A HQ francesa de 2014 é uma verdadeira viagem que nos leva em um passeio que vai desde as frias prisões soviéticas até as ruas de Nova Iorque. Little Tulip de Jerome Charyn e François Boucq conta a história de Pavel, um imigrante russo que é tatuador e colabora com a polícia por conta de suas incríveis habilidades artísticas – ótimas para retratos falados e afins.
A narrativa, que se desenrola em 88 páginas, mostra o passado de Pavel ao mesmo tempo que mostra a cidade de Nova Iorque sendo ameaçada por um serial killer conhecido como “Mau Velinho”. Little Tulip de Jerome Charyn e François Boucq chegou ao Brasil em 2021 em uma bela edição capa dura pela Editora Comic Zone.
Dica para o leitor: Se você é fã da temática de assassinos seriais, vale conferir também a HQ Maníaco de Nova York de Elliott Kalan e Andrea Mutti
O jovem Pavel sofre em uma prisão soviética na HQ Little Tulip de Jerome Charyn e François Boucq
A Trama da HQ Little Tulip de Jerome Charyn e François Boucq
A obra de Jerome Charyn e François Boucq é aquele tipo de narrativa que se divide – de forma bem clara – em dois momentos: passado e presente do protagonista Pavel. O fascinante é que o passado e o presente se entrelaçam de forma perfeita e quanto mais lemos mais entendemos o protagonista e sua forma de agir. Importante dizer também que o final é surpreendente e vai por um caminho difícil de ser concebido pelo leitor – o que é ótimo.
Pavel é um tatuador russo extremamente talentoso que mora em Nova Iorque. A habilidade do protagonista é tanta que ele contribui frequentemente com a polícia em retratos falados e afins – e o momento atual é de tensão. Um serial killer conhecido como “Mau Velhinho” está matando jovens moças e cometendo crimes sexuais. Seu apelido “diferente” vem de sua assinatura: um gorro de papai noel deixado nos locais de crime.
Pavel vira o tatuador oficial de um chefão do crime na HQ Little Tulip de Jerome Charyn e François Boucq
Enquanto o presente é marcado pela tensão que um serial killer gera, o passado é um verdadeiro inferno. A história de Pavel e sua família está ligada a uma prisão soviética, um gulag siberiano, onde ele aprendeu mais sobre o ofício de tatuar e se tornou o homem que é hoje. Esse passado é recheado de cenas marcantes e de violência e a frieza que o personagem demonstra em certas passagens é totalmente justificada pelos seus traumas.
Além do protagonista marcante, Little Tulip traz também uma cultura muito rica que gira ao redor de desenhos, tatuagens e afins.
Essa celebração da arte se torna, em dados momentos, até mística e ser um tatuador em um gulag é uma responsabilidade séria que pode levar um jovem à morte ou aos holofotes.
O ritmo narrativo que Jerome Charyn e François Boucq impõem na obra é ágil e a sensação é de que lemos mais do que 88 páginas por conta da quantidade de informações que são passadas. Tudo muito bem feito de forma que é praticamente impossível parar a leitura antes de seu surpreendente final.
O jovem Pavel é espancado por guardas em Little Tulip de Jerome Charyn e François Boucq
O passado de Pavel é fascinante e é inegável que esse relato é o que torna a obra especial. Apesar do serial killer, a trama que se passa em Nova Iorque é mais morna (difícil comparar com a brutalidade de uma prisão soviética..) e por isso mesmo é uma grata surpresa quando vemos passado e presente se misturando em um final que cresce o tom e escala os acontecimentos.
A sensação que temos é que a temperatura “morna” do relato do presente é proposital para gerar contraste com o passado e é no encontro dos dois ”tempos” que o ritmo muda e tudo fica mais assustador e violento. Simplesmente sensacional!
Little Tulip de Jerome Charyn e François Boucq é uma HQ francesa diferenciada que traz um protagonista que é capaz de nos gerar sentimentos mistos no começo. As revelações do seu passado nos ajudam a criar empatia com o mesmo e isso faz total diferença na leitura. Acontecimentos interessantes, uma cultura aprofundada em seus conceitos e agilidade narrativa fazem a leitura ser marcante.
Uma jornada inesperada que tem tudo para agradar os leitores que são fãs de histórias com profundidade emocional, ação e muitas reviravoltas. Impecável.
Avaliação: Excelente!
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Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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