Ultimato do Bacon

Qual o verdadeiro lugar do Robin?

Em 25 de Mai de 2021 5 minutos de leitura

Protegido, parceiro, filho… Qual é o verdadeiro lugar do Robin?

Para voltarmos a falar sobre o Robin, vou presumir que você já tenha lido a matéria anterior: Como entender a essência dos três primeiros Robins.

Nela, mostramos como três histórias – Morte em Família (1988), Batman: Ano Três (1989) e Um Lugar Solitário Para Morrer (1989) – conseguem sintetizar a essência dos três primeiros Robins: Dick Grayson, Jason Todd e Tim Drake. Cada um em sua individualidade, por trás da máscara.

Mas essas três aventuras mostram muito mais sobre o sidekick mais famoso da cultura pop. Elas revelam o significado do Robin para o Batman e como ele virou um símbolo. O personagem que surgiu como um recurso para aliviar o peso das histórias e gerar oportunidades de diálogos para os roteiristas na Detective Comics #38 de 1937, acabou tornando a misteriosa psique do Cavaleiro das Trevas ainda mais complexa.

Robin ocupa o lugar de aprendiz, de filho e de herdeiro – dos bens e do manto –. Em momentos de desespero e irracionalidade, Batman sabe que precisa ser um bom exemplo para seu parceiro mirim – e vimos o que ocorre quando está sem ele após Morte em Família.

qual é o verdadeiro lugar do robinDick, recém-chegado à Mansão Wayne, conhece a Batcaverna, em Batman: Ano Três (1988)

Quando Robin está no lugar de filho, permite que Wayne volte a amar, algo que ele tem medo desde que perdeu quem mais amava – e por isso o trauma após a derrota de Jason Todd faz tanto sentido –. Batman se permitiu amar de novo, e também sentir a dor de perder alguém amado. A culpa não é só por não ter protegido Todd, mas por se deixar envolver, amar.

É necessário perceber que ainda nem estamos falando em Damian Wayne, o herdeiro de sangue. Se o personagem já era um embrião em Batman: O Filho do Demônio (1987), a run de Grant Morrison que transformaria Damian em Robin nas revistas Batman (1940) demoraria mais de 10 anos para chegar.

Entretanto a psique humana vai sempre mais longe. Paralelamente ao lugar de protegido, como conclui o perspicaz Tim Drake em Um Lugar Solitário Para Morrer, o morcego precisa do Robin para “lembrar do que ele era antes dos pais morrerem.”

É o Robin que dá ao Bruce acesso a uma inocência e jovialidade que ele perdeu há muito tempo. É quase como tocar na criança que vai se divertir com os pais ao assistir ao filme “A marca do Zorro”.

Índice

Qual é o verdadeiro lugar do Robin

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Marv Wolfman na mitologia do Robin

O roteirista de Crise Nas Infinitas Terras (1986) e Os Novos Titãs (1984) também foi essencial para o Robin

É importantíssimo destacar o peso de Marv Wolfman para a mitologia do Robin. Das três histórias citadas no início do texto, duas foram roteirizadas por ele: Batman: Ano Três e Um Lugar Solitário Para Morrer. Essa última com a contribuição de George Pérez, seu companheiro de Os Novos Titãs.

E é justamente na revista Tales of The Teen Titans (1984) que a revolução dos Robins tem início. Wolfman e Pérez, para enquadrar os roteiros dentro do que pretendiam com mais facilidade, acabam tornando Dick Grayson mais velho e maduro. O líder dos Novos Titãs não podia mais soltar aquelas velhas piadinhas de pré-adolescente – típicas do Robin, que internamente Dick já não era –, precisava amadurecer. E foi isso que fizeram com o personagem.

A deixa já estava amarrada. Jason Todd havia surgido em 1983. Grayson, primeiro e mais antigo menino prodígio, que cresceu com a lenda do Batman, decide deixar de ser Robin em Tales of The Teen Titans (1984) #39 (presente no encadernado “Lendas do Universo DC: Os Novos Titãs Vol. 8”), justamente por não querer ser apenas um, nas palavras dele, “parceirinho mirim”.

Cinco edições depois, em Tales of The Teen Titans (1984) #44 (em “Lendas do Universo DC: Os Novos Titãs Vol. 9”), durante o clássico arco O Contrato de Judas (1984), Dick Grayson apresenta sua nova identidade: Asa Noturna. Assim, distancia-se de vez da imagem de seu mentor e apresenta um herói fruto de todas as suas influências: Graysons Voadores, Batman, Super-Homem e Estelar.

Grayson reflete sobre o herói que será, deixando o uniforme vermelho para o próximo Robin

É curioso perceber que Wolfman, o mesmo roteirista que tirou a inocência do Robin – ao envelhecer Dick Grayson – foi responsável por dar nova vida ao sidekick em Batman: Ano Três e Um Lugar Solitário Para Morrer.

Wolfman aceitou o desafio de arquitetar um novo Robin em um momento complicado, pois muitos leitores não aceitavam bem o anterior, Jason Todd. Pensando que o público deveria gostar do novo personagem desde o início, ele fez com que Drake fosse distante dos primeiros – em sua personalidade e história –, ao mesmo tempo que próximo por ser um fã declarado da dupla Batman e Robin.

Enquanto o menino prodígio era considerado um futuro substituto do Batman – algo praticamente inevitável, como no caso do Dick Grayson do Grant Morrison em Batman e Robin (2009) –, Drake veio para mostrar que o Robin também precisa ser sempre renovado.

Nos extras de “Clássicos DC Comics: Batman – Morte em Família”, Wolfman afirma que Tim era para ser o primeiro Robin a querer ser apenas o Robin. Em um período de HQs mais densas – O Cavaleiro das Trevas (1986), Watchmen (1986), Crise Nas Infinitas Terras (1986) e Morte em Família (1988) –, o personagem veio leve, com os pais vivos e sem rancor.

Drake relembra que Batman é um símbolo, assim como o Robin

O então futuro herói surgiu em histórias construídas como uma grande homenagem ao Robin, um grande mérito do roteirista. Drake foi colocado para falar o que Wolfman e todos os fãs de Robin queriam dizer. Talvez por isso seja o preferido de muitos. E Wolfman deixou claro, por meio da voz de Drake, que Robin era um símbolo.

Robin, o símbolo

Embora em Um Lugar Solitário Para Morrer Wayne estivesse meio fora de si, em outras ocasiões ele mesmo afirma que o Batman foi criado mais do que para entrar em ação, mas para ser um símbolo. Batman é a representação da justiça e do potencial humano. Porém, sabemos o quanto os humanos podem ter um lado sombrio e tenebroso. Inteligente, Bruce Wayne usou seu maior medo para causar medo aos criminosos: o morcego.

A famosa arte do morcego de David Mazzucchelli em Batman: Ano Um (1988), de Frank Miller

Mas nosso foco aqui é o Robin e, logo, algumas perguntas surgem: a justiça pode ser tão sombria e causar medo? Se é bom para amedrontar, é bom para uma população que precisa ter esperança? É bom para quem necessita de um herói? Você já deve ter percebido onde Robin se encaixa. Por isso Batman e Robin funcionam tão bem.

Robin é o lado bom que Batman normalmente não deixa transparecer. É a representação dessa ambiguidade que é tão natural dos humanos: o bem e o mal, o amor e o ódio. É por isso que, novamente, Tim Drake é genial, ao nos lembrar de que o símbolo do Batman está vinculado ao do Robin. “Batman e Robin” são um símbolo. Eles são a “dupla dinâmica”.

As reflexões de Tim Drake – ou de Wolfman – vão ainda mais longe: se os bandidos acharem que podem matar alguém como o Robin, quem será o próximo? A morte de Robin seria, simbolicamente, a morte do que a dupla representa: a morte da justiça em sua melhor representação – não apenas aquela sombria, justiceira –.

Robin surge ao lado do Batman em sua primeira aparição, em 1940

Então, qual o verdadeiro lugar do Robin? Para ser aprendiz, filho, herdeiro, símbolo, esperança e amor, ele só pode ocupar um lugar: ao lado do Batman. Quando deixa de ser assim, não é mais o Robin. Surge o Asa Noturna, o Capuz Vermelho, o Drake, e dá-se lugar a um novo herói.

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: João Maia

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