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Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil – O Ultimato

Em 7 de Set de 2023 5 minutos de leitura
Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil (5)

Prepare-se para mergulhar em uma das melhores histórias do universo criado por John Wagner e Carlos Ezquerra. Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil é uma história visceral que debate o regime de Mega City Um e a própria necessidade dos juízes.

Nosso costumeiro protagonista é tratado como vilão/antagonista em boa parte da trama e vemos a vida nessa conturbada cidade sob a ótica do cidadão comum de uma forma que nunca havíamos visto antes.

 Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil foi originalmente lançado no começo dos anos 90 como parte da nova revista Juiz Dredd Megazine (que tinha a proposta de trazer uma visão mais profunda e adulta desse universo).

A icônica história chegou ao Brasil pela primeira vez em 2016 em um encadernado capa dura da Mythos Editora e retornou novamente em 2021 em “Juiz Dredd Essencial” #2 – também da Mythos.

O curioso é que essas duas publicações nacionais trazem além da história principal outros complementos – e eles são diferentes em cada uma das publicações. Se você ficar muito impressionado com a trama vale adquirir as duas!

Se você quiser tem uma experiência mais simples e direcionada acredito que a edição de 2016 é a melhor pedida já que ela foca em trazer apenas as tramas que são continuações diretas da trama original de 1990 (boas mas sem o brilhantismo e o simbolismo de sua antecessora).

Dica para o leitor: Quer conhecer mais o passado de Dredd? Confira nosso review da HQ Juiz Dredd Origens de John Wagner

Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil (4)

Os juízes não são bem vistos na HQ Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil

A trama da HQ  Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil

Prepare-se para mergulhar em uma HQ cheia de simbolismos e reflexões profundas. John Wagner ousa ao tratar sua grande criação e protagonista como um antagonista nessa HQ que mostra a vida sob a ótica de um cidadão comum. Bennett Benny cresceu em Mega City Um ao lado de sua amiga América. A amizade dos dois cresce junto com eles e Benny acaba se apaixonando pela melhor amiga – para seu desgosto sua companheira não se sente da mesma forma.

Decepções amorosas à parte, eles crescem próximos mas o efeito que o ambiente de Mega City Um tem neles é diferente. América desenvolve um profundo desgosto e repulsa pelos juízes e pelo regime vigente enquanto Benny acredita que é preciso obedecer e entender o sistema para, só assim, prosperar. Os anos passam e o antes inseparável casal de amigos acaba se distanciando por conta de circunstâncias da vida – o período de faculdade é o catalisador inicial mas logo fica claro que ele não é o único elemento que explica esses rumos distintos.

Benny prospera e se torna um cantor de sucesso e conquista uma fortuna considerável. América acaba seguindo outros caminhos mais revolucionários. A jovem começa se envolvendo com democratas e anos depois descobrimos que ela se envolveu com uma célula criminosa chamada Guerra Total. É a partir desse ponto que a reflexiva trama ganha contornos mais dramáticos.

Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil (3)

América é uma personagem reflexiva e sonhadora que busca uma liberdade que o regime dos juízes não é capaz de dar

Até o ponto do reencontro de América e Benny, vemos uma história sobre o cotidiano de pessoas que enxergam o regime vigente de formas totalmente diferentes. Não é que Benny não enxergue os problemas, ele só não os entende com a mesma gravidade que sua amiga – e vemos depois (em especial nas continuações presentes na edição nacional de 2016) que ele prefere outro tipo de abordagem visando a resolução dessas questões.

O lado revolucionário/terrorista de América acaba envolvendo Benny – quase que sem querer e praticamente destrói a vida do rapaz. Nesse ponto Juiz Dredd entra na história como o representante dos juízes que quer destruir a célula criminosa da qual América faz parte.

A partir desse ponto é difícil falar sem spoilers, o que posso dizer é que a HQ impressiona pela sua capacidade de trazer um debate relevante e equilibrado que é cheio de simbolismos: os desejos de América não são demonizados e o Juiz Dredd e o regime ao qual serve também são vistos de forma relativa.

É como se o autor estivesse expondo os pontos positivos e negativos de cada visão e Benny estivesse preso no meio delas. Vemos o personagem se perguntar “o que é o certo?” e descobrir que essa resposta pode não ser tão simples assim.. Apesar de estar recheada de ação (em especial no seu final), a trama de Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil conquista não por isso e sim pelo debate filosófico que traz e que envolve temas como liberdade, ordem, pensamento de massa e outras questões relevantes.

Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil (3)

A filha de América se torna uma cadete em uma das continuações da obra de John Wagner e Colin Macneil

A trama original poderia ter se fechado ali mas John Wagner gerou duas continuações diretas da obra: “O Desvanecer da Luz” e “Cadete”. Não vou me aprofundar nelas para não dar grandes spoilers da primeira história, mas podemos dizer que em “O Desvanecer da Luz” vemos o destino de Bennett Benny e como ele lida com os eventos do passado e em “Cadete” vemos o destino da filha de América.

As continuações passam longe de serem ruins mas não possuem o brilho nem a capacidade de gerar reflexão da trama original. Eles conseguem manter um ritmo e uma narrativa interessante que mantém Dredd no papel de antagonista, mas o simbolismo característico da trama original é totalmente perdido – e pessoalmente acho que é isso que tira um pouco o brilho dessas duas obras.

Crianças enxergam juízes como monstros aterrorizantes na HQ Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil

Juiz Dredd América de John Wagner e Colin Macneil é uma obra impressionante pelo incrível e profundo roteiro que traz. A arte de Colin Macneil acompanha bem esse roteiro e dá um ar épico ao seu desenvolvimento. A narrativa é fluída e capaz de nos fazer refletir do começo ao fim. Os personagens são bem desenvolvidos e sua ótica de todos os eventos é muito explorada – o que só torna a leitura mais interessante. 

O maniqueísmo que domina boa parte das histórias de heróis em geral não tem lugar aqui: nem Dredd, nem América e nem Benny são retratados como totalmente certos ou errados. Cada um dá luz, através de seus atos, a sua visão de mundo e cabe ao leitor se colocar (ou não!) do lado de algum deles. A realidade é que essa é uma daquelas histórias que “buga” nossa mente e não sabemos para quem torcer, o que esperar e nem o que queremos da narrativa. Um nível de complexidade ímpar dentro do universo de Dredd.

Se você gosta de histórias profundas que são capazes de debates mais amplos sobre regimes, ações, políticas e soluções de mudança, essa trama vai te agradar em cheio – seja você fã de Dredd ou não. Uma leitura marcante e inesquecível!

Conheça os primórdios do Juiz Dredd no nosso review de Juiz Dredd Os Casos Completos vol.1

Avaliação: Excelente!

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Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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