Já ouvi de brasileiros que viveram na Alemanha que o povo alemão tem muita vergonha de seu passado recente. Sempre me perguntei o motivo deles terem aceitado um regime tão brutal. E para entender isso, é necessário sacar o contexto. Jason Lutes nos mostra tal contexto de forma brilhante.
Essa história é ambienta na Berlim dos anos 20 e em suas multifacetas. Como é de conhecimento de muitos, na Alemanha pós primeira guerra, havia grupos que não aceitaram a rendição alemã e as punições previstas no Tratado de Versalhes. Alguns desses grupos viam na URRS um modelo político a ser seguido, e desejavam a implantação do comunismo; outros eram completamente contra tal ideia; havia ainda os que buscavam uma retomada do poderio militar e a exaltação da guerra como ferramenta de desenvolvimento do país.
Em suma, era uma nação ressentida, que passava por movimentos violentos, em crise econômica e com grandes doses de radicalização política. O background perfeito para a ascensão do obscurantismo!
Führer do partido Nazista no belo traço de Jason Lutes
Vale reiterar que esse álbum é fruto de uma longa e bem-feita pesquisa do autor. A profundidade do trabalho é refletida na maneira fiel em que a Berlim da época nos é apresentada.
Apesar de ter dois personagens principais, a obra acompanha outros diversos: Artistas, jornalistas, prostitutas, músicos, políticos, militares, judeus, antissemitas… e pelas experiências e olhos deles, que são cidadãos berlinenses, vemos a tragédia acontecer aos poucos.
Uma característica muito particular dessa HQ, é sacar que a própria cidade é uma personagem. E é chocante ver as transformações que ela passa do início ao fim da história.
Contém muitos diálogos, e bastante texto para ler. A leitura é cadenciada e, por vezes, cansativa. Não tem grandes cenas de ação e nada que fará sua adrenalina subir; são diálogos para construir o clima e desenvolver a narrativa. E nisso Jason Lutes brilha!
Assim como na arte! Aparenta ser um desenho simples, de rápida execução, mas quando se presta atenção ao tanto de detalhes que ele coloca, o trabalho fica ainda mais grandioso! A construção de cenários, as várias cenas da cidade em perspectiva e o trabalho de luz e sombra apenas agigantam ainda mais a HQ.
A arquitetura da cidade é retratada de forma magistral
Uma coisa que me chamou muito a atenção (talvez pelo fato de eu ser da área de comunicação) é a forma como ele representa a importância da propaganda nazista na figura do ministro Goebbels. Seus discursos nacionalistas e a forma como ele inflama seus ouvintes de cima de um palanque são muito bem construídos.
Outra característica legal do gibi é a imparcialidade política: Pau que bate em Chico, bate em Francisco! Ele critica da mesma forma o extremismo de direita quanto o de esquerda. Afinal, se é extremo, não é bom. Em qualquer esfera da vida.
É um gibi que indico para quem gosta de história, de entender como caminha a humanidade e de acompanhar movimentos políticos.
A edição da Editora Veneta conta com capa dura, 592 páginas em papel pólen bold. Compila as 22 edições lançadas por Jason Lutes de 1996 a 2018. Essa HQ foi indicada aos prêmios Harvey e Eisner, e eu indico demais!
Não deixe de conferir nossa matéria especial de Gen Pés Descalços e Recado a Adolf de Osamu Tezuka.

Avaliação: Excelente!
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Assista Essa Resenha No Review Express:
Créditos:
Texto: Kim Martins
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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