Ao redor do planeta, antigos deuses caem do céu, ninguém sabe o porquê e nem de onde vieram. Será que a fé da humanidade no divino e em si mesma irá sobreviver? O que você faria no final dos tempos?
Com esses questionamentos em mente, você abre as portas da percepção e parte impactado para caminhar pelos acontecimentos dos últimos dias de nossa existência na terra, ou pelo menos de tudo como conhecemos até agora.
Dies Irae aborda o tema da inversão da idealização de um deus e a relação dos humanos com suas divindades é tratado em diversas obras da ficção mundial. Imaginar deuses criados à imagem e semelhança dos homens, nos faz encarar mais facilmente a ideia de um deus que não interfere em tantas tragédias mundiais e nos faz aceitar mais facilmente todos os horrores que testemunhados no nosso dia a dia.
A Graphic Novel Dies Irae começa em um futuro próximo onde em um evento de proporções mundiais, deuses de diversas mitologias começam a cair dos céus sem aviso ou explicação. Como é de se esperar, a humanidade não estava preparada para testemunhar o “divino” tão de perto e o que se segue são episódios de epifania e alteração transitória da consciência que se espalham em diversas cidades do globo terrestre.
Passamos a acompanhar o “dia do juízo final”, mas não podemos afirmar imediatamente, quem está julgando e quem está na posição de réu. Divindades passam a provocar desastres e a raça humana começa a pôr em prática sua justiça. Contra os deuses e contra seus iguais.
Tudo isso contado em 104 páginas, recheadas de muito simbolismo, referências e uma arte que muitas das vezes nos tira o fôlego e que em outras, nos faz repensar sobre a confiança nas crenças e nas certezas entregues de forma pronta em tantas mitologias espalhadas pelo mundo.
Com uma arte que dispensa elogios, Adan Marini, Thiago Danieli e Frank Tartarus nos fazem repensar mais uma vez a estética das histórias em quadros sequenciais e trazem um pouco de tudo que os leitores gostam, referências entremeadas na narrativa apontam para a relação entre a mídia e o condicionamento de massas, e a homenagem à diversas fases dos quadrinhos de heróis são facilmente identificadas nos desenhos. As cores de Luciana Lain trazem à tona sentimentos que são difíceis de expressar, conversando muito com momentos decisivos e mais calmos da história.
O roteiro escrito por Frank e Rafael Rodrigues, em alguns momentos traz tanta informação que acaba parecendo corrido. Caberia certamente em uma história com mais páginas ou em continuações para que toda a miríade de ideias que conseguimos ver nas entrelinhas, pudessem ser melhor exploradas e até mesmo explicadas. Mas de forma alguma a leitura se torna confusa ou prejudicada, seria apenas uma forma de nos fazer aprofundar ainda mais na ideia, nas teorias apresentadas.
Uma das poucas certezas que você terá ao terminar esta obra em quadrinhos é a de que se você gosta de histórias que fogem à dualidade simples do maniqueísmo e está disposto a abandonar algumas ideias e ideais calcificados em sua mente, Dies Irae é um quadrinho que você deve ler e ter sua própria experiência com o tema.
A Graphic Novel foi publicada originalmente em 2014 no formato digital, no ano de 2016 ela foi lançada impressa, através da lei de incentivo cultural do Município de Caxias do Sul/RS. Sucesso na região e em eventos no sul do país, ela foi distribuída por intermédio do catarse em 2017. Seu formato inovador, impresso em paisagem/widescreen, no tamanho 25x17cm chamam a atenção e é um diferencial entre tantos lançamentos do mercado editorial.
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Créditos:
Texto: Allan Azevedo – Dark Pages
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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