Ultimato do Bacon

Marçal Aquino & Kaysar Dadour – UB Entrevista

Em 28 de Nov de 2019 14 minutos de leitura

Antagonista e roteirista de Carcereiros – O Filme conversam sobre cinema no Brasil, terrorismo e intolerância religiosa em entrevista exclusiva

por Alexandre Baptista

 

Em 13 de novembro, durante a pré-estreia exclusiva do mais novo trabalho de José Eduardo Belmonte, Carcereiros – O Filme (leia nossa crítica aqui), o Ultimato do Bacon teve a chance de conversar com Marçal Aquino e Kaysar Dadour.

Aquino é um dos roteiristas do longa que é inspirado na série e no livro homônimo de Dráuzio Varella, lançado em 2012; Dadour, refugiado sírio, vice no BBB 2018 e ator principiante é um dos principais antagonistas do longa que estreia hoje, 28 de novembro nos cinemas nacionais.

Confira como foram as conversas:

Obs.: A entrevista contém partes importantes do enredo do filme. Caso não queira saber nenhum detalhe, leia a entrevista após conferir o filme.

 

Ultimato do Bacon – E aí pessoal, eu sou Alexandre Baptista e esse é o Ultimato do Bacon Entrevista e hoje a gente tá aqui com Marçal Aquino e Kaysar Dadour. Marçal Aquino que é roteirista do filme Carcereiros – O Filme, baseado na série de sucesso e também no livro do Dráuzio Varella; e o Kaysar Dadour que é um dos principais personagens do filme.

A gente vai começar aqui conversando com o Marçal Aquino. Muito prazer em conhecer você…
 

Marçal Aquino – É meu.

UB – Antes de mais nada, tanto a série quanto o filme foram inspirados originalmente do livro do Dráuzio. A gente sabe que, do livro, sobrou de fato só a inspiração

MA – É, porque havia uma dificuldade quando a gente partiu para a adaptação do livro. O Fernando Bonassi tinha lido o livro e entendia aquele continha uma série; era possível fazer um seriado ali, muito mais pelo modelo da narrativa do que propriamente pelas histórias… porque havia uma dificuldade quase que intransponível: o livro do Dráuzio, para quem leu, são pequenos esquetes. Se você dramatizar aquilo, vai dar 5, 10 minutos de dramaturgia. Não conseguiríamos ocupar um episódio de 45 minutos como era solicitado.

Então… segunda dificuldade: todas as histórias do originais do livro Carcereiros do Dráuzio dizem respeito ao Carandiru, ao presídio do Carandiru, onde o Dráuzio levantou essas histórias, onde o Dráuzio colecionou essas histórias. O Carandiru não existe mais. O Carandiru hoje não é mais nada. E nós tinhamos que atualizar a história.

Então nós partimos do seguinte: sem o livro do Dráuzio, nós jamais chegaríamos na série, nem no filme. Mas tudo o que você vai ver, foi criado pelos roteiristas. Foi criado por mim, pelo Bonassi, pelo Dennison Ramalho e pelo Marcelo Starobinas, que são os autores. Nós somos os autores e mais os roteiristas que trabalhamos nas duas temporadas e posteriormente no filme.

 

 

Então são histórias que a gente inventou um grupo de personagens; a gente criou as situações. A gente fez pesquisa foi para as cadeias para atualizar… porque, se você pensar, dos tempos do Carandiru até hoje, houve modificações muito grandes dentro dos presídios brasileiros. Então nossa intenção era tornar o material atual. Estar falando de problemas que ocorrem hoje. Por exemplo, organização criminosa, facção. Isso não existia no tempo do Carandiru. Então são problemas que hoje você tem dentro da cadeia e nós precisávamos dessa atualização. Foi isso que nós fizemos. Nós nos inspiramos no livro do Dráuzio, mas as histórias, os personagens e todo o desenvolvimento dos episódios foi criado por nós.

UB – Bacana. Outra pergunta: na verdade é uma derivação dessa mesma pergunta. Qual é a vivência que vocês, a equipe criativa têm de fato [em presídios]? Porque o Dráuzio, ele era voluntário lá [no Carandiru], ele vivia ali dentro. Qual é o tipo de inspiração de vocês, pessoalmente?

MA – Curiosamente, eu e o Fernando Bonassi, que é meu parceiro constante – nós estamos há 12 anos fazendo seriado policial para a Globo – ambos temos experiências distintas com o mundo do crime. O Bonassi trabalhou dentro do Carandiru, fez uma série de coisas. Depois escreveu Carandiru[: O Filme (2003)], trabalhou com o Dráuzio, tem uma vivência de cadeia – me lembro do Bonassi, tem um período que ele ficou escrevendo cartas para presos, o que era uma experiência magnífica – ele retratou isso em livro.

A minha experiência começou quando eu me tornei repórter policial em São Paulo, eu trabalhei na reportagem policial e isso fez com que eu tivesse contato com o submundo que interessou muito para a minha literatura. Para os livros que eu escrevo. Isso contaminou a minha literatura. E me deu um conhecimento de um mundo que normalmente você só tem acesso nos jornais, nos telejornais… nós fomos lá para dentro! Eu tive contato direto com o submundo. E isso impregnou não só a minha literatura, mas criou condições para quando a Globo nos chamou, a Globo estava interessada na nossa experiência como escritores de histórias policiais. A primeira coisa que nós fizemos na Globo em 2008, foi o Força-Tarefa, que era um seriado policial. Foram 3 temporadas.

Então, nós temos uma afinidade com esse mundo, algum conhecimento e, aonde não havia conhecimento, nós partimos para pesquisa pontual. Fomos para dentro da cadeia, fomos entrevistar carcereiros. Nós fizemos amplas entrevistas com carcereiros porque pela primeira vez, nós tinhamos um personagem que a dramaturgia de cadeia – que nós vamos falar assim, porque de repente o cinema parece ter descoberto o mundo do crime… havia uma série de filmes na esteira mais ou menos do Cidade de Deus (2002) e do Tropa de Elite (2007) – então para nós foi uma oportunidade da gente pegar e falar de um personagem que não era retratado por essa dramaturgia, que era um personagem magnífico porque ele nos atendia das duas maneiras.

Ele era um personagem que tem uma vivência dentro da cadeia e fora da cadeia. Se você focalizasse só o mundo dos presidiários, você não poderia sair de dentro da cadeia. Se você focalizasse um policial, você não teria a intimidade de dentro da cadeia. Então a figura do carcereiro foi muito desafiadora porque não só permitiu que a gente contasse as nossas histórias de tramas policiais, mas também como que essa atividade profissional impacta ao cidadão no dia-a-dia fora da cadeia.

UB – E tá aí o resultado né? O personagem do Lombardi é sensacional e tá tendo um feedback positivo, inclusive de carcereiros.

MA – Ah, eu fico muito feliz, quando… sabe aquela coisa? Você escreve um livro, acho que o maior elogio que você recebe de um leitor [é] quando o leitor pergunta para você "vem cá, mas isso aconteceu mesmo?" – significa que você impregnou aquilo de verdade, de uma verdade, que faz com que o leitor viva aquela experiência como se fosse uma experiência real. Então nós, por conta da nossa experiência com carcereiros, a gente encontrou vários perfis. Desde o carcereiro que era o carcereiro conciliatório, que procurava… e tinha até o carcereiro que pensava que as coisas deveriam ser resolvidas na base da porrada.

Então nós construímos um personagem, que de certa maneira, ele atende aquela maioria que a gente viu, que eram pessoas que tentavam resolver as coisas… note, não tem arma. É uma verdade que a gente descobriu conversando com os carcereiros, entrevistando os carcereiros, é que a arma do carcereiro é a palavra. Então em cima disso nós construimos. Você não vai ver o Rodrigo com arma, é raro aparição de arma na mão do Rodrigo, do personagem, do Adriano, né? É raro. É tudo resolvido de uma forma bem brasileira, mas muito na conversa.

UB – Tem uma cena que tá no release do filme que é fantástica: dele tentando fazer o cara largar a faca que ele tá…

MA – O tempo inteiro! Eram embates que nós tínhamos… porque, veja. Nós não tínhamos a intenção de fazer um super-herói. Nós tinhamos a intenção de mostrar que um homem comum é capaz de atos de heroísmo no dia-a-dia. Essa é a figura do carcereiro que a gente encontrou quando a gente fez a pesquisa. Então de certa maneira, a figura do personagem Adriano é uma homenagem a todos esses homens que, sim, alguém tem que fazer esse serviço. Para que a sociedade viva em paz, alguém tem que fazer essa mediação entre aquele que cometeu algum delito e está preso e nós aqui fora.

Então esse personagem para o Rodrigo… Eu acho que era um personagem que o Rodrigo Lombardi estava esperando. Tanto que para mim, hoje, o Rodrigo está num outro patamar em relação ao que ele começou, quando começou. Eu não tenho dúvida disso. E ele pode – não está habituado a fazer personagens de ação; então também foi importante [por isso]. E eu acho magnífico o trabalho do Rodrigo. Acho que o Rodrigo compreendeu o personagem e deu, evidentemente, uma contribuição que nós apenas tinhamos enunciado. Foi lá o Rodrigo e compôs esse personagem por inteiro. Um personagem que tem dúvidas, um personagem que não tem certezas, um personagem que tenta resolver as coisas sempre da melhor maneira sem partir para violência. Acho ele um personagem muito rico e o Rodrigo vestiu essa camisa, sem trocadilho com a camisa de carcereiro, perfeitamente.

UB – Na verdade isso vem ao encontro da última pergunta que é justamente a respeito do momento político que a gente tá vivendo. A gente fala de polícia, a gente fala de sistema prisional, a gente fala de sistema carcerário e isso levanta uma série de humores na população em geral, de um lado e de outro. E quem vive isso de perto, sabe que a verdade tá entre o preto e o branco, naqueles tonzinhos de cinza ali no meio. Como vocês fizeram, porque na série, a série tem uma pegada muito realista, né?

MA – Sim, sim. Era muito importante.

UB – Transpor uma série para o cinema, ele exige uma dose maior de um certo maniqueísmo, uma certa… ele se afasta um pouco desse Realismo que a gente tem na televisão. Como vocês pensaram isso? Porque ao que me parece vocês tem um discurso muito claro ali, por exemplo no personagem do João [Vicente de Castro], que ele é o professor de jiu-jitsu da…

MA – Giovanna, a filha do Adriano. Ele é um ex-presidiário.

UB – Ali é um exemplo do tipo de visão e postura que vocês têm em relação a isso. Não sei se eu estou correto nessa minha assunção.

MA – Corretíssimo.

UB – E aí como fazer para transpor isso para o filme, porque é uma coisa mais maniqueísta, né? A gente tem um vilão declarado. A gente precisa ter um herói declarado. É um filme de ação…

MA – Sim. Mesmo assim, você vai ver que o personagem do Rodrigo, ele não se afasta da crença, do credo dele. Ele não se afasta daquilo. Ele continua tentando salvar pessoas. Ele se envolve pessoalmente, colocando a pele dele em risco, pra que não aconteça uma tragédia com um presidiário. O presidiário, como os próprios carcereiros dizem, é responsabilidade do carcereiro. A integridade do presidiário é responsabilidade do carcereiro. Ainda que a sociedade possa vê-lo como um inimigo, de maneira maniqueísta como você diz – [por]que tem gente que prega pena de morte – nós… você imagina nossa responsabilidade, sabendo que nós estamos num veículo como a televisão, que atinge milhões de pessoas, para esse discurso. Agora, tem um outro lado. Nem, nem o Bonassi, temos um discurso diferente. Nós temos um discurso que você age frente a dilemas morais; a dilemas éticos; e é isso que nós colocamos para o personagem. E o mesmo se dá no filme. Apenas a história… ela é uma história autônoma, se você não viu a série, não tem nenhum problema. O filme pode ser degustado com muito… você compreende perfeitamente do que nós estamos falando, não depende de ver a série. Tem uma autonomia, mas o personagem é o mesmo. E ao ser o mesmo ele traz todos esses dilemas éticos e morais e ao lidar com eles, ele usa as mesmas ferramentas que ele usa na série. A saber: não são armas, é a palavra. Porque essa, segundo nós ouvimos à exaustão dos carcereiros, era a ideia de que a arma do carcereiro é a palavra. Então nós procuramos ser fiéis a isso e acho que conseguimos.

UB – Perfeito Marçal. Eu queria agradecer seu tempo…

MA – Muito obrigado a você, imagina.

 

COLETIVA DE IMPRENSA

 

 

Marçal Aquino – Eu gosto muito de ser enganado. Acho o melhor que existe porque [se] o cara vai me vender algo, ele tem que me convencer. A grande dificuldade de fazer cinema de ação no Brasil é uma só, orçamento. Grana. E aqui nós temos um problema sério: depois de Tropa de Elite e depois de Cidade de Deus, o cinema de ação no Brasil foi elevado a um patamar que não dá pra você fazer sem dinheiro. Não dá para fazer. O Carcereiros custou 3 milhões [de reais]. Tropa de Elite custou 16 milhões [de reais]. É uma ordem de grandeza… o que significa isso?

Por exemplo, quando o roteiro foi entregue antes de ser filmado, eu encontrei o Belmonte num evento – o diretor José Eduardo Belmonte que tava fazendo a série – o Belmonte não falou bom dia para mim. Ele falou assim: "helicóptero não, pelo amor de Deus! Isso é uma fortuna, eu vou ficar uma semana gravando nego descendo na corda." E eu: "meu problema não é esse".

Porque eu vir do cinema significa o seguinte: eu brinco sempre, você tá escrevendo uma cena de cinema, você põe assim – "entram em cena dois camelos". O produtor grita lá da cozinha para você: um camelo só pelo amor de Deus!". Na televisão, o cara te liga e diz assim: "E se eu puser dez camelos?". Porque a televisão tem dinheiro pra isso. Então, nós estamos falando em série. 

Quando eu volto pro filme, eu tenho que aprender a fazer baixo orçamento de novo. Então são cenas que você, de certa maneira, se não se cuidar, você se auto-censura. Você fala assim, não vou fazer uma explosão porque ou ela não vai ser feita ou ela vai ser mal feita; porque a gente tá acostumado com pouco.

Hoje, com efeito especial, com o aporte de efeitos especiais que existe no cinema, você tem um problema de convencer o seu espectador. O cara tá cansado de ver tiro, bomba e correria. Um atropelamento no cinema, mal-feito, derruba um filme. Você vê a cena na qual você não acredita, você sai do filme.

Então, principalmente, a questão orçamentaria. Eu, quando vou escrever, eu esqueço que estou no Brasil. Eu escrevo como se eu tivesse em Hollywood. Daí nós começamos a discutir com o diretor depois. "Ah, tira os camelos, tira o avião, tira o helicóptero…".

O  começo do filme era completamente diferente. O que nós sonhamos para nós como roteiristas, o produtor… Eu recebi o filme logo que ele ficou pronto, mandaram o filme pra gente. Pra mim e pro Bonassi, pra gente fazer uma análise. E eu apontei um monte de coisas, dizendo: isso aqui não tá bom, isso aqui não tá bom… o único problema: tudo o que nós apontamos, deveria ser refilmado. E ninguém vai refilmar. Então, na verdade, fizeram uns consertos e taí o resultado.

Tá excelente. Por 3 milhões [de reais], esse filme na verdade, você olhando, você acha que ele custou mais. Ele agrega valor. O que que é isso? Criatividade da equipe, empenho da equipe, sacrifício da equipe… ou seja, fazer cinema brasileiro… é uma frase que eu tenho, que é famosa. Eu disse ela de brincadeira outro dia e ela virou meme.

Eu falo assim: o filme brasileiro, cinema brasileiro é tão complicado que quando acaba o filme brasileiro não sobem créditos, sobem débitos.

UB – Uma pergunta para o Marçal com base nisso que você estava falando Marçal: quanto dos diálogos do filme vieram do roteiro, se você consegue mensurar isso de alguma forma, e quanto foi algum um improviso da equipe de atuação, do elenco?

MA – Tem muito pouco improviso. Se você olhar o roteiro, ele é basicamente o que foi falado. Tem muito pouca mudança. E vou te dizer por que.

Quando você tem tempo… por exemplo, quando eu escrevi O Invasor (2002), os diálogos do Paulo Miklos foram todos reescritos pelo Sabotage, o rapper. Por que? Porque eu nunca morei numa comunidade, nunca morei numa favela. O personagem era um favelado. Eu tinha dois caminhos: ou eu ia morar um tempo na favela pra aprender as gírias, ou eu contratava uma pesquisa. Geralmente fica frio.

Nesse caso aí, não. Nesse caso a gente dominava. Porque a gente estava escrevendo a série, a gente tava por dentro do jargão, tava muito dentro da história. Foi muito fácil fazer.

E eles, na hora de fazer, não tinham tempo pra ficar inventando. O diretor talvez gostasse de improvisar algumas coisas. O Belmonte não é exatamente um diretor que improvisa muito.

Por que? Porque se você improvisar, você corre o risco de não dar certo. E se der errado, a gente vai cobrar: "não tá no roteiro".

Então são coisas assim… é uma queda de braço na verdade. O cinema é coletivo. Não adianta você escrever e falar "eu quero que os diálogos sejam respeitados". Não. Eu quero que os diálogos sirvam o filme. Se precisar modificar, muito bem.

Mas nesse caso, eu diria pra você, 90% do que foi escrito tá na tela. Muito pouca mudança. Porque não havia tempo. Tava sendo feita a série e o filme de uma vez só. Foi tudo junto.

 

Kaysar Dadour

UB – E agora a gente conversa um pouquinho aqui com Kaysar Dadour. Boa noite muito prazer!

Kaysar Dadour – Fala aí, beleza? Boa noite.

UB – Antes de mais nada, parabéns cara, por toda essa trajetória de vida aí que é… a gente acompanha de longe que é uma coisa que, eu acho que pra grande maioria dos brasileiros, é uma realidade que não é verdadeira, né? A gente vê, mas é uma realidade muito distante. Assim como para muita gente lá fora a realidade das favelas do Rio, por exemplo, não é real.

KD – Sim.

UB – A minha pergunta já começa direto a respeito do trabalho, do seu trabalho, tanto na novela Órfãos da Terra, quanto agora no Carcereiros. O Fauze não é exatamente um vilão… ele é um vilão, mas depois ele..

KD – Ele começou vilão, depois no meio ele começou mudar quando ele encontra a Santinha, amor da vida dele. E aí raspa barba para esconder, e de repente muda toda a vida dele… vira bonzinho!

UB – Vira bonzinho. Mas agora no Carcereiros o jogo é outro, é uma outra pegada de personagem, né? É um terrorista, é um personagem pesado para caramba. Na minha opinião, o brasileiro talvez nem saiba exatamente o que é o terrorismo e o brasileiro, a grande maioria [dos brasileiros], não sabe o que é a guerra.

KD – Sim.

UB – O Ricardo Darín, numa entrevista, diz lá na Argentina, ele disse que recusou um papel em Hollywood porque era para ser um narcotraficante mexicano. Como é para você fazer um papel de um traficante que vem do Oriente Médio, [agora que] tanto na Europa, quanto nos Estados Unidos, a gente tem visto esse crescimento da xenofobia e do repúdio aos imigrantes e tudo mais. Como você se sente em relação a isso? É um papel que, de repente, pode forçar certos estereótipos? O que você pensa a respeito disso, você acha que não tem nada a ver?

KD – É, eu acho que não tem nada a ver, sabe? É um papel, simplesmente um papel. Lógico que tem um peso para mim porque sou da Síria… mas é um trabalho sabe? Foi pesado um pouquinho, mas eu aceitei de boa, eu quis fazer muito porque é uma experiência para mim, um trabalho. Então tem que… eu fico aprendendo cada dia mais e mais.

 

 

E depois, uma coisa: em todo lugar no mundo, você vai ver radicais, entendeu? Quando a pessoa vira radicais [sic], ele já está se transformando em terrorista, mas de outra maneira, entendeu? Então tem radical em tudo na vida, entendeu?

Então… deixa eu saber como explicar pra você. To pensando em árabe porque, sabe? Pra te dar uma resposta boa. Porque é um assunto meio delicado, meio pesado e aí não tem tanta palavra em português para explicar para você direito, sabe?

Mas acho que tudo que vira demais e vira radical, quando você vira radical, você já é um terrorista. Então não precisa matar, ou explodir pra virar um terrorista. Não. Com seu pensamento, às vezes. Com seu preconceito, você já [se torna um terrorista]. Entendeu? Com seu pensamento de mal. Querer roubar os outros, ou querer matar os outros… você já é um terrorista, entendeu? É só que tem um peso [maior] pros árabes, sabe? Oriente Médio, tem um peso [maior]… porque tudo o que acontece eles colocam a culpa no Oriente Médio. Virou…

Porque se você vai [sic] para a Síria agora, você vai ver, cara. Pouca gente já fala árabe. De tanto que tem estrangeiro lá na Síria lutando. A gente não sabe as línguas que as pessoas estão falando. E são todos terroristas. Não estão falando árabe. Vários idiomas diferentes. Mas sempre vão falar que [a culpa] é de lá. Enfim, não sei o que te falar mais…

UB – Outra pergunta, a gente teve as campanhas aí no mês de outubro [Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio] de conscientização da depressão e tudo mais, que é uma coisa complicada. E a sua história de vida, independente[mente] de qualquer coisa, eu acho que ela é muito inspiradora pra gente, pras pessoas que estão passando por uma coisa ruim na vida, seja o que for.

Você tem algum comentário sobre isso? Você tem agora uma perspectiva, está construindo uma bela carreira, bem legal… você tem alguma perspectiva nessa coisa de carreira e em relação ao que você viveu antes e o que você tá vivendo agora, para falar para a galera que vai estar ouvindo ou lendo a entrevista?

KD – Eu sempre falo o seguinte: pra não desistir nunca, sabe? Porque desistir é muito fácil. É muito fácil desistir. Eu podia desistir várias vezes na minha vida, mas desisti. Quis lutar, quis botar fé muito em Deus e acreditar muito nele. E aí eu consegui, acho… tem que sonhar, a primeira coisa. Tem muita gente que não sonha.

Cara, sonha alto, não custa! Você não tá gastando dinheiro, você não tá machucando ninguém, não tá roubando ninguém, não tá matando ninguém… não tá fazendo nada de mal para ninguém. Só está sonhando alto. E bota fé no seu sonho. Acredita no seu sonho. Porque quando você acredita no seu sonho, vira realidade. Mas não precisa saber como, entendeu? Você não precisa se perguntar "como"… "como" ou "quando". Aí é o tempo de Deus, ele que faz tudo.

E sempre falo uma frase… que todo dia eu falo: nunca esqueça que hoje vai ser o melhor dia no mundo. No mundo, e não "do mundo".

UB – No mundo.

KD – Isso aí. Então bota isso na sua cabeça e voa longe.

UB – Obrigado pelo melhor dia no mundo então Kaysar.

KD – Valeu!

UB – Obrigadão mesmo, foi um prazer.

KD – Prazer é todo meu, tamo junto.

UB – E sucesso sempre. Parabéns pelo trabalho que está lindo.

KD – Obrigado. Para todos nós. Obrigado mesmo.

 

Carcereiros – O Filme estreia hoje nos cinemas.

 

Carcereiros – O Filme

Sinopse: Adriano (Rodrigo Lombardi) é um carcereiro íntegro e avesso à violência, ele tenta garantir a tranquilidade no presídio, mesmo sofrendo com grandes dilemas familiares. A chegada de Abdel (Kaysar Dadour), um perigoso terrorista internacional, aumenta ainda mais a tensão no presídio, que já vive dias de terror por conta da luta entre duas facções criminosas. Agora, Adriano terá que enfrentar uma rebelião além de controlar todos os passos de Abdel. Inspirado no livro Carcereiros de Drauzio Varella, Carcereiros – O Filme traz a realidade dos homens que mesmo sem estarem presos, passam seus dias atrás das grades.

 
 
 
 

 

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