Há ainda uma grande gama de informações sobre nossa mente que estão absolutamente ocultas. Informações que serviriam para ajudar a decifrar essa máquina chamada cérebro ou, simplesmente, de nada valeriam. O fato é que a mente humana é uma incógnita; essa afirmação se dá em função da grandiosidade do pensar e dos processos por trás disso. Acreditem, por mais avançada que seja a ciência, parece que sempre haverá algo a aprender sobre a mente e as reações que geram o pensamento, o comportamento e até a personalidade de uma pessoa.
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Três Cristos (2017) – Dicas de Streaming
No longínquo ano de 1959, o psiquiatra doutor Alan Stone (baseado no médico Milton Rokeach e interpretado por Richard Gere) iniciou um inédito trabalho sobre pacientes do Hospital Estadual Ypsilanti, localizado em Michigan, cuja meta era entender e estudar os comportamentos e os fatos que levaram três homens a afirmar – de modo categórico – que eram o próprio Jesus Cristo. Sim, Stone estava diante de indivíduos que mantinham uma parcela mínima de suas personalidades originais, estas sobrepostas pela ideia – ou convicção, caso prefiram – de que eram o Messias.
Eram tempos árduos para os pacientes psiquiátricos. Medicações em pequena escala, tratamentos hoje classificados como bárbaros e um completo abando por parte de suas famílias. Vejam, nenhuma pessoa manterá a ínfima parcela de sanidade diante de um quadro tão sombrio e, para piorar, sujeito aos tratamentos radicais praticados à época, incluindo a terapia de choque.
O psiquiatra observou que os conflitos entre os três homens que se achavam Cristo eram constantes. Seja por espaço, poder ou apenas por causa de egos inflados, o fato é que as brigas eram prejudiciais em seus tratamentos. Assim, motivado por buscar uma solução para os conflitos e também com o intuito de aproximá-los, Stone conseguiu a autorização para mantê-los juntos, porém isolados dos demais pacientes. Inicia-se, assim, uma experiência que durou de 1959 a 1961.
Creio que esqueci de citar, mas essa é uma história baseada em fatos reais, descritos no livro The Three Christs of Ypsilanti (1964), de autoria do doutor Milton Rokeach.
Jesus
Apesar de haver três indivíduos com o mesmo delírio sobre ser o Messias, fica claro que há certas particularidades em cada um deles. Particularidades bem típicas dos humanos, diga-se de passagem.
Joseph é um dos Cristos. Interpretado por Peter Dinklage, ele é um amante da música, sensível em certos aspectos e um leitor inveterado. Clyde (Bradley Whitford) sofre com a presença de “cheiros” desconhecidos, é obcecado por banho, porém coopera com o tratamento. Por fim, Leon (Walton Goggins) surge inicialmente como o mais rebelde dos três, ríspido e aparentemente perigoso, isso sem falar de sua “cobiça” pela jovem e bonita auxiliar do Dr. Stone, a senhorita Becky (Charlotte Hope). São homens incomuns, absortos por uma ideia que guia os três: a de que são o Cristo.
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O longa foca no tratamento e evolução de cada uma das personagens. Não se trata de um filme cuja essência seja a psiquiatria, mas uma obra que levará o espectador a refletir sobre a fragilidade da saúde mental. Também será incitado a pensar sobre o passado de cada um dos Cristos e aquilo que os levou a esse estado. Em suma, a reflexão sobre o vasto (e por vezes frágil) universo que é a mente humana é algo presente do início ao fim da obra.
Sobre essa reflexão, confesso que pensei bastante sobre o quanto somos frágeis diante de uma doença que atinja o cérebro, seja ela de natureza física, psiquiátrica ou psicológica. Ver uma pessoa que era normal sumir e dar lugar a alguém que é absolutamente diferente daquilo que conhecíamos é, no mínimo, chocante. O exercício de se pôr no lugar do doente é tão difícil quanto o de assumir o papel de um familiar dele… ou o papel de ser o responsável por tratar desse indivíduo doente, tal como feito pela equipe do dr. Stone.
Pertinência
Três Cristos jamais aborda o tema da insanidade de forma leviana. Por ser baseado em um trabalho real, documentado, o roteiro conduz o espectador por uma jornada tensa, por vezes divertida, mas nunca tranquila. A loucura é um dos campos de estudos mais complexos da medicina. Estar ao lado de uma pessoa que não sabe quem é, passível de surtos psicóticos ou de ações involuntárias demanda – sem dúvida – uma dedicação ímpar por parte do profissional que se empenha no cuidado dessas mentes alquebradas.
O trabalho mostrado no filme é uma amostra da capacidade intelectual do homem, principalmente quando ele se decide por buscar uma solução. O doutor Stone e Becky são expostos não apenas à loucura de seus pacientes; são expostos também aos próprios traumas e “loucuras” pessoais. Há perdas e ganhos de ambas as partes.
Sobre a pertinência desse trabalho incomum e maravilhoso, os estudos levaram a uma gradual mudança no uso de artifícios antes tidos como válidos pela psiquiatria. Os progressos dos pacientes nunca foram suficientes para liberá-los das duas prisões: a física (representada pelo Hospital) e a mental. Entretanto, eles evoluíram como pessoas.
Mas o sucesso – mesmo parcial – pode incomodar. E esse é um ponto forte na trama. Preparem-se para uma dose forte de drama, construída com maestria.
Atuações
O elenco inteiro se mostra dono de uma competência avassaladora. Destaque para as atuações de Richard Gere, Peter Dinklage, Charlotte Hope e Walton Goggins. É possível ver em suas personificações o esforço para dar verdade a cada segundo de atuação. Os momentos finais ganham em emoção com as interpretações deles, mas é fato que todos deram o máximo de si para entregar ao público uma obra única.
Fatos reais
Óbvio que já citei que esta é uma obra baseada em fatos reais. Ambientada em uma época complexa onde a medicina psiquiátrica ainda estava marchando rumo à evolução, Três Cristos tem incontáveis pontos que são memoráveis, entre eles a leve evolução dos pacientes e o esforço do dr. Rokeach. Ainda assim, deixo apenas uma citação do próprio doutor Milton Rokeach sobre tudo que representou essa empreitada em sua vida e na vida de seus pacientes…
“Embora eu tenha falhado em curar os Três Cristos de seus delírios divinos, eles me curaram dos meus.”
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Três Cristos (2017) – Trailer
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Créditos:
Texto: Franz Lima (Apogeu do Abismo)
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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