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Haya e o Tempo de Janaína de Luna e Pedro Cobiaco – O Ultimato

Em 26 de Mai de 2023 3 minutos de leitura

Conheça a história de duas inusitadas guerreiras que precisarão salvar o tempo do homem branco em: Haya e o Tempo de Janaína de Luna e Pedro Cobiaco

Haya e o Tempo saiu em setembro de 2022 pela editora Mino, com roteiro de Janaína de Luna e arte de Pedro Cobiaco. A obra tem 112 páginas coloridas e capa dura.

Janaína é socia-fundadora e editora-chefe da Mino. Anteriormente, lançou Cais (2016) em parceria com Pedro Cobiaco, que chegou a publicar uma tira semanal na Folhinha por cinco anos e ganhou o prêmio Grampo de melhor quadrinho brasileiro por Aventuras na Ilha do Tesouro (2015).

Qual o enredo de Haya e o Tempo

Estamos na Amazônia. Quem nos conta essa história é a floresta, normalmente por meio da pedra que, conforme relata, não tem olhos nem boca, mas a seu modo vê e fala.

A cada cem anos, o tempo passa nas costas de uma tartaruga de um lado a outro da floresta. Duas guerreiras de uma aldeia de mulheres precisam acompanhar o trajeto e protegê-la para que o tempo não pare.

Quando chega o momento, as xamãs, conversando com os espíritos, indicam Haya e Kurema. Porém, nem a aldeia nem elas tem certeza se são as melhores escolhas para a tarefa.

Haya é boa em cerâmica, contar histórias, cuidar das crianças…, mas não entra em brigas e não quer ser guerreira. Quem entende de confrontos é Kurema, uma anciã cujo corpo, envelhecido, não é o mais adequado para lutar fisicamente.

Ambas encontram a tartaruga gigante e começam a jornada. Enquanto isso, um grupo de garimpeiros violentos descobre o segredo da floresta e sai em busca da tartaruga e do tempo, liderados pelo Alemão e pelo Gringo.

Durante a viagem, Haya e Kurema precisarão entrar em uma jornada de autoconhecimento para descobrir, dentro de suas características e limitações, a melhor forma de proteger o tempo.

Vale a pena ler?

O desenho de Pedro Cobiaco é solto, as vezes parecendo sair de rascunhos, o que dá leveza e uma impressão lúdica. As letras e o balonamento seguem esse estilo. Junto de o colorido vasto e belíssimo que a natureza amazônica merece, a arte é um dos pontos fortes da HQ.

O acerto do roteiro é, além de trabalhar com a riqueza e extremo potencial que são as lendas dos povos indígenas brasileiros – originais ou adaptadas –, se permitir brincar e gerar reflexões sobre o tempo, algo tão complexo e filosófico.

UB Haya e o Tempo de Janaína de Luna e Pedro Cobiaco 3

A escolha de Janaína é destacar a oposição entre o ponto de vista da natureza e do ser humano. O tempo passa para ambos, mas se na natureza a morte gera outras vidas em um ciclo – vide a cadeia alimentar –, nas mãos do homem costuma ser sem volta. É fácil pensar nos casacos de pele e botas de couro de jacaré, sem falar nos desmatamentos e na falta de sustentabilidade da civilização. Uma frase do senso comum – bem controversa – impacta: “tempo é dinheiro.” Será?

Senti falta de informações que poderiam nos alicerçar mais na trama. Como os homens brancos descobrem a viagem da tartaruga e do tempo? Por que eles acreditariam nessa história tão fantasiosa para empresários e exploradores?

Algo precisaria dar lastro para essas questões. Mesmo que acompanhemos apenas a visão da floresta, que em tese não conhece as pessoas das grandes cidades, ela convive há muito tempo com os garimpeiros e poderia tapar as pontas soltas sobre o Gringo e o Alemão, antagonistas que encarnam o pior dos interesses da “civilização”.

Também seria interessante vermos algumas páginas extras dos autores nos mostrando as inspirações estéticas e culturais de forma detalhada. A aldeia foi inspirada nas mulheres Yanomami? A vitória régia e os diálogos vieram da lenda da jovem que se apaixonou pela Lua e virou a “estrela d’água”? Sobretudo para leigos no assunto, isso fica meio no ar.

Do lado de Haya e Kurema, o desenvolvimento pessoal das personagens é interessante e vale apontar a criatividade em lidar com uma floresta contadora de histórias. Haya e o Tempo é uma boa pedida para quem busca por um quadrinho leve e lúdico. Achei por um momento que se encaixaria bem no universo do Papa-Capim, da Turma da Mônica, com algumas adaptações, no estilo das Graphic MSP.

O momento da publicação é providencial: nos lembra a atualidade do debate sobre a exploração predatória da natureza.

Gostou do texto? Leia outros Ultimatos do David Horeglad (HQ Ano 1) para o UB!

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Avaliação: Bom!

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UB Haya e o Tempo de Janaína de Luna e Pedro Cobiaco 4 CAPA


Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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