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10 anos de Graphic MSP – Entrevista com Sidney Gusman

Em 2 de Mai de 2022 7 minutos de leitura
Entrevista com Sidney Gusman

Em 2022, o selo Graphic MSP comemora 10 anos de existência, com mais de trinta e uma obras publicadas e sem contar os seis títulos que viram este ano e a versão integral da série Astronauta.

Para deixar registrado, fizemos uma entrevista com o editor e criador do selo, Sidney Gusman, que você confere abaixo:

UB: Sabemos que você já contou diversas vezes como foi o surgimento do selo, afinal já são dez anos de estrada. Mas para aquele novo leitor, que começou recentemente sua coleção ou que possa querer dar início a partir dessa conversa, como foi à criação dessa nova linha de publicações da Turminha?

Sidney Gusman: Para falar do surgimento do selo, eu devo voltar ao embrião desse projeto. Em 2009, foi lançado o MSP50 (O Mauricio de Sousa por 50 artistas), onde eu chamei 50 autores do Brasil inteiro para trabalhar histórias dos personagens do Mauricio, de uma a cinco páginas no estilo deles.

Foi um sucesso enorme, tendo duas continuações, o MSP+50 (2010) e Novos50 (2011) e ali eu vi que tinha um caminho muito interessante para seguir. Quando estava no segundo (MSP+50), surgiu à ideia das Graphics (MSP) e comecei a costurar essa ideia. Em 2011 saiu o terceiro volume, MSP Novos50, em 2012 saiu o Ouro da Casa (um MSP50, porém com autores da Mauricio de Sousa Produções) e nesse mesmo ano, sai à primeira Graphic, Astronauta: Magnetar.

Esse foi o início, primeiro eu testei o mercado, pavimentei e vi que “opa, aqui tem espaço para o leitor jovem adulto, com os personagens do Mauricio, basta que a gente saiba fazer essas releituras”. Foi quando saiu a primeira e que agora faremos 10 anos de selo em outubro de 2022.

UB: Piteco já recebeu duas versões dentro do selo, assim como Chico Bento. Qual o termômetro para essa ação de continuidade, porém com novos traços?

Sidney Gusman: Não existe um termômetro, primeiro que algumas informações são sigilosas, dizem respeito ao autor e a MSP, mas o Shiko (Piteco: Ingá) fala: “o Piteco que eu queria fazer, ia extrapolar as regras que existem para produção das histórias”, ele queria investir mais na carreira dele e o Gustavo (Duarte), ao mesmo tempo, ele emplacou em uma carreira internacional com a DC e Marvel, assim ele seguiu seu rumo e como era em uma linha mais de humor, resolvemos recomeçar com outro autor. Isso pode acontecer com qualquer um e qualquer outro personagem.

10 anos de Graphic MSP – Entrevista com Sidney Gusman


10 anos de Graphic MSP – Entrevista com Sidney Gusman

UB: Algo que faz parte do universo dos quadrinhos, para todo colecionador, é o tão cobiçado autógrafo. Esse simples gesto traz uma enorme alegria ao detentor da edição, mas autografar não é mais exclusividade dos autores, queria entender como foi a primeira vez que você assinou uma edição do selo e a sensação de ser reconhecido como peça importante do xadrez que é montar uma publicação?

Sidney Gusman: Então, isso é meio uma loucura. Por exemplo, quando foi do MSP 50 eu até entendi que um ou outro ‘cara’ iria me pedir um autógrafo, já que eu selecionei os ‘caras’ e eu sou uma figura mais ou menos conhecida no mercado de quadrinhos. Agora quando é lançado o selo (Graphic MSP), é um negócio maluco, nós fomos ao Fest Comix de 2012, vendeu muito e eu estava com o Beyruth (escritor da série Astronauta) quando um rapaz me estende a revista e fala: “você pode autografar para mim?”… e eu falei: “mas eu só sou o editor” e ele respondeu: “mas foi você que criou o selo”.

Eu nunca vou negar um autógrafo para alguém, jamais e isso se tornou cada vez mais comum, as pessoas gostam de ter o meu autógrafo, uma loucura isso. Eu autografo muitas e é meio maluco, porque eu sou só o editor, mas sou um que divulga, eu sou a ‘cara’ do selo. Todos sabem que eu o criei com a anuência do Mauricio, é claro, mas sabem que eu tive a ideia, que escolho os autores e tudo isso.

Então a sensação é de gratidão, especialmente de reconhecimento. Hoje, muitas pessoas sabem o que um editor de quadrinhos faz, ou imagina pelo menos. Então esse reconhecimento é muito bacana, legal que mais pessoas do mercado se interessem pela função do editor. Que outros profissionais do mercado ‘pesquem’ novos talentos no mercado para publicarem em suas editoras, então fico muito feliz por esse reconhecimento.

UB: Ouro da Casa, a trilogia MSP 50 foram publicações pensadas para um algo maior que já se concretizou, em sua visão, ainda existem ideias a serem exploradas dentro do bairro do limoeiro?

Sidney Gusman: Não, como eu falei, a trilogia MSP 50 era para ser inicialmente uma, quando eu vi o sucesso que estava sendo a primeira, eu falei: “opa, aqui têm um caminho gigante”… conversei com o Mauricio para fazermos três, eu brinco que é porquê nerd adora trilogia. Quando eu anuncie que teria continuação, já sabia que teria a terceira, tanto que eu guardei alguns “pesos pesados”, como o Deodato, Adão Iturrusgarai, Felipe Massafera, fui separando e equilibrando os potes.

Então inicialmente não estava pensado, foi um caminho natural. Com o sucesso, vimos que dava para apostar em Graphic Novels, nisso eu rabisquei o projeto, todos gostaram da ideia, os autores que chegaram gostaram e assim vem sendo. Lógico que existem ideias para serem exploradas, se a pessoa que está editando conhece o material, conhece o público e tiver a sua disposição um acervo gigantesco de personagens e de histórias, sempre tem como você tirar ideias novas.

 É por isso que eu fico “quebrando a cabeça” atrás de coisas novas, podendo ser algo clássico como a Coleção Horácio Completo (completa em quatro volumes pela Pipoca e Nanquim), como a Biblioteca Mauricio de Sousa (em publicação pela Panini), a Mônicas ou as Graphics, sem existe espaço!

10 anos de Graphic MSP – Entrevista com Sidney Gusman


10 anos de Graphic MSP – Entrevista com Sidney Gusman

UB: Quais foram as principais mudanças positivas, na sua visão, no mercado nacional nesses 10 anos de existência do selo?

Sidney Gusman: Acho que as principais mudanças que aconteceram no mercado em dez anos de Graphic MSP. Primeiro, hoje podemos dizer que existe um publico interessado em adquirir produtos jovem-adultos, graças ao selo. Mas antes já tinha autores que faziam, sim é verdade, mas com qual tiragem? Com qual frequência? O selo já vendeu mais de meio milhão de exemplares.

O selo trouxe leitores de volta ao mercado de quadrinhos, e não falo para o Mauricio, digo para o mercado. Pessoas que liam Mauricio no passado, voltaram com Astronauta, Turma da Mônica, Bidu e Papa-Capim olharam o que foi feito com os personagens e pensaram, será que tem algo nessa linha? E descobrem que tem sim quadrinho ‘pra caramba’ nessa linha. Eu sempre faço um desafio, se você olhar alguém com uma Graphic MSP debaixo do braço, ele estará com um quadrinho independente também, porque eles descobrem inicialmente os autores das Graphics e depois vão descobrindo os outros autores e isso fomentou muitas mudanças no mercado.

Quando eu falo que o mercado está muito mais prolífero, eu tomo por base como: entre o primeiro e o terceiro MSP 50, lançados entre 2009 e 2011, uma trilogia com 150 autores, não estão Magno Costa e Marcelo Costa (Capitão Feio), Bianca Pinheiro (Mônica), Gustavo Borges (Cebolinha), Camilo Solano (Cascão), Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho (Bidu), Lu Cafaggi (turma da Mônica e Magali), Paulo Crumbim e Cris Eiko (Penadinho). Se isso não significa que o mercado se fortaleceu e mais artistas quiseram mostrar seus trabalhos, usando a vitrine Mauricio de Sousa e depois fortalecer ainda mais as suas carreiras, eu não sei o que significa. Para mim, essa é a grande ‘coisa’ trazida ao mercado, um ‘burburinho’, uma atenção, as pessoas sacaram a importância desse selo. Esse selo gerou dois filmes ‘live action’, vem por ai uma série de animação, uma ‘live action’, então acho que em dez anos, nós traçamos uma história bem bonita e vem mais por aí!

UB: Em seu curso de edição para quadrinhos, você comenta algo que parece simples, mas que pode ser esquecido pelos autores independentes e até editoras que publicam material nacional, a divulgação. Sabendo disso, quais os caminhos são boas dicas para ajudar um autor à levar seu trabalho para mais editoras?

Sidney Gusman: Tem uma máxima caipira que é o seguinte, “quando a galinha põe um ovo, ela cacareja”. Eu sei que os autores, por característica são tímidos, a maioria deles. Mas precisa fazer barulho, têm que fazer postagens, enviar para sites, influenciadores, “olha, conhece meu trabalho”.

É só assim que mais pessoas vão conhecer o teu trabalho, então assim pode falar: “mas ‘pô’ eu não sou esse ‘cara’”, mas descubra até onde você possa ir, converse com autores que fazem isso como Carlos Ruas, Gustavo Borges, Cora Ottoni. Pessoas que vendem seus produtos muito bem, então precisa ter divulgação, precisa ‘mostrar a cara’, para que os editores descubram os talentos desses e dessas artistas.

UB: Para você, existem outros expoentes do mercado nacional que merecem ter suas histórias revisitadas, reimaginados como ocorre no selo?

Sidney Gusman: Sim, existem e eu falo isso há muito anos, uma geração inteira ou mais de uma não viu Los Três Amigos, Rê Bordosa, Piratas do Tietê, não viu Glauco com o Geraldão, não viu Pererê. Então eu sempre acho que poderia ter Graphic do Ziraldo, da Laerte, do Angeli, mas vai imitar o Mauricio, não tem problema!

Não fui só eu que fiz o estilo das Graphics no mundo? Claro que não! A inspiração principal foi o projeto Spirou ‘D’, que eu vi em uma coleção portuguesa e gostei. Então assim, certamente existiria espaço para isso.

UB: Pulando para a transformação da mídia em cinema e séries, são dois filmes e uma série em produção. Tudo surgiu das páginas que você editou, mas existe algum outro tipo de adaptação (teatro, jogos) que você gostaria de ver dessas obras?

Sidney Gusman: Sobre a migração para outras mídias, evidentemente que eu adoraria ver outras, só que não me cabe falar, mas eu penso que exista espaço para muito mais.

UB – Na sua visão, o que é necessário para novos artistas conseguirem relevância no mercado?

Sidney Gusman: A primeira coisa para você ter relevância, é contar boas histórias, tanto em roteiro como no desenho, certamente as pessoas vão descobrir você, alguém vai ler e vai falar. Vou usar um exemplo, Ajuricaba, a Sâmela (Hidalgo, editora do Social Comics) me entregou, eu resenhei, muitos conheceram. Ficou entre os dez finalistas do Jabuti (Prêmio literário que possui uma categoria para quadrinhos).

Então assim, o que é necessário é contar boas histórias e fazer suas histórias chegarem às mãos das pessoas que podem te ajudar a ser o disseminador das notícias, não necessariamente comigo, pode ser com o Omelete, com o Load, Felipe Vinha. Mas fazer com que a informação circule, com que mais gente conheça seu trabalho.

UB: Gostaria de também entrevistar o Editor, para extrair algumas novidades do futuro do selo, mas como hoje temos apenas o Sidney, tenho que pensar melhor nessa pergunta. Sei que você sempre planeja seus lançamentos, acredito que o ano 2023 já esteja fechado, mas quero saber o que existe de ideias para continuar mantendo a relevância da coleção?

Sidney Gusman: Evidentemente que não falo dos próximos títulos, mas o que posso falar é que ficou mais difícil que eu consiga, por exemplo, personagens inéditos. Eu tenho muitas HQ’s que merecem continuação no selo, então eu fico numa situação, eu tenho apenas quatro por ano, apesar de excepcionalmente 2022 saírem seis.

Então assim, eu estou com 2023 e 2024 meio que desenhados, para ver o que vem pela frente. Eu fico ‘quebrando a cabeça’ para ver, cabe algum inédito? Cabe esse título? Preciso manter ‘ pratos girando’.

Conseguindo um personagem novo, melhor ainda, mas com só quatro por ano, o hiato fica cada vez maior entre uma continuação e outra. Esse que é o desafio.

E manter a relevância da coleção, é mantê-la com boas histórias e há 10 anos, modéstia parte, oferecemos isso, nos mais diferentes gêneros e estilos. Para quem gosta de super-herói, de história ‘fofinha’, uma história mais emocional irá encontrar algo assim nas Graphics MSP.

10 anos de Graphic MSP – Entrevista com Sidney Gusman

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Créditos:
Texto: Yuri Mazzetti – Racer Pod
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse

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