Os quadrinhos brasileiros são repletos de personagens memoráveis e o Velho Sacudo, para maiores de 18 anos, é um deles. A criação indecente é de Chico Félix, que faz roteiro e arte das histórias desse super-herói da “melhor idade” que não apenas deixa escapulir suas vergonhas por debaixo da cueca, como as usa de arma e escudo para combater os mais poderosos e variados vilões. Sim, é sacada para todo lado.
Duas revistas do Velho Sacudo foram publicadas pela editora Pé de Cabra: Velho Sacudo #0, de julho de 2021, 40 páginas, e Velho Sacudo #1, de julho de 2022, 32 páginas. Elas são P&B e saíram, respectivamente, em formato americano (18 x 26 cm) e num tamanho um pouco maior que o formatinho (15 x 21 cm). Cada uma tem duas histórias.
Qual a trama de Velho Sacudo
Mundo Cão (Velho Sacudo #0) nos apresenta Riquito Ryko, uma paródia insana de Riquinho, da antiga Harvey Comics. O NOVO herdeiro de 37 anos perde uma aposta para seu rival, Regino Vangrana, cujo resultado seria cortar um pedaço do falo – sim, é nesse nível! –.
Quando vai procurar seu cachorro falante, ainda atordoado e com dor de barriga, acaba saindo por uma porta desconhecida da mansão e se perdendo no mundo. Essa é uma missão para o Velho Sacudo, que precisará usar suas habilidades de investigador e enfrentar uma perigosa gangue para encontrar Ryco e seu animal. Sem spoilers, mas o final guarda surpresas mirabolantes e muita porradaria.
O Velho Sacudo está sempre pronto para enfrentar os mais diversos desafios
Cheira Meu Dedo! (Velho Sacudo #0) é mais curta. Dois caipiras adivinham o que o outro fez cheirando o dedo do amigo. A lúdica brincadeira vai longe demais quando um, para sacanear o outro, discretamente passa o dedo no próprio traseiro. O problema é que fica preso!
O herói dos testículos de aço escuta o chamado. Enquanto isso, o Bilhar do Etê está pegando fogo e cheio de gente. A voz da experiência precisará fazer uma escolha. Quem o Velho Sacudo salvará?
A primeira história de Velho Sacudo #1 tem toques de horror. Após várias tentativas de cura, um jovem recorre ao “Círculo Mágico do Pagé Loiro” para resolver com magia uma hemorroida que já não cabia nas calças de tão grande. O título da história é D’us e o Diabo no olho do c*, uma possível alusão ao longa de Glauber Rocha.
Alguma coisa dá errada no processo mágico e três dos assistentes envolvidos no ritual se tornam demônios sinistros, o Pajé Loiro vira o forte “Bodão” e a hemorroida cresce ainda mais, ameaçando tomar o continente inteiro, meio que como no filme Bolha Assassina (1988). Para piorar, o Velho Sacudo está em outra missão e as autoridades do município não conseguem contatá-lo.
Em Coração Peludo, Oséas conta a Dodô, no Bilhar do Etê, suas aventuras de amor com a forte e ciumenta Adelaide, que interpretava a Monga em um circo barato. É o primeiro spin-off do universo do Velho Sacudo e última história publicada até aqui.
Dos criminosos urbanos aos supervilões, é sacada e ação para todos os lados
Vale a pena ler?
Comecemos pela arte de o Velho Sacudo. Cartunesca, traço limpo, P&B e uso de testí retículas. Muitas referências vêm à mente, do mestre Marcatti ao Fudêncio e Seus Amigos (2005-2011), animação da MTV Brasil, além de desenhos antigos do Cartoon Network/Hanna Barbera. Mas o que dá o tom autoral e único no desenho são as linhas retas e pontiagudas meio cubistas.
Chico Félix é um carioca que vive há anos em Curitiba. Tem trabalhos publicados nas revistas Prego e Mad e criou a Gente Feia na TV. Músico, toca baixo nas bandas de punk rock Evil Idols e Vida Ruim e já fez diversos cartazes e capas de álbum.
Creio que a palavra-chave da contracultura envolta no gênero musical que o influencia é liberdade. E Félix leva isso ao extremo. Nas HQs do Velho Sacudo, vemos nosso herói em aventuras trash com humor ácido e escatológico que surpreendem até os mais acostumados à fina flor do “udigrudi” brasileiro. O alvo são os rincões mais atrasados da tradição e do politicamente correto.
Há, ainda, espaço para filosofar. Como indica o editorial de o Velho Sacudo #0, o personagem é uma ode à velhice em um momento em que plásticas, hábitos saudáveis, toxina botulínica e ciência têm feito com que possamos apreciar cada vez menos idosos nas ruas. Estes estão com cara de garotões, entrando para academias e comentando filmes da Marvel – programas antes relegados aos jovens! –.
Afinal, melhor idade de verdade é a que as juntas rangem, o quadril dói, o ouvido zumbi e a pele fica flácida. Mas estou sendo prolixo…
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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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