Você já teve ter ouvido falar do tal “bloqueio criativo” que alguns criadores passam. Sejam eles quadrinistas, publicitários, escritores, músicos…, qualquer tipo de pessoa que trabalha com “criatividade” está suscetível a esse momento em que as coisas não fluem criativamente.
Quando esse impasse acontece é necessário mudar algo. Sair do seu modus operandi, quebrar paradigmas e buscar a solução do problema. E foi exatamente isso que Benoît Cohen, um francês residente em NY, fez em Yellow Cab de Chabouté.
Ele se sente cansado. Há 20 anos escreve roteiros de filmes e séries, e precisa de um respiro. Precisa reencontrar seu entusiasmo em escrever e voltar a ter tesão no que foi seu ganha pão por anos. Durante um bate papo sincero com sua esposa, surge a ideia de ser motorista de taxi!
Afinal, NY é a cidade dos taxistas e, tendo contato com dezenas de pessoas diferentes por dia, ele certamente teria material o suficiente para novas criações. Uma imersão completa em um personagem que viria surgir… ao melhor estilo Taxi Driver.
O exato momento em que Benoit conta à esposa sua audaciosa ideia.
E então, Benoît começa a correr atrás de tudo o que é necessário para ter sua licença de motorista. Mal sabia ele o terreno ardiloso e cruel em que estava entrando. O protagonista se depara com uma burocracia quase intransponível. O que parecia simples (segundo as informações que buscou na internet), se transformou em enormes filas, muito dinheiro despendido, pessoas nem um pouco interessadas em ajudar, processos administrativos surreais e meses de espera para conseguir a tal licença.
Nesse processo, Benoît se depara com uma realidade bem triste: a maioria esmagadora de motoristas de taxi são imigrantes que, tendo uma condição financeira bem pior que a dele, precisam passar por esse mesmo processo.
Boa parte do álbum se dedica a essa odisseia em conseguir a licença. É angustiante acompanhar os problemas surgindo páginas pós página, e nada do francês conseguir a permissão de dirigir. Talvez você sinta que essa parte é longa e arrastada, mas tenho certeza de que Chabouté desenhou/escreveu propositalmente dessa forma, para demonstrar o quão penoso e exaustivo é esse processo.
Finalmente em posse de sua licença, Benoît, já calejado e por dentro das malícias da profissão, começa a dirigir e encarar todo tipo de problema que um taxista de NY precisa enfrentar: um trânsito caótico, multas, taxas de aluguel de carro, pessoas de todo tipo, racismo rasteiro e um lucro baixíssimo.
A licença chega, e enfim Benoit pode dirigir como taxista pelas ruas de NY.
Uma das partes mais legais é ver como o motorista reagirá com cada passageiro. Tem os mal-educados, os simpáticos, os que vivem na correria e por aí vai… e lógico que ele aprende a lidar com cada um deles e aproveita para adubar seu terreno criativo.
Esse quadrinho é mais um daqueles que nos faz refletir como tratamos aqueles que nos prestam serviços cotidianos. Seja um motorista de taxi, um caixa de supermercado, o porteiro do condomínio… Um dos pontos fortes é buscar essa empatia e se perguntar: E se fosse eu?
A arte de Chabouté é sempre deslumbrante. O preto e branco dele é simplesmente lindo. O domínio dele em cenas carregadas de sombra provam que ele é um dos grandes expoentes do quadrinho europeu da atualidade. As expressões que ele consegue desenhar são incríveis e carregadas de emoção. É facilmente perceptível o sentimento de cada personagem em um simples quadro que ele desenha. Os prédios, perspectivas, automóveis… tudo é muito bem desenhado.
Repare nos detalhes que Chabouté coloca na arquitetura. Tudo muito lindo!
Lançado aqui no Brasil pela editora Pipoca e Nanquim, Yellow Cab possui 172 páginas impressas em papel offset de alta gramatura, capa dura com reserva de verniz no título e lombada arredondada. Vale lembrar que o quadrinho feito por Chabouté é uma adaptação do livro homônimo, do próprio Cohen.
Não é o melhor quadrinho do Chabouté, mas só por ser dele, já merece lugar na minha prateleira.
Não deixe de conferir também nossa review de Henri Désiré Landru de Chabouté.

Avaliação: Bom!
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Assista a essa resenha no Review Express:
Créditos:
Texto: Kim Martins
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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