Ultimato do Bacon

Pau e Pedra de Peter Kuper (2004) – O Ultimato

Em 13 de Out de 2022 3 minutos de leitura
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Conheça a HQ muda que une simplicidade e contornos épicos na alegoria de Kuper do nascimento e morte de um império em: Pau e Pedra de Peter Kuper

Mesmo que não se recorde de primeira, você já deve ter lido algum quadrinho de Peter Kuper, um dos maiores mestres das HQs mudas. Sua tira mais lembrada é a dos violentos e engraçados Spy vs. Spy, desde 1997 feita por ele na lendária e saudosa revista Mad.

Com forte viés político e filosófico, temos ainda O Sistema (1996), Ruínas (2015) e a versão em quadrinhos de A Metamorfose (2003), de Franz Kafka.

Pau e Pedra (2004) foi publicado no Brasil pelo selo Quadrinhos na Cia. em 2016, com 132 páginas, P&B. O formato é diferente, 20 cm x 20 cm, de leitura confortável.

Por meio da HQ, Kuper faz uma alegoria para tratar de temas como exploração, tirania, alienação e liberdade, guerra e paz, ascensão e queda, poder, perversão e, em suma, a natureza da humanidade.

Qual a trama de Pau e Pedra de Peter Kuper

Em planície erma, um vulcão entra em erupção e dele voa algo até colidir com a terra. Descobrimos, ao longo de vários quadros, ser um bebê gigante de pedra, que vai aprendendo a ficar de pé e andar aos poucos.

Solitário e choroso, acaba fazendo amizade com pequenos seres humanoides, que o ajudam a construir castelo e trono de pedra – sozinho, não havia tido sucesso em levantar nada –.

É quando o comportamento do gigante vai se alterando. Como um bebê que não viu a interdição da mãe e a lei do pai, não conhecendo os limites da vida em sociedade, aproveita suas vantagens físicas para subjugar os pequenos, tornando-se autoritário.

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A arte de Kuper é autoral, com estêncil e manchas de spray

Os que reclamam das ordens são punidos com violência. O gigante de pedra, de certa forma, toma o lugar do famigerado pai terrorífico apresentado por Freud em Totem e Tabu (1913), aquele que fazia o que bem entendia com sua horda. Vê-se, inclusive, como o comportamento despótico se assemelha ao infantil, onde a alegoria de Kuper parece tão poética e assustadora.

Voltando a trama em si, o puxa-saco ganha vantagens e uma espécie de coroa, diferenciando-o das outras criaturas de pedra.

Ele é o enviado para investigar a montanha do vulcão e descobre uma comunidade de pequenos altamente harmônica e conectada à natureza, com muitas árvores e madeira. Essa sociedade, diferente do resto da HQ, é retratada em belo colorido. Remete à pulsão de vida.

O gigante organiza o exército e, mesmo a contragosto de alguns, dá ordens para o ataque aos estrangeiros. A ideia é trazer a madeira e cativar o novo “inimigo”, mesmo sem nem o conhecer.

Uma resistência será formada com um personagem de cada grupo. As forças da natureza terão seu papel na HQ. Quem vencerá: a harmonia ou a força bruta? A resistência ou o ditador? Os atos do líder autoritário serão punidos?

Vale a pena ler?

Pau e Pedra traz temas densos que geram reflexão. Apesar do peso e da dramaticidade, são tratados de forma lúdica como em um conto, descomplicado, sendo acessível até para as crianças.

É interessante pensar que na maior parte da História tivemos representantes símiles ao gigante de pedra.

Guardadas as especificidades, não foi assim com Qin Shihuang, Gengis Khan, Calígula e tantos outros até os grandes ditadores dos séculos XX e XXI? Ou seja, o quadrinho trata de algo muito real e cíclico. Portanto, atual.

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Os pequenos entram em guerra em nome do gigante autoritário

E não é otimista. A impressão que dá é que o pacto social só é necessário quando em benefício próprio. Fica a pergunta: a falta de limites cria o perverso? Lembremos a máxima popular de que se você quer conhecer alguém, basta dar poder a ele. Quantos não se tornariam gigantes de pedra?

Vamos mais longe. Por que os pequenos, para além da possibilidade de enfrentar um monstro, apenas não viraram as costas e foram embora? Oras, é a tal da servidão voluntária, também empírica.

Mas o autor não é de todo generoso com o protagonista. Afinal, dinheiro e poder compram tudo? É uma obra singela que pode levar o leitor por diversos caminhos e analogias…

A arte de Kuper é incrível e autoral. Como de costume, usa estêncil e manchas de spray. As expressões e movimentos são característicos do autor, com tom cômico – ou tragicômico –. Apesar de pouco lembrado, Pau e Pedra merece o título de clássico dos quadrinhos, sobretudo dentre as HQs mudas.

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Avaliação: Excelente!

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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