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Prisioneiro dos Sonhos: A Origem de Marc-Antoine Mathieu – O Ultimato

Em 3 de Jul de 2023 3 minutos de leitura
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Conheça o quadrinho que trabalha de forma única a materialidade do livro-objeto em Prisioneiro dos Sonhos: A Origem de Marc-Antoine Mathieu

Julius Corentin Acquefacques, prisioneiro dos sonhos é uma série do quadrinista francês Marc-Antoine Mathieu. Até o momento, originalmente, ela conta com sete volumes publicados durante 20 anos, entre 1990 e 2020. O primeiro é A Origem (1990), que em 2022 saiu junto do terceiro, O Processo (1993), pela editora Comix Zone.

A série pode ser lida em qualquer ordem, com histórias fechadas em cada livro. A Origem tem capa dura e 43 páginas (28,5 x 20,5 cm). Em 1991, a obra recebeu o Prêmio Revelação do Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, entre outros reconhecimentos. A mesma editora publicou Deus em Pessoa (2021) de Mathieu no Brasil

Qual a trama de Prisioneiro dos Sonhos: A Origem de Marc-Antoine Mathieu

Acquefacques é o protagonista da série. Um funcionário do Ministério do Humor que mora no bairro Norte, numa mini quitinete em que precisa se virar de lado para sair pela porta, estreita. A cidade é superpopulosa, com ruas e repartições públicas semelhantes ao horário de pico de qualquer estação urbana de metrô.

No trabalho, cabe a Acquefacques “atualizar o grande glossário de piadas e disparates.” Um dia, em seu escritório, no meio do jornal impresso, recebe uma carta “confidencial”, cujo teor é a página 4 do próprio quadrinho que temos em mãos (A Origem, de Marc-Antoine Mathieu). Ou seja, um recorte da vida do personagem.

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A arte de Mathieu é em P&B de alto contraste, nos levando por uma cidade superpopulosa e surreal

Parece confuso, mas é justamente a partir dessa brincadeira entre personagem, história e o quadrinho-objeto que Mathieu desenvolve o enredo. No decorrer da trama, Acquefacques vai recebendo mais algumas páginas da HQ – do passado, do presente e do futuro –. Nós acompanhamos a investigação dele para descobrir o que significa aquilo e quem está mandando as cartas.

Vale a pena ler?

O estilo kafkiano é destacado na série de Marc-Antoine Mathieu. A Origem apresenta temas recorrentes nas obras de Franz Kafka (1883-1924), como a alienação, o existencialismo e a relação homem vs. burocracia. Tudo com bastante surrealismo.

As forças incompreensíveis da lei ou, mais especificamente, das regras que delineiam o mundo do personagem, são centrais na busca de Acquefacques. Afinal, quem tem acesso a todas as páginas do quadrinho? Essa pessoa ou ser teria domínio sobre a vida do protagonista?

É necessário dizer que o ambiente é parte fundamental da narrativa, uma vez que nos ajuda a entrar nesse clima kafkiano e de crítica social. Há imensidão numérica de pessoas, grãos de areia em uma engrenagem, e de apartamentos e escritórios claustrofóbicos. Vemos a solidão e a rotina repetitiva, estéril, por que não dizer burocrática, a qual a população é relegada a viver nesse sistema.

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Acquefacques recebe uma página do quadrinho em que é protagonista. O que estará por trás disto?

Aí entramos na genialidade com que Mathieu constrói a trama, subvertendo as fronteiras do real e imaginário. Como é comum em autores que espremem ao máximo as possibilidades narrativas dos quadrinhos, um prato cheio para a semiótica.

Porém, Mathieu vai além da metalinguagem e brincadeiras gráficas à tinta. Ele trabalha as possibilidades narrativas do livro-objeto e sua materialidade – em cada volume da série de forma diferente –. Não haverá spoiler algum aqui quanto ao recurso utilizado, mas para o leitor entender do que estamos falando, basta citar obras como Smoking Mata (2018), do Kash Fyre, e Na Mente de Sherlock Holmes (2023), de Cyril Lieron e Benoit Dahan. Sempre dialogando diretamente com a trama.

No geral, o onírico é representado com traços mais ondulados, menos nítidos ou com algum efeito esfumaçado. Na contramão, a arte de Mathieu é em traço limpo, com P&B de alto contraste. Apesar dessa nitidez, caminhamos por um surrealismo – nada é normal nessa realidade – que novamente bate na divisa real/imaginário. Tem efeito simbólico.

A Origem é uma HQ criativa e com relativamente poucas páginas. O humor sarcástico e dramático está presente. A experiência com a leitura é tão impactante que nos deixa ansiosos para desbravar os outros volumes.

Gostou do texto? Leia outras matérias do David Horeglad (HQ Ano 1) para o UB!

SONHONAUTA (2022) – O ULTIMATO

SMOKING MATA (2018) – O ULTIMATO

ASTERIOS POLYP (2011) – O ULTIMATO

Avaliação: Excelente!

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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