Conheça o drama que se tornou uma das maiores declarações de amor ao surfe no quadrinho Em Ondas
AJ Dungo é um surfista e ilustrador formado pelo Artcenter College Of Design de Pasadena, Califórnia. Durante o curso, criou um projeto sobre Tom Blake (1902-1994), responsável por transformar o surfe de um esporte regional havaiano em uma pratica nacional.
O trabalho foi expandido e se tornou o quadrinho Em Ondas (2021), publicado originalmente em 2019. No Brasil, saiu pela editora Nemo em 376 páginas. A obra venceu o Alex Award (YALSA) 2020, da American Library Association, o prêmio FNAC France Inter 2020 e o prêmio da Associação de Livreiros do Quebec 2020.
Qual a trama de Em Ondas
Em ondas é – ou se transformou em – uma autobiografia de AJ Dungo. Mais especificamente, do relacionamento dele com Kristen e com as ondas, o que não pode ser desconectado. Os acontecimentos não são apresentados em ordem cronológica, mas de forma a irmos adentrando na personalidade e nas vivências de ambos de um jeito singular e sensível.
AJ Dungo e Kristen foram parceiros por oito anos, até a morte dela, de câncer. Na HQ vemos como eles se conheceram, a descoberta da doença, o convívio com a notícia e com as dificuldades impostas, a relação familiar e, principalmente, como encontraram refúgio no surfe, mesmo quando ela só tinha forças para ser observadora.
Tom Blake e Duke: a história das duas lendas do surfe é contada na HQ
Mas a história de AJ Dungo é intercalada com a história do surfe. O primeiro capítulo de Em Ondas mostra, de forma breve, como surgiu a prática entre os polinésios e o impacto da colonização ocidental. Frente aos esforços dos missionários, da industrialização e as novas doenças, o surfe acabou sendo para os havaianos uma fuga da interferência norte-americana e um resgate da cultura local.
No início do século XX, surgem os Beach Boys, que viviam de apresentar a ilha para os turistas, cada vez em maior número. É desse contexto que surge a maior lenda do surfe: Duke Kahanamoku (1890-1968). A habilidade dele com a água era tamanha que foi convocado para representar os EUA nas Olimpíadas. Ganhou três medalhas de ouro e duas de prata na natação entre 1912 e 1924.
Um pouco mais a frente, somos levados a história de Tom Blake, que nasceu em Milwaukee, Wisconsin, na região nordeste e fria do país, cruzou o continente, fez amizade com Duke e modernizou as pranchas de surfe. Podemos dizer que Em Ondas é, também, a biografia de Tom Blake e Duke.
O drama de AJ Dungo e Kristen ajuda a mostrar a força do surfe, sempre na cor azul
Vale a pena ler?
Em Ondas passa sensações conflitantes. É um drama. Em parte, pesado e introspectivo. Mas a arte é leve, fluida, com poucos escritos. Talvez esse seja o maior mérito de AJ Dungo. Com os desenhos, ele passa uma sensação agradável em meio a um roteiro triste que traduz um pouco do que foi o mar e o surfe para ele e sua amada: um elo de amor e escape, um refúgio em uma turbulência.
O quadrinho cresce pelos recursos utilizados. AJ Dungo usa tons de azul para colorir sua história com Kristen, em desenhos de traços arredondados, conforme as ondas. As mesmas linhas falam do passado, de Duke e Blake, mas em tons sépia, que nos lembram fotos antigas.
DJ Dungo acabou criando uma HQ que, ao fim, é uma homenagem e uma declaração de amor ao surfe, sem deixar de sê-lo para Kristen. As quase 400 páginas passam rápido e mesmo quem não é surfista – como este redator – pode sentir um pouco do poder que a prática tem.
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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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