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Um Dia de Chuva em Nova York – O Ultimato

Em 20 de Nov de 2019 5 minutos de leitura
Um Dia de Chuva em Nova York (A Rainy Day in New York)
Ano: 2019 Distribuição: Imagem Filmes
Estreia: 21 de Novembro (Brasil)

Direção e Roteiro: Woody Allen

Duração: 94 Minutos  

Elenco: Timothée Chalamet, Elle Fanning, Jude Law, Selena Gomez, Rebecca Hall, Liev Schreiber, Diego Luna

Sinopse: Apaixonado por Nova York, Gatsby (Timothée Chalamet) decide passar um fim de semana na cidade ao lado de Ashleigh (Elle Fanning), sua namorada. No entanto, aquilo que era pra ser uma aventura romântica acaba tomando um rumo inesperado. Aspirante a jornalista, Ashleigh conhece o diretor de cinema Roland Pollard (Liev Schreiber), que a convida para a exibição de seu mais recente trabalho. Gatsby, por sua vez, encontra Chan (Selena Gomez), a irmã mais nova de sua ex-namorada, com quem passa o restante da viagem. Um dia de chuva em Nova York será o suficiente para fazer com que Ashleigh redescubra suas verdadeiras paixões e Gatsby aprenda que só se vive uma vez – mas que é o suficiente se for ao lado da pessoa certa.

 

 

[tabby title=”Alexandre Baptista”]

Um Dia de Chuva em Nova York: mais um Woody Allen para a coleção

Longa que estreia nesta quinta-feira, 21 de novembro, é para todos os efeitos, um típico filme do controverso diretor

por Alexandre Baptista

 

Woody Allen tornou-se uma figura polêmica em 1992, após acusações feitas por sua filha adotiva Dylan Farrow; de lá pra cá, o estigma esvaneceu e voltou a ganhar destaque dependendo do momento e o caso ganhou diversos contornos que não vamos descrever aqui.

Para todos os efeitos, esta crítica reconhece a questão e, num viés técnico (como quem analisa a qualidade gráfica da propaganda nazista, por exemplo), deixa o assunto para que seja discutido em um espaço mais oportuno. Vamos aqui tratar tão somente da obra cinematográfica do diretor e de seu mais recente trabalho, Um Dia de Chuva em Nova York.

Woody Allen é um dos maiores diretores da história do cinema, e um dos meus preferidos. Sua prolífica produção é bastante coesa embora não tão versátil quanto a de Stanley Kubrick, por exemplo, mas sempre de altíssima qualidade em diversos aspectos.

Tanto que, entre tragos, cigarros e conversas ébrias na mesa do boteco, um grande amigo definiu que o pior filme de Allen era melhor que a maioria dos filmes que estavam em cartaz naquele ano. Após ponderarmos um pouco sobre a questão, chegamos a um número sólido, matematicamente calculado na beirada de um guardanapo, de que o pior filme de Allen seria melhor que 90% dos filmes lançados em qualquer ano, na história do cinema. Fato.

Tudo isso pra dizer que, ao que parece, chegamos ao dia em que um dos piores filmes de Allen foi feito. Mas lembrem-se: ele ainda é um dos melhores filmes de 2019 e estamos estabelecendo quaisquer juízos de valor tão somente em comparação a outros filmes de Woody Allen.

Uma das grandes características do diretor é seu amor por Nova York, expresso em dezenas de seus filmes ao longo da carreira. E Um Dia de Chuva em Nova York é basicamente uma ode a… um dia de chuva. Em Nova York.

Allen usa a velha premissa do casal incorreto que se distancia, ao passo em que cada um encontra novos e verdadeiros pares/paixões/interesses, para desfiar uma carta de amor aos museus da cidade, aos hotéis e bares desses hotéis – na realidade, ao tradicional piano-bar nova-iorquino -, ao Central Park, ao trânsito, a agressividade e a paranoia que se desenvolve ao estar na cidade…

O longa é chuvoso, com uma trilha sonora impecável levada ao som de um soft jazz que induz o espectador a desejar por um bom conhaque, um edredom e uma lareira acesa durante a exibição do filme.

O ritmo do longa condiz com essa sensação chuvosa e a hora e meia de projeção parecem levar mais tempo do que de fato é transcorrido.

O elenco é impecável, com Timothée Chalamet, Elle Fanning, Selena Gomez, Jude Law, Liev Schreiber e Diego Luna em interpretações inspiradíssimas.

Um detalhe sensacional é a crítica que Allen faz da gentryficação (o processo de transformar algo em hipster, pra resumir), citando a gentryficação do Soho, Tribeca e, de maneira mais recente, do Brooklyn.

E um pequeno cutucão na Marvel: um quadro, exposto como se fosse uma grande obra de arte, pintado em preto e branco, dos Vingadores, na sala de estar do apartamento de Hunter (Will Rogers), irmão de Gatsby (Chalamet) – só essa provocação já daria uma excelente discussão nos moldes da que fizemos no Costelinha Scorsese x Marvel.

No entanto, Um Dia de Chuva em Nova York tem algo fora do lugar. Apesar da construção sensacional que o diretor proporciona, seu senso de direcionamento de câmera seguir perfeito, com uma decupagem invejável e tudo mais, o novo longa dá aquela impressão de que ele está se repetindo e se diluindo.

A repetição é um tanto evidente e despreza maiores comentários: a premissa já foi utilizada dezenas de vezes pelo diretor de forma similar e parece não acrescentar muita novidade a sua filmografia.

A diluição fica clara e incômoda, mas é resultado de um processo que atravessa os anos já, iniciado em Celebridades (Celebrity, 1998), em que Allen usa Kenneth Branagh no papel do protagonista tipicamente interpretado pelo próprio diretor.

Além do protagonista, outras personagens parecem assumir parte dessas características por sua vez, deixando uma certa homogeneidade intelectual dominar o longa; em Um Dia de Chuva em Nova York tanto Ashleigh (Fanning) quanto a prostituta Terry (Kelly Rohrbach), por exemplo, embora não saibam distinguir o nome de certos autores e obras, têm um nível de discurso infinitamente mais elaborado e rebuscado do que o que se esperaria de uma garota do meio-oeste americano ou de uma meretriz.

Não estou com isso afirmando que é implausível esperar tal refinamento de quem quer que seja. Mas a construção usual de Allen sempre foi um tanto mais centralizada, ao passo que agora ele parece pulverizar tais arroubos em diversos personagens. Além da protagonista e da prostituta, o diretor de cinema (Schreiber) e seu roteirista (Law), por exemplo.

Salvo raras exceções, todos os personagens do filme parecem representar, não propositalmente, um aspecto do diretor. Só que de maneira menos efetiva do que em outras produções similares como Igual a Tudo na Vida (Anything Else, 2003) em que Allen e Jason Biggs revezam essa função; ou Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works, 2009) em que Larry David assume a premissa.

Além disso, o protagonista tem ficado cada vez menos inquieto, cada vez menos ácido, cada vez mais brilhante, culto e sábio. E cada vez mais jovem. Só que o jovem Gatsby aqui, com 21 anos em 2019, parece ter tido sua juventude em 1945. A sensação de deslocamento é gigantesca e incômoda, deixando evidente que Allen envelheceu e não sabe exatamente como representar um jovem atual.

Ainda que seja brilhante, culto, inteligentíssimo e anti-social, Gatsby deveria ser jovem. Porém, mesmo que o filme se passasse há 20 anos atrás, ele ainda estaria velho demais. O personagem simplesmente não dialoga com o contemporâneo, denunciando e deixando transparecer um grito do diretor, exposto em uma das falas do próprio Gatsby quando afirma que gostaria de não envelhecer nunca.

Apesar disso tudo, Um Dia de Chuva em Nova York é um ótimo filme. Ainda que seja “mais do mesmo”, um típico filme de Woody Allen significa mais do que a maioria dos filmes por aí.

Mesmo porque, é possível que alguém diga que o diretor, assim como Monet, decididiu usar Nova York como sua Giverny; a vida nova-iorquina como seus nenúfares, representando cada minuto do dia, cada aspecto das estações; o que faria de Um Dia de Chuva em Nova York apenas mais uma peça num mosaico cinematográfico sobre a grande e verdadeira paixão do diretor.

Seja como for, tem Woody Allen novo nos cinemas.

 

 

Avaliação: Excelente!

 

Avaliação (comparado aos demais filmes do diretor): Ótimo

 

 

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Trailer

 

 


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