Ultimato do Bacon

O Clube dos Canibais – O Ultimato

Em 2 de Out de 2019 4 minutos de leitura
O Clube dos Canibais
Ano: 2018 Distribuição: Olhar Distribuição
Estreia: 13 de junho de 2019 (Brasil)

Direção: Guto Parente

Roteiro: Guto Parente

Duração: 81 Minutos  

Elenco: Tavinho Teixeira, Ana Luiza Rios, Pedro Domingues

Sinopse: Otavio e Gilda são da elite brasileira e membros do Clube dos Canibais. Os dois têm como hábito, comer seus funcionários. Quando Gilda acidentalmente descobre um segredo de Borges, um poderoso congressista e líder do Clube, ela acaba colocando sua vida e a de seu marido em perigo.

 

 

[tabby title=”Alexandre Baptista”]

Bastante banal e reproduzindo velhos vícios do cinema brasileiro, O Clube dos Canibais decepciona

Longa de Guto Parente, que já teve estreia internacional em 2018, fica no comum e previsível apesar da excelente premissa

por Alexandre Baptista

 

Quem me conhece pessoalmente sabe que há pouco mais de um ano sofri um infarto em função do estresse causado pelo trabalho; mais especificamente, uma pessoa que se julgava – ainda deve se julgar, eu é que não tenho mais contato – acima de outras pessoas.

Por esse motivo me era bastante interessante a premissa de O Clube dos Canibais de Guto Parente, longa em que a trama gira em torno de pessoas da alta sociedade que canibalizam seus funcionários, obviamente advindos das classes mais baixas da população.

 A metáfora a respeito do assédio, do abuso pessoal e do controle que muitos patrões exercem sobre a vida de seus empregados, é óbvia. Drenam a vida desses seres que vieram ao mundo apenas e tão somente para servi-los, num canibalismo alegórico pronto a ser explorado por um bom filme de terror. Afinal, os bons filmes de terror, ainda que sirvam ao trash em sua execução, são volta e meia apenas plataforma para excelentes discursos sociais.

Embora o longa não acene, agradeça ou mencione nenhuma das outras fontes de histórias similares em seus créditos, a ótima premissa, não é original: foi inspirada pelo caso real da Rua do Arvoredo, ocorrido em 1863 em Porto Alegre; mas também está presente no excelente livro de Júlio Emílio Braz, As Horripilantes Narrativas Alimentares do Clube Canibal; e ainda, de forma mais distante, em Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco de Fleet Street (Sweeney Todd – The Demon Barber of Fleet Street, 1846) de Thomas Peckett Prest, que inspirou o filme homônimo de Tim Burton de 2007 e provavelmente inspirou todo o resto, incluindo os crimes reais. Fato é que o canibalismo sempre foi um excelente mote para histórias de suspense, terror e possíveis metáforas.

No entanto, o diretor desliza na execução de um longa que estava “fácil demais”. Ainda que seja extremamente hilário e satisfatório o arco do Deputado Borges (Pedro Domingues), principalmente em seu discurso extasiante sobre a família, moral e bons costumes – logo após um jantar de carne humana e uma noite antes de ser pego em intercurso sexual com o caseiro de Otavio (Tavinho Teixeira) e Gilda (Ana Luiza Rios) – o longa se prende a velhas manias e vícios do cinema nacional que são absurdamente desnecessárias para a narrativa.

Sim, o diretor pediu desculpas pelos momentos indigestos do filme antes da exibição realizada no maravilhoso Cine Passeio em Curitiba, ao passo que Tavinho Teixeira, visivelmente alterado, dançou para o público, balbuciou coisas sem sentido, desculpou-se e saiu; infelizmente, o que tornou o filme um tanto indigesto não foi o discurso, bastante necessário para a reflexão; nem o gore, o splat ou o slash – aliás, fizeram falta inclusive, tãos escassos foram; a indigestão ficou por conta da banalidade das cenas de sexo e pela gratuidade de alguns diálogos, ambos sem grande relevância narrativa. Isso sem mencionar personagens sem qualquer tipo de desenvolvimento que mal preenchem o espaço em tela.

Infelizmente, o melhor personagem ficou com uma execução bastante sofrida por Pedro Domingues – a exceção de seu discurso; Tavinho Teixeira e Ana Luiza Rios seguram bem o filme, mas ainda assim não o suficiente para merecer a ida ao cinema.

A excelente trilha sonora de Fernando Catatau, com inspirações no jazz e na MPB, se perde em meio a peitos, pintos e bundas e um desenrolar lento e sofrível da narrativa que faz com que o filme pareça ter duas horas a mais do que realmente tem.

E, antes que alguém reclame, não sou nem um pouco puritano; acho justificável a nudez e o sexo em Midsommar – O Mal Não Espera a Noite (Midsommar, 2019), por exemplo; mas acho incrível mesmo a cena de estupro realizada por Fernando Meirelles e Kátia Lund em Cidade de Deus (2002) que, sem mostrar nada, consegue ser claustrofóbica e angustiante.

(In)felizmente, sou uma cria do Modernismo e a máxima de Sullivan de que “a forma segue a função” está profundamente arraigada em mim e, ainda que eu aceite hoje em dia certos adereços e anexos não funcionais em qualquer produção que seja, esses exageros e essa falta de cuidado com o texto por parte de Guto Parente me incomodam absurdamente.

Por fim, para que ninguém me acuse de não valorizar a produção nacional, se você tiver realmente interesse nesse tipo de premissa, fica a recomendação do livro As Horripilantes Narrativas Alimentares do Clube Canibal, de Júlio Emílio Braz, em que o tema é explorado de uma maneira mais aterradora, mais envolvente e menos viciada.

 

 

 

Avaliação: Ruim

 

 

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Trailer

 

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