estados Unidos. As obras ocidentais estão cheias de ideias bastante inovadoras. Eu também procuro inserir novas ideias ao meu trabalho, então acho que aspectos desse tipo foram reconhecidos.

Contos de Horror da Mimi é o lançamento recente da Darkside Books e surpreende tanto pela excelente qualidade gráfica (já conhecida da editora), quanto pelas suas histórias. Para esse trabalho específico, como foi o processo de adaptação das histórias compiladas por Hirokatsu Kihara e Ichiro Nakayama no livro Shin Mimibukuro?

Junji Ito: Shin Mimibukuro contém não apenas histórias assustadoras, mas também muitas histórias estranhas e bizarras. Várias delas são dotadas de senso de admiração [sense of wonder, estado intelectual e emocional do leitor ao ter seu entendimento prévio confrontado com um novo contexto ou uma nova informação]. Cada história tinha um “núcleo” que me deslumbrava. E isso é como as ideias centrais que tenho quando estou criando um mangá, e para mim Shin Mimibukuro era uma grande mina de ideias. Então, em vez de adaptar cada uma das histórias originais como eram, peguei esse “núcleo = ideia” e o remontei, do mesmo modo que costumo fazer quando crio minha própria obra, reestruturando-o como uma história.

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Por falar em qualidade gráfica, todas as suas casas editoriais aqui no Brasil estão fazendo um excelente trabalho – inclusive em seu vídeo para Netflix introduzindo Junji Ito Maniac: Japanese Tales of the Macabre, a edição brasileira de Tomie da editora Pipoca e Nanquim, está em destaque. O que você está achando do trabalho das editoras brasileiras com suas obras?

Junji Ito: Acho fantástico o trabalho das editoras brasileiras. O design de capa é elegante e sofisticado. Em se tratando de tradução, quando me perguntaram o primeiro nome de um certo personagem, que não foi especificado na edição japonesa, fiquei muito impressionado com o capricho e seriedade.

Seus mangás não param de chegar aqui no Brasil, o que deixa seus fãs bastante felizes, e em breve, Souichi, Vênus Invisível  e  Cat Diary: Yon & Mu , serão lançados praticamente ao mesmo tempo. Você poderia falar as principais características e diferenças dessas obras?

Junji Ito: Embora Soichi se enquadre na categoria de horror, pelo seu conteúdo quase pode ser considerado um mangá cômico. Acho que o equilíbrio entre o horror e o cômico é um ponto a desfrutar. Diário dos Gatos Yon & Mu está na categoria de mangá cômico autobiográfico [essay gag manga], e apenas as ilustrações são revestidas de traje de horror. Espero que se divirtam com esse contraste. Vênus Invisível é basicamente uma coleção de contos de horror autênticos. Contém pequenas histórias das quais tenho orgulho.

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Nós temos muitos leitores que ainda não tiveram a oportunidade de ter contato com o seu trabalho. Quais títulos você indicaria para um novo leitor?

Junji Ito: Acho que recomendaria o Uzumaki. Se você não é fã de mangá assustador, talvez Diário dos Gatos Yon & Mu seja uma boa opção como introdução.

Para finalizar, poderia deixar uma mensagem para os seus fãs do Brasil, e não posso deixar de perguntar, se com a enorme quantidade de fãs que você já possui, e tendo se tornado o principal mangaká sendo publicado atualmente aqui, existe alguma possibilidade de vir nos visitar?

Junji Ito: Estou feliz que os leitores do Brasil estejam gostando. Muito obrigado mesmo. Será uma honra para mim se mais trabalhos meus forem publicados e continuarem a ser apreciados. Espero ter a oportunidade de visitar o Brasil. Seria ótimo conhecer todos os meus fãs.

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Não deixe de conferir nossa lista com As melhores obras do mestre do horror – Junji Ito, e nossas análises das Obras Tomie, Contos de Horror da Mimi e Frankenstein.

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Créditos:
Texto: Breno Raphael
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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