Ultimato do Bacon

Batman: Cavaleiro Branco

Em 14 de Abr de 2020 3 minutos de leitura

A força da opinião pública em Batman: Cavaleiro Branco.

Quando a DC Comics anunciou Batman: White Knight (Batman: Cavaleiro Branco no Brasil) em 2017, eu não me animei: a premissa me parecia simples e não trazia nenhuma novidade para a já muito explorada rivalidade entre Coringa e Batman.

Demorei bastante para ler a minissérie (trazida pela Panini Comics em 8 edições em 2018), e confesso que só dei uma chance para a HQ de Sean Murphy e Matt Hollingsworth depois que soube da continuação Batman: A Maldição do Cavaleiro Branco (Batman: Curse of the White Knight, 2019 – 2020), já em publicação pela Panini Comics aqui no país.

Muito bom poder dizer que eu estava errado e que a obra de Murphy merece todo o falatório ao seu redor: a premissa (simples e que não faz jus a história) é que o Coringa agora é o herói de Gotham e que o Batman começou a ser mal visto – passando a ser o vilão.

Uma premissa assim passa longe de ser novidade – Armageddon 2001 (1991), por exemplo, traz um futuro alternativo com essa ideia – mas o desenvolvimento e as ideias do autor fazem com que a HQ construa algo memorável.

Duas Arlequinas se digladiam pelo amor do Coringa em Batman: Cavaleiro Branco da DC Comics.

Murphy já abre sua primeira edição mostrando que vai ser memorável: Jack Napier, o Coringa recuperado, começa sua caminhada para mostrar ao povo de Gotham que o Batman faz muito mais mal do que bem e que a cidade não possui nenhum problema especial que não possa ser tratado pela polícia. Os argumentos de Napier e a recuperação do antigo Coringa chamam a atenção e contrastam com um Batman revoltado pelo simples fato de o antigo Palhaço do Crime estar conseguindo atenção.

Asa Noturna, Jason Todd, Arlequina, Comissário Gordon e até Duke Tomas dão as caras em versões muito parecidas com as que estamos acostumados (em alguns casos não há qualquer diferença) – e isso torna a história ainda mais poderosa, já que ela poderia estar acontecendo no universo regular.

Vale falar detalhadamente das duas Arlequinas inseridas na história por Murphy: uma é claramente a tradicional – criada por Paul Dini e Bruce Timm na série animada – e a segunda é uma crítica à reformulação que a personagem sofreu pós Ponto de Ignição (Flashpoint, 2011) – se tornando mais sexualizada e “boba”. As duas versões são bem trabalhadas na HQ e trazem um conflito pela alma de Jack Napier que se torna, em algum ponto, central na trama. Um “golaço” da narrativa!

Coringa e sua veneração pelo Homem Morcego aparece em Batman: Cavaleiro Branco de Sean Murphy.

Todos esses elementos são interessantes, mas o que mais chama atenção na HQ é justamente a forma como Coringa, Jack Napier, consegue colocar toda Gotham City contra o Homem-Morcego em pouco tempo. Até os mais próximos, como Asa Noturna e Gordon, parecem dispostos a trair o Batman e abandoná-lo.

A manipulação é interessante porque parece extremamente real: temos o Coringa, por exemplo, se unindo à líder das áreas mais pobres da cidade e “mostrando” que nem o Batman, nem o GCPD se importam com os mais pobres. Alguns eventos mascarados e meia dúzia de dados fora de contexto são o suficiente para que os protegidos se virem contra o personagem que sempre defendeu Gotham.

O Batman tem suas falhas – claro! Afinal não parece muito politicamente correto entregar a segurança de uma cidade a um homem encapuzado que faz o que quer… mas é interessante notar como conceitos relacionados a “gratidão” e “confiança” são abandonados rapidamente em prol de um novo salvador – que até então era o bicho papão de Gotham.

A HQ ainda mostra debates entre jornalistas e discursos do novo salvador da cidade para ir mostrando para o leitor, passo a passo, o processo de “fritura” que se abate sobre o Cavaleiro das Trevas. É impactante e magnético porque é REAL – se pergunte se você já não viu a TV ou seus amigos endeusando criminosos e cuspindo “dados fora do lugar” para defender um ponto de vista…

Batman é abandonado por Gotham em Batman: Cavaleiro Branco de Sean Murphy.

Dizem que a arte imita a vida. O mérito de Sean Murphy é pegar um personagem tão importante para a cultura pop e mostrar como um manipulador ardiloso pode destruir qualquer um através da opinião pública – até o Batman.

Claro que Batman: Cavaleiro Branco pode ser lido como uma história de confronto tradicional, mas os mais atentos vão perceber uma profundidade nas atitudes de Napier que emula muito bem a vida real – apesar das capas de couro e das maquiagens brancas.

Será que o regenerado Coringa e sua Arlequina estão preocupados com o povo? Será que ele sempre foi um injustiçado e agora sim acordamos para a realidade? Seria o Batman um mal necessário?

As nuances de Batman: Cavaleiro Branco são muitas e é difícil não se envolver com a história e pensar: como o Homem-Morcego poderia ter combatido a opinião pública para ter Gotham do seu lado? 

Uma leitura que vale seu tempo e vai te deixar pensativo mesmo depois de ter acabado.

Fique ligado no Ultimato do Bacon para mais sobre HQs!

 


Créditos:

Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Alexandre Baptista

Quer debater Quadrinhos, Livros e muito mais?

Conheça nosso grupo no WhatsApp!

Quero participar

Notícias relacionadas

Superman, Batman e Mulher-Maravilha em Capa da revista Heróis em Crise da DC Comics

Importante herói da DC irá em busca de redenção

12 de Jun de 2019

Nós usamos cookies para garantir que sua experiência em nosso site seja a melhor possível. Ao navegar em nosso site você concorda com a nossa política de privacidade.

OKPolítica de privacidade