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Tartarugas Ninja Coleção Clássica Vol 1 – O Ultimato

Em 29 de Abr de 2021 6 minutos de leitura

As Tartarugas Ninja, assim como Batman e Homem-Aranha, já estão na cultura pop há décadas. Jogos de videogame são frequentemente lançados, animações digitais, crossovers e uma franquia – não muito bem avaliada pela crítica – de filmes que já está em seu segundo volume: Tartarugas Ninja Fora das Sombras (2016).

O que as novas gerações talvez não saibam é o quanto Leonardo, Rafael, Donatello e Michelangelo povoaram o imaginário das crianças nos anos 1980 e 1990. Na época, eles protagonizavam fliperamas, desenho animado, uma trilogia de filmes – gravados com fantasias – e as mais diversas bugigangas, como bonecos articulados e lancheiras. Um fenômeno comercial.

Em Tartarugas Ninja Coleção Clássica Vol 1 descobrimos os primórdios desses personagens, ainda quando seus criadores, Kevin Eastman e Peter Laird, não tinham muito dinheiro e decidiram criar o Mirage Studios.

Para se ter uma ideia, Eastman tinha um trabalho de verão cozinhando lagostas e o novo empreendimento era “uma sala de estar que dividíamos pra desenhar e chamávamos de estúdio” na cidade de New Hampshire, em Dover, Estados Unidos.

Teenage Mutant Ninja Turtles (1984) #1 teve uma tiragem de 3 mil exemplares, esgotada em cerca de 30 dias. Após muitas reimpressões, a cobrança pela segunda revista tornou-se realidade.

A partir daí, o sucesso só foi crescendo e quando a última publicação do encadernado foi lançada, em 1986, Eastman e Laird já estavam licenciando a marca para RPGs e colecionáveis e recebendo as primeiras ligações de agentes para levar as tartarugas às telas.

Naquela fase, porém, eles ainda queriam se manter fiéis às HQs, e as oito primeiras histórias que deram o pontapé inicial a todo o fenômeno que conhecemos estão nesse encadernado da editora Pipoca e Nanquim.

Índice

Qual é a trama de Tartarugas Ninja Coleção Clássica Vol 1

A publicação compila as sete edições inaugurais da série Teenage Mutant Ninja Turtles (1984) e um especial intitulado Raphael: Teenage Mutant Ninja Turtles (1985), a quarta do encadernado e primeira das revistas dedicadas a cada uma das tartarugas protagonistas.

É no primeiro capítulo (Teenage Mutant Ninja Turtles #1) que a história de origem do grupo é contada. Nela, descobrimos porque um rato – Mestre Splinter – e quatro répteis se tornam criaturas inteligentes, antropomórficas (animais com características humanas) e com incríveis habilidades nas artes marciais.

Na estreia, também, temos a primeira aparição do arqui-inimigo dos heróis verdes: o Destruidor, líder do Clã do Pé. Hamato Yoshi, o mestre de Splinter ainda quando ele era apenas um rato de estimação, foi morto pelo líder da facção inimiga – evento resultante de acontecimentos lá no Japão, bem detalhados na HQ –. A trama consiste na busca pelo assassino para honrar o mestre Yoshi.

Tartarugas Ninja Coleção Clássica Vol 1 – O UltimatoAs tartarugas mutantes, ainda sem as cores características de cada personagem

No capítulo seguinte (Teenage Mutant Ninja Turtles #2), um cientista maluco – Dr. Baxter – cria um modelo de robôs para caçar ratos chamado de mouser. A ideia, a princípio, era exterminar a espécie na cidade de Nova York.

O problema é que sua assistente, a (futura) eterna companheira dos tartarugas, April O’Neil, acaba descobrindo um plano maligno: Baxter usaria seu exército de mousers para destruir os alicerces dos prédios e chantagear as grandes corporações de Manhattan a pagarem um prêmio para ele não derrubar a cidade. É claro que, fugindo dos mousers do Dr. Baxter, April acaba encontrando os répteis mutantes e se unindo a eles para acabar com o vilão.

Em Teenage Mutant Ninja Turtles #3, temos uma das mais divertidas histórias. Não existe uma grande trama. Basicamente, apenas uma perseguição de policiais a uma Kombi com April dirigindo e as quatro tartarugas à tiracolo. Isso porque o veículo era idêntico ao de bandidos que haviam acabado de fazer um assalto e os ninjas adolescentes, obviamente, não podiam ser vistos pela polícia.

A sequência de carros percorre a cidade de Nova York até o Central Park em nada menos do que 16 páginas. E isso funciona bem.

Entre as edições #4 e #7, a segunda metade do encadernado, Kevin Eastman e Peter Laird nos levam a uma aventura sci-fi com as tartarugas no meio de uma guerra em um distante planeta de humanos contra um grupo de dinossauros triceratons – lembra deles? – por uma tecnologia chamada transmat, capaz de destruir qualquer adversário.

Para esta pequena saga, diversos atos são abertos, como o sumiço do Mestre Splinter; a descoberta de um prédio lacrado no meio de Manhattan com o logotipo do IPTC – marca impressa na lata da substância que causou a transformação das tartarugas –; a aparição dos extraterrestres responsáveis pelo teletransporte dos heróis para outra galáxia; um cientista que se transformou em robô, fez amizade com as tartarugas e era perseguido por ser o único capaz de criar o transmat; e por aí vai.

Toda essa bagunça, incrivelmente, é encaixada na parte final do encadernado. A sequência, aliás, é a homenagem declarada feita pelos autores aos antigos filmes da trilogia original de Guerra nas Estrelas (Star Wars).

Tartarugas Ninja Coleção Clássica Vol 1 – O UltimatoAs sequências de luta são frequentes em todo o encadernado

A arte de Kevin Eastman e Peter Laird

Kevin Eastman e Peter Laird dividiam tanto o roteiro quanto as artes. Curiosamente, eles tinham uma rotina de produção conjunta para fazer com que a diferença de estilos não aparecesse nas histórias, o que realmente acontece.

Ambos desenhavam e arte-finalizavam os quadrinhos juntos em um sistema que “envolvia passar as páginas de um lado pro outro em uma tentativa de obter a mistura de nossos respectivos estilos em cada uma delas”, diz Laid.

Os desenhos em preto e branco nos lembram bem as HQs norte-americanas undergrounds dos anos 1980. Bem criativos e crus, com as bordas feitas aparentemente à mão, sem régua. As famosas cores que caracterizam cada personagem ainda não existiam.

Mesmo nas capas coloridas, as faixas das tartarugas são todas em vermelho. É necessário perceber a arma que cada uma usa e um pouco de cada característica emocional, que vão sendo construídas no decorrer das histórias, para saber quem é quem. Demora um pouco para se acostumar.

A maior referência de Eastman e Laird, muito fácil concluir, é Jack Kirby, citado diversas vezes pelos autores, principalmente pelas aberturas em “uma splash page na primeira página e uma dupla na segunda.” O recurso servia para iniciar a leitura já com muita ação.

Esses detalhes da criação, as formas e influências para os desenhos e roteiros, assim como o contexto em que tudo foi produzido, são apresentados em notas dos autores ao final de cada capítulo, o que acrescenta bastante à experiência com o encadernado.

Vale a pena ler?

Tartarugas Ninja Coleção Clássica Vol 1  contém mais do que uma aventura divertida. É a origem de um grupo de heróis que marcou gerações em diversas mídias e uma história de superação e criatividade de Eastman e Laird.

Tartarugas Ninja Coleção Clássica Vol 1 – O UltimatoO Destruidor, arqui-inimigo das Tartarugas Ninja, estreia logo nas primeiras páginas de Tartarugas Ninja Coleção Clássica Vol 1

É claro que a publicação ganha muitos pontos quando lida por alguém que cresceu com o boom desses personagens – o que é o caso deste que vos escreve –.

As aventuras, apesar de não terem grande complexidade, são bem encaixadas e divertidas. Não poderia ser diferente, pois as referências dos autores, além de Kirby, Frank Miller e Dave Sim, eram os filmes de ação e comédia daquele período, que incluíam artes marciais, perseguição de carros, extraterrestres e os perigosos becos escuros de Nova York. A boa execução garantiu o sucesso na época e a agradável leitura ainda hoje.

Um dos pontos fracos da HQ são as soluções imediatistas criadas para resolver problemas de roteiro, como em determinado momento em que as tartarugas aparecem meditando como forma de se salvar da falta de oxigênio no espaço.

Mas por mais clichê e brega que essas soluções possam parecer, acabam não deixando nenhuma ponta solta e dão um tom descompromissado que funciona. A impressão que fica é a de que os autores tinham total liberdade criativa e não faziam grandes planejamentos. Como relatam, faziam os quadrinhos que queriam ler.

Se você foi fã das Tartarugas Ninja, não perca tempo. Se não é da sua época, mas você gosta de todas essas referências e de desenhos mais orgânicos, em preto e branco, bem undergrounds, ao estilo dos anos 1980, vale a pena dar uma chance para o grupo de tartarugas mutantes.

Se quer um roteiro profundo, cult ou introspectivo e nunca ligou para o grupo de heróis, é melhor deixar esta HQ de lado.

Gostou do texto? Confira outros Ultimatos do David Horeglad (HQ Ano 1) para o UB! Cazador Sagas Vol. 1, Estranhas Aventuras Vol. 1 e Thanos: Santuário Zero

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Avaliação: Ótimo!

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Tartarugas Ninja Coleção Clássica Vol 1 – O Ultimato

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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