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Escombros o Status de Knuckle (2012) – O Ultimato

Em 16 de Ago de 2022 4 minutos de leitura
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Conheça a HQ futurista que mistura um industrial tímido, um misterioso culto feminista e a iminência de uma invasão extraterrestre em: Escombros o Status de Knuckle.

O Canadá, embora nem sempre lembrado como polo de grandes quadrinistas, está muito bem representado na nona arte. Nomes como Jeff Lemire e David Finch dispensam apresentações. Na ponta underground, chegou recentemente ao Brasil o inusitado Camarada Mata (2022), de Patrick Sparrow.

No mesmo campo do nonsense e do absurdo, mas pulando da Guerra Fria para o futuro, encontramos Escombros: o status de Knuckle, publicada no ano 2000 pelo também canadense Dave Cooper.

Por aqui, a obra saiu em 2012 pela editora Zarabatana, P&B, 128 páginas, nos levando por uma aventura macabra com direito a conspiração feminista de tomada de poder na Terra, invasão alienígena e muita bizarrice. Para maiores de 18 anos.

Outros dois títulos compõem a trilogia, que são Suckle: The status of Basil (1997) e Ripple: a predilection for Tina (1999), vencedor do prêmio Harvey de “Melhor Nova Série”, sem traduções. Todos saíram originalmente pela lendária editora Fantagraphics.

Qual o enredo de Escombros o status de Knuckle

Em um futuro digno da famosa animação d’Os Jetson (1962-1963) – talvez mais para Futurama (1999-2003) –, cheio de máquinas e carros voadores, o retraído protagonista Knuckle trabalha numa linha de montagem de bonecas em uma fábrica monótona e repetitiva.

Ao fim do dia, após preparar um encontro com a namorada gótica, Audrey, para “se dar bem”, recebe a notícia: ela é lésbica e está terminando o relacionamento.

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O universo futurista de Escombros é incrível, lembrando Futurama

Na conversa, Audrey afirma ter sido iniciada em uma espécie de seita secreta, onde tatuou um símbolo no braço. Não pôde, porém, dar nenhum detalhe a mais. O símbolo se repete em diversas mulheres desde o início da HQ. Knuckle mal percebe e, deprimido, após conversar com a avó sobre os últimos acontecimentos, vai de encontro ao melhor amigo para espairecer.

Zev, que faz parte do sistema de auxílio-desemprego do país, acaba de receber um filme pornográfico lésbico pelo correio, enviado por um amigo produtor de Hollywood chamado Tim Bottenberger.

Ambos vivem um sentimento de frustração e rotina. Não demora a terem a “ótima” ideia de largarem Nova York e viverem a boa vida da Califórnia fazendo uma visita surpresa à Tim. Como os filmes pornográficos vêm de lá, Zev chega a inteligente conclusão de que em Hollywood “as minas fazem qualquer coisa” e o movimento feminista inexiste.

Para não ir zerado, Knuckle vende a cadeira de rodas robótica da avó e a deixa em um asilo. De surpresa, Zev rouba uma nave e os dois partem para o destino. Começa a aventura.

Chegando em Hollywood, descobrem que Tim, o produtor, na verdade é capacho de uma diretora de filmes com charuto na boca e comportamento agressivo. A tatuagem está nela.

No mercado, pouco depois, Knuckle e Zev, em meio a uma reunião feminina, veem um recém-nascido nas mãos de uma delas. O bebê, na verdade, era um pequeno monstro alienígena. “Car****, essa coisa é de verdade?! Eca”, exclama Zev. Fora do lugar, o mesmo grupo de damas espanca os dois garotos em uma praça.

Com a descoberta sobre Tim, os amigos desmiolados passarão a ter dois objetivos na cidade: se divertir com mulheres e descobrir o que está por traz da seita feminista que anda dominando o mundo com extremismo e violência. Sempre das formas mais malucas possíveis.

Serão os homens dizimados? Qual o papel dos extraterrestres nisso tudo? Será que a vida na Terra sobreviverá? Ou melhor, como?

Vale a pena ler?

Escombros o status de Knuckle funciona muito bem enquanto leitura nonsense e de humor ácido. Tem um ritmo rápido e divertido, elementos sci-fi e um universo otimamente criado.

Mas a HQ também permite interpretações diversas, inclusive com boas reflexões. E não necessariamente a de que o autor tem problemas com o sexo oposto. Pelo contrário!

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Knuckle e Zev tem as mais variadas ideias para investigar o misterioso culto feminista

Em determinado momento, uma personagem, ao ser questionada sobre o futuro escabroso anunciado pela seita feminista, responde que “não seria muito pior do que nós temos hoje.”

Oras, se invertermos os gêneros na história, pode ser que cheguemos à conclusão de que muitas das coisas praticadas por mulheres no quadrinho já foram feitas por homens na chamada sociedade patriarcal em que vivemos.

A bem da verdade, não é necessário fazer sequer essa inversão. A própria dupla de amigos, Knuckle e Zev, embora carismática, apresenta uma visão de mundo egocêntrica e machista, vendo o sexo oposto exclusivamente como objeto – até a avó de Knuckle é descartada sem cerimônia! –. Nitidamente, ambos são amplamente atravessados pela indústria cultural e suas produções pornográficas.

Outra reflexão é que um ideal nobre sempre pode se desvirtuar para algo negativo ou chauvinista. Seria quando, ao invés da busca pela equidade, surge a luta pela inversão dos agentes privilegiados. No caso específico do quadrinho, conforme vemos, o feminismo virou femismo.

Nesse sentido, parece que Cooper tem um olhar desesperançoso para o presente e para o futuro, mas brinca com isso e ironiza comportamentos extremos de gênero. A arte é um dos grandes destaques na HQ. Autoral, consegue misturar traços limpos e lúdicos a contornos grotescos. Knuckle tem uma cabeça quadrada gigante e é dos menos piores.

Os ambientes chamam a atenção. Como bom representante do underground, Cooper é habilidoso em mostrar uma cidade, mesmo que futurista, cheia de deterioração e personagens urbanos repugnantes. Em resumo, Escombros: o status de Knuckle é um sci-fi tragicômico muito criativo e diferente do que temos por aí.

Avaliação: Excelente!

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UB E Escombros o Status de Knuckle capa


Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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