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Smoking Mata (2018) – O Ultimato

Em 27 de Mai de 2022 4 minutos de leitura
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Conheça a HQ brasileira com o projeto gráfico mais incrível que você já viu: Smoking Mata

Existem dois pontos importantes para se avaliar uma HQ, seja profissionalmente, criticamente, por gosto ou estética: roteiro e arte. Com Smoking Mata (2018), de um jeito muito criativo, Kash Fyre conseguiu dar destaque principal a outra característica: a forma.

São muitas as HQs em que a forma ganha evidência. Exemplos são Aqui (2017), de Richard McGuire, em que todas as páginas são a mesma sala e a mudança acontece no tempo, e Podrão Aniquilação (2020), de Pablo Carranza, que tem tamanho e formato de VHS, em referência ao estilo de filmes trash reproduzido pelo autor na obra.

No caso de Smoking Mata, o formato não apenas é uma referência à história, como define a maneira com que o leitor a lê. Explico. O quadrinho é uma caixinha de cigarros com 16 unidades. Cada uma contém parte da história, que pode ser lida em qualquer ordem. Para isso, basta tirar o que seria o filtro do cigarro (a parte marrom) e desenrolar as tirinhas, normalmente com três quadros da HQ.

Caso o leitor queira saber a ordem cronológica, Kash deixou a arte de um cigarrinho no canto de cada tira marcando a sequência dos acontecimentos. O número de faixas identifica o número da página. Mas sugiro fazer a contagem com uma lupa. (Obs.: se você quer 100% de surpresa quando ler Smoking Mata, pule para o subtítulo Vale a pena ler?)

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Cada “cigarro” se torna uma tira com três quadrinhos, como esta

Qual é a trama de Smoking Mata

São Paulo. Primeira metade do século XX. O protagonista é Smoke, um gângster que acaba de sair da penitenciária estadual após uma sentença de 16 anos de reclusão.

Ele pertencia a uma equipe formada por oito gatunos, incluindo sua amada, com um plano de roubar o banco durante uma festa de gala. Eram eles Bela, Ângelo “Alicate”, Aroldo “Pé de Chumbo”, Marcos “Pavio Curto”, Dr. Douglas, Roberto “Bico Doce” e “Fera”.

Os gângsteres traem Smoke, o que resulta em sua prisão. A partir daí, a HQ vira um conto de morte e vingança. Kash conseguiu condensar a história de cada personagem e suas respectivas mortes em poucos quadros com um trabalho de muita objetividade. O pulo do gato está na relação de todos os acontecimentos com o cigarro. E também em uma disputa especial que o protagonista faz com o item.

Para quem gosta da São Paulo antiga, Smoking Mata oferece alguns easter eggs muito divertidos, incluindo o prédio conhecido na cidade como Banespão – hoje chamado oficialmente de Farol Santander –, a placa luminosa da Bayer que era comum nas fotos da Av. São João da década de 1940, o famoso bondinho e a portaria da Penitenciária de São Paulo, também conhecida como “casa de regeneração”. 

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Símbolos da SP antiga como o Banespão e o bonde aparecem na HQ

Cada uma dessas referências tem muita história e vale a pena se aprofundar nelas para ter acesso a curiosidades muito interessantes sobre os ambientes de Smoking Mata.

Toda essa preocupação do autor com o passado e a arquitetura da cidade parecem um ensaio para o último quadrinho de Kash publicado até aqui: Espetaculare Meneghetti (2021), a biografia de um dos maiores larápios da capital paulista de todos os tempos.

Vale a pena ler?

Ler Smoking Mata é uma experiência inédita. Voltando à questão da forma, aliás, traz um timing de leitura completamente diferente. Quantas vezes você já se pegou lendo páginas de HQs e, ao final delas, percebe que leu sem atenção, no piloto automático, e não lembra de quase nada? Com esse quadrinho é impossível. 

Ele acaba nos fazendo refletir justamente sobre isso: focar no aqui e agora para curtir a experiência com a calma que ela merece. Não é tarefa das mais fáceis enrolar cara tira/cigarro para caber novamente no “filtro”. Um exercício de paciência que permite nos concentramos totalmente na HQ, apesar de o roteiro curto e aparentemente simples.

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No total, são 16 tirinhas que formam uma história única

Sobre a arte, lembra o estilo de alguns clássicos fumetti – quadrinhos italianos – da Bonelli. A palavra, inclusive, está no encarte de Smoking Mata, onde Kash Fyre abusa engenhosamente de parônimos. Fumetti lembra fumar. Smoking é a roupa usada pelo Smoke, nome de alguém que mata, assim como a fumaça (smoke, em inglês) dos cigarros… e por aí vai.

Se você curte histórias de gangsteres e mafiosos, quadrinhos como Parker (2012), de Darwyn Cooke – uma das inspirações de Smoking Mata –, ou Torpedo 1936 (1979), de Enrique Abulí, pode ir tranquilo. E todo esse gênero é trazido para as conhecidas ruas de São Paulo.

Justamente pelo processo quase artesanal de produção da HQ – exceto a impressão, na gráfica, tudo é montado por Kash –, é um item bem raro. A última tiragem, de 2022, teve 30 exemplares e acabou praticamente na primeira semana.

Em 2019, Smoking Mata foi indicado para o 31º Troféu HQ Mix na categoria melhor projeto gráfico.  Honestamente e com todo respeito ao vencedor, o quadrinho em forma de caixinha de cigarros merecia ter ganhado.

Gostou do texto? Confira outros Ultimatos do David Horeglad (HQ Ano 1) para o UB!

RISCA FACA (2021) – O ULTIMATO

BEBÊS MANÍACOS DA LAGOINHA (2021) – O ULTIMATO

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Avaliação: Excelente!

Confira nossa entrevista com Kash Fyre! 

Compre Smoking Mata clicando na capa abaixo! .

UB Smoking Mata 5 CAPA


Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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