Ultimato do Bacon

Porque quem tem mais de 40 simplesmente não suporta spoiler

Em 28 de Abr de 2019 4 minutos de leitura

A maioria das pessoas não gosta. Mas entenda porque os “tiozões” são simplesmente insuportáveis quando se trata de revelar surpresas de filmes, livros, quadrinhos e séries

por Alexandre Baptista

 

Quase ninguém gosta de saber detalhes antecipados de uma história, seja ela em filme, quadrinhos, livros ou séries. A transmissão de histórias faz parte da tradição humana, desde os tempos em que se rabiscavam nas cavernas e em que a tradição oral era o método mais fiel de reprodução de conhecimento. E desde então, muito pouca gente queria saber o final antes do desenrolar de uma narrativa.

Só que, de uns tempos pra cá, a revelação de detalhes de uma trama ou fatores cruciais de uma determinada história – que ganharam a denominação spoiler (com origem no inglês spoil – estragar, significa “estragador") – tomaram conotações de verdadeiros assassinatos de príncipes austro-húngaros; revelações de spoiler de Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame) foram motivo de verdadeiras guerras civis em cinemas de São Gonçalo, no Rio de Janeiro e em Hong Kong, onde um homem foi simplesmente linchado e espancado pelos fãs.

Um detalhe que pouca gente percebe, é que a parcela mais violenta da população em relação aos spoilers não são os “jovens baderneiros” e sim os tiozões e tiazonas…

Sim! Aqueles entre nós que já tem mais de 40 anos, os velhos (que se dizem jovens) nerds rabugentos são os maiores responsáveis pela intolerância às revelações fora de hora, aos trailers que entregam demais, às matérias de alguns sites por aí que não tomam cuidado com suas manchetes (e nem com o resultado do consumo excessivo de ovos antes de uma sessão de cinema).

E isso tem uma justificativa muito simples! Essa galera, da qual faço parte, cresceu e viveu pelo menos um terço significativo de suas vidas numa sociedade pré-informacional: não havia internet; smartphones; tv a cabo; lançamentos mundiais; redes sociais. Havia a tv aberta, que mal e mal pegava “chuviscado” com bons pedaços de Bombril nas antenas. Sorte pra quem morava em “prédio”, que tinha a antena coletiva lá em cima, garantindo uma boa recepção (que ainda assim, era um lixo). Não tinha TV Digital. Não existia nem a MTv ainda!

O programa da rede Globo, o Fantástico, era o melhor lugar para se conferir os clipes de Paul McCartney, Michael Jackson e Madonna. Trailer de filmes? Só quando você ia ao cinema! Não tinha essa de YouTube, “gif de zap”…

Fora que os filmes chegavam ao Brasil anos depois. Nas grandes capitais como Rio de Janeiro e São Paulo. Outras capitais e cidades do interior, mesmo as grandes, esperavam muito mais. Isso porque não existia um download do arquivo do filme. As salas de cinema recebiam algumas cópias físicas (rolos de filme mesmo) e existia uma quantidade dessas cópias, limitadas.

Grandes lançamentos como Superman, O Filme (Superman, The Movie, 1978), tinham mais cópias, o que aumentava o custo de distribuição dos filmes, mas garantia que eles chegassem mais rápido ao público brasileiro… Uns dois ou quatro anos depois da estreia nos EUA. Filmes menores como Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio (The Evil Dead, 1981), chegavam a levar cinco ou seis anos para estrear por aqui.

E enquanto isso, os espectadores não sabiam nada sobre o filme. Alguma coluna de algum crítico nos jornais falava alguma coisa… Mas ninguém tinha acesso a grandes detalhes da trama, fotos dos atores, detalhes da produção, trailers… nada.
 

Até mesmo nos EUA essa realidade proporcionou que um golpista se passasse pelo diretor Stanley Kubrick (mesmo não se parecendo em nada com ele). Essa história é contada no divertido Totalmente Kubrick (Colour Me Kubrick, 2005) com John Malkovich no papel principal.

A grande saída para saber mais sobre alguma produção eram as conversas: “cara, vi um filme esses dias que tinha um robô que vinha do futuro pra matar um menino… era não-sei-o-que do futuro, com o Schwarzenegger”.

Na locadora, procura, procura, procura e encontra O Vingador do Futuro (Total Recall, 1990). “Rapaz, fui atrás do filme que você falou mas era outro. Bom também, mas o cara era um espião em Marte e…”

As trocas eram saudáveis porque, apesar de talvez até conterem alguns pequenos spoilers da trama, passavam pelo filtro de percepção do espectador. Cada um tem o seu, cada um frui a arte, de maneira geral, de acordo com seu próprio repertório.

O spoiler, hoje, é diferente do comentário revelador de ontem. Hoje somos bombardeados com fotos da produção desde a assinatura do contrato entre o estúdio e os atores; ficamos sabendo intenções do roteiro desde a concepção do mesmo… O filme (quadrinho, livro, série) está praticamente construído em nosso subconsciente antes mesmo de existir – ainda mais se em torno dele a campanha de marketing estiver galopante, construindo o chamado hype. O que transforma qualquer pequena imagem ou comentário em um spoiler gigantesco.

Ninguém gosta de spoilers e hoje em dia, qualquer coisa é potencialmente um. Mas pra quem passava anos esperando um lançamento, passava meses tentando encontra-lo em locadoras que nem sempre tinham o que se procurava, passava dias desenhando seus próprios pôsteres de personagens queridos, a situação é ainda mais inaceitável. Simplesmente porque ela representa o mal uso e o desperdício de uma das maiores ferramentas que a humanidade já criou.

Não seja um babaca. Não divulgue spoilers.

 

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