Sweet Tooth: 1ª Temporada – O Ultimato

Sweet Tooth, nova série da Netflix, deve se tornar uma daquelas obras audiovisuais que ficará marcada na memória afetiva de muitos devido ao mérito da abordagem que a mesma evoca, traçando paralelismos relevantes com a situação atual do mundo moderno, em que a ameaça de uma doença implacável e incurável (a Covid-19) assola o planeta e dizima a todos sem respeitar classe social, cor de pele, gênero ou religião.

É por estarmos tão anestesiados com a banalização da violência e morte retratadas em outras obras que refletem a vida real que, ao assistir Sweet Tooth, acabamos por perceber um fio de esperança nas entrelinhas da série, capaz de conquistar o espectador pela empatia que ela proporciona àqueles que torcem por um mundo melhor. Vamos, portanto, entrar nesta aventura pós-apocalíptica e descobrir o que ela tem para oferecer.

Sweet Tooth: Primeira Temporada – O Ultimato

A Jornada de Bico Doce

Devo dizer que o caminho adotado pelos showrunners Jim Mickle e Beth Schwartz, mais os produtores executivos Robert Downey Jr. (o próprio Homem de Ferro!) e sua esposa Susan Downey, é diferente da versão em quadrinhos – esta, por sinal, muito mais violenta e visualmente sombria – porém, não perde a essência da obra original.

A série optou por uma jornada mais positiva, com a clássica narrativa da jornada do herói onde somos apresentados a Gus, um menino híbrido de humano e animal cuja história caminha concomitante à praga global denominada O Flagelo e que mudou as estruturas da sociedade como a conhecemos.

Eu disse jornada, pois é a partir das descobertas e conhecimento de si, do outro e do mundo em que vivemos que percebemos nosso papel na sociedade.

E Gus (personagem principal da série) tem algo de bom a ser desenvolvido durante a série e que, realizado de maneira entusiasmada pelo pequeno ator Christian Convery, nos mostra as possibilidades de se propor um mundo mais aceitável.

Claro que nem tudo são flores e Bico Doce – apelido dado ao garoto por Jepperd (Nonso Anozie) devido ao seu vício por doces – perpassa uma longa jornada de dificuldades e revelações que farão ele questionar sua própria condição pessoal.

A série narra a história deste menino cervo que observa o mundo ao seu redor com muita inocência e maravilhamento – Gus vive seguro em seu mundinho isolado e hermético, criado por seu pai no parque nacional de Yellowstone (EUA), poupando-o da situação catastrófica mundial.

Um dia, tudo vira de ponta cabeça a partir de situações limítrofes que o desafiam a sair de seu lugar comum e seguro em busca de respostas.

Bico Doce (Sweet Tooth) e seu Paba

Acreditando que encontrará sua suposta mãe desaparecida há muitos anos, a criança parte numa aventura junto a Jepperd (ex-jogador de futebol americano que tenta sobreviver nesta nova realidade mundial, um cara grandalhão e de bom coração).

Nos vemos diante da clássica fórmula da jornada do herói ou monomito, conceito criado pelo antropólogo Joseph Campbell e que até hoje desperta vários estudos acadêmicos e nerds na cultura pop. Aliás, não é demérito nenhum mencionar a mitologia que envolve as narrativas de ficção, pois são delas que criamos metáforas para nosso cotidiano.

Coadjuvantes de um Cenário Apocalíptico

Outro ponto positivo se encontra no desenvolvimento dos demais personagens da série – Bear, Singh, Eden, General Abott e seu exército de Últimos Homens – aqueles que tomam o poder mundial após a derrocada do mundo moderno.

Cada um deles, em seu próprio viés dramático, apresenta seus propósitos pessoais intercalados ao momento crítico da pandemia do Flagelo, com suas histórias pregressas narradas em off por um personagem que não aparece fisicamente na série, porém, revela os caminhos de cada um dos personagens através do uso de flashbacks.

Além disso, não podemos esquecer das crianças híbridas e o motivo pelo qual tornam-se culpadas e perseguidas pelo regime de Abott a todo custo para servirem de cobaias nos experimentos científicos que buscam encontrar uma cura para a epidemia.

O nascimento dos híbridos ocorre ao mesmo tempo da chegada do Flagelo, vírus letal de acarreta na dizimação da sociedade vigente em Sweet Tooth

A beleza da fotografia de Sweet Tooth, realizada na Nova Zelândia (local de belos filmes como O Senhor dos Anéis e O Hobbit), apresenta uma paleta de cores mais suave do que sua homônima dos quadrinhos – muito suja, por sinal – nos deixando mais animados com o desenrolar da trama, mesmo se tratando de um cenário apocalíptico.

Esta mudança de ambientação tornou o material audiovisual mais palatável ao público, afinal, ninguém quer ver maus tratos com animais. E a trilha sonora cria um clima de aventura que nos coloca como que imersos dentro da narrativa.

Sweet Tooth e sua Relevância para a Sociedade

Questões sociais como aceitação, família e esperança se contrastam com um cenário de violência, beligerância e opressão que fazem-nos pensar como a falta de afeto e solidariedade desemboca num mundo real repleto de mazelas a ser tratadas.

Gosto sempre de citar Umberto Eco, que define que os indivíduos na sociedade necessitam do consumo de narrativas ficcionais, pois estas dizem respeito, em boa medida, sobre nós mesmos, nossas vicissitudes, anseios, medos e preconceitos..

A jornada do pequeno Gus: amizade, esperança e resiliência em Sweet Tooth

Sweet Tooth, torna-se uma indispensável obra audiovisual que merece ser vista pelo viés da esperança de dias melhores, afinal, assim como a arte imita a vida e vice-versa, acredito no poder que cultura pop possui em transcender o mero entretenimento em algo que nos faça refletir o papel do ser humano em sociedade, a partir de interações saudáveis e positivas e o desenvolvimento da autocrítica.

As aventuras de Gus e companhia nos fazem olhar para o mundo com mais empatia, aproximando-nos mais uns dos outros. Você encontra a primeira temporada completa de Sweet Tooth na plataforma de streaming Netflix. Boa jornada a todos.

Não deixe de conferir também nossa lista com as Melhores HQs de Jeff Lemire, criador da HQ Sweet Tooth na qual a série foi baseada, clicando aqui!