O filme é uma linda adaptação da história de “A Bela e a Fera” como eu não tinha visto antes. É gostoso poder se surpreender na renovação de uma fábula que já foi contada tantas vezes e de tantas maneiras. A mistura feita nesse filme é algo especial.
Uma mistura entre um universo virtual remetendo a Matrix, com um toque do mundo dos games com a tranquilidade e relatos da vida mundana da Ghibli. O mundano é o mais tocante na abordagem da animação porque acabam revelando verdades sobre algo que não entendemos no nosso dia a dia. Não trago o estúdio Ghibli à toa pois não só considero Ghibli o melhor estúdio de animação da história assim como esse é um grande filme. Nessa mistura toda como mágica eles fazem funcionar a jornada de crescimento e conexão de suas personagens.
A nova obra do diretor Mamoru Hosoda, que já tem uma carreira extensa no cinema, é uma onde nunca perdemos o foco na jornada emocional da protagonista Suzu. Ela é uma adolescente que ainda lida com o luto de ter perdido sua mãe quando era criança.
Vemos sua relação com seu pai, seus amigos e com o mundo a sua volta. Na sua vida durante o colégio ela começa a passar tempo em um universo virtual chamado “U”.
Nesse mundo virtual a essência da pessoa é manifestada de maneira lúdica e pura. Quem você é de verdade se manifesta na realidade lúdica. Isso acaba revelando muito sobre as personagens e traz também gags visuais inesperadas. Suzu se torna Belle nesse universo. Belle se expressa através da música e acaba se tornando uma diva popstar. Nessa fama ela acaba se envolvendo em um conflito com os protetores do universo digital com uma certa besta. Não posso dizer mais para não estragar muitas surpresas que acontecem ao longo do filme.
A história toda se divide muito bem entre o mundo real e virtual, não pecando na importância em nenhum dos dois. Um complementa ao outro. O que acontece com Suzu no mundo real tem tanta importância quanto o que acontece com Belle em “U”. Os mundos são divididos mas não a história.
As relações na narrativa evoluem sem precisar serem explicitas em suas dinâmicas e transformações. Entendemos com poucas trocas de palavras e pequenos gestos tudo que precisa ser dito. O filme é muito belo em suas sutilezas. Todos os personagens secundários são carismáticos e gentis. É um mundo empático o do filme, não temos necessariamente um vilão. Há uma personagem que serve esse papel mas acaba sendo deixada de lado.
O vilão acaba sendo os problemas da vida real, dentre suas personagens e relações. Nas grandes animações seja da Disney/Pixar ou mais ainda no universo Ghibli, vemos uma falta de vilões. Não há terríveis monstros ou grandes antagonistas. Os vilões nesses filmes são problemas psicológicos, dores emocionais ou obstáculos na trajetória da alma de suas personagens.
Essa é uma mudança muito bem-vinda para o mundo Disney nos últimos anos considerando que a vida nem sempre carrega grandes antagonistas que tentam destruir nossas vidas. Dragões ferozes não são tão críveis quanto depressões na vida de quem amamos.
Ainda assim as sequencias de ação também são outro espetáculo. O dinamismo dessas cenas é incrível e traz o melhor dentre o mundo da animação. A trilha sonora do filme é um dos grandes destaques. O grande tema do filme é um motif que te carrega saindo do filme. A música é usada para encapsular arcos dramáticos, momentos chaves do filme assim como desenvolvimentos de personagem.
O mundo é construído de maneira detalhista e fantástica. Tem um certo hiper realismo no mundo real durante o filme. Dentro de “U” é uma mistura entre um universo digital, k-pop com traços medievais às vezes. É incrível. Tem certas obras que trazem um conforto/cura pra alma, acho que essa é uma delas. É maravilhoso o poder da animação não só ao representar o fantástico mas ao encontrar o fantástico no mais casual, no mais mundano.
As vezes os momentos mais fortes no universo Ghibli são só pessoas vivendo suas vidas sem nada sobrenatural e mágico acontecendo. No caso de Belle temos os dois, o fantástico é mágico assim como há mágica na realidade.
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Avaliação: Excelente!.
Créditos:
Texto: André Ramos
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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