Ultimato do Bacon

Projeto Gemini – O Ultimato

Em 10 de Out de 2019 6 minutos de leitura
Projeto Gemini (Gemini Man)
Ano: 2019 Distribuição: Paramount
Estreia: 10 de Outubro

Direção: Ang Lee

Roteiro: Billy Ray; David Benioff, Darren Lemke (roteiro e história) 

Duração: 117 Minutos  

Elenco: Will Smith, Mary Elizabeth Winstead, Clive Owen, Benedict Wong

Sinopse: Projeto Gemini é uma inovadora história de ação e suspense estrelando Will Smith como Henry Brogan, um assassino de elite, que de repente se vê perseguido por um misterioso jovem agente que parece prever todos os seus movimentos.

 

 

[tabby title=”Alexandre Baptista”]

Will Smith em dobro, computação gráfica e altas aventuras

Novo filme de Ang Lee acaba sendo dispensável, especialmente quando seu grande diferencial não está disponível no Brasil

por Alexandre Baptista

 

Projeto Gemini, filme que estreia nesta quinta-feira, 10 de outubro nos cinemas brasileiros é a nova obra de Ang Lee, diretor de O Tigre e o Dragão (Wo hu, can long, 2000), o primeiro Hulk (2003) com Eric Bana, O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005) e A Vida de Pi (Life of Pi, 2012), pra nomear alguns de seus filmes mais famosos.

Com Will Smith no papel principal, Mary Elizabeth Winstead e Benedict Wong nos apoios e Will Smith Digital e Clive Owen no antagonismo, o longa parecia ser uma ótima pedida aos fãs de ficção científica de ação, ao estilo do recente Cópias – De Volta à Vida (Replicas, 2018), Soldado Universal (Universal Soldier, 1992) e sua franquia e, claro, a franquia Bourne (2002 – 2016).

O grande mérito do filme, no entanto, é um engodo, uma falácia. Pelo menos para o público brasileiro. Rodado em 3D, 4K e HFR 120 fps – oh, meu Deus, quanto palavrão – o longa promete ser um espetáculo visual como nunca visto. Só que há um probleminha: nem nos Estados Unidos as salas de cinema estão preparadas para projetar o filme como ele foi idealizado.

 

ATUALIZADO EM 10 de Outubro, 16:30: Segundo a Paramount, o filme será projetado no Brasil como foi idealizado. Leia materia sobre o assunto aqui.

 

Vamos às explicações: 3D acho que todos já sabem o que significa – a projeção da imagem em dois ângulos diferentes que, com o uso de óculos especiais, simula perspectivas oticamente, dando profundidade ao campo visual – o efeito de paralaxe – como na vida real; 4K alguns dos mais velhos talvez não saibam exatamente: significa 4000 pixels, a quantidade de pontos de resolução diagonal linear, presentes na imagem Ultra HD (8 milhões de pixels no total) – para comparação, a qualidade da imagem Full HD é de 1080 (4 milhões de pixels no total); HRF (High Rate Format), que significa formato de alta taxa e fps (frames per second) que significa quadros por segundo. O cinema tradicional, por exemplo, usa um formato de taxa padrão 5 vezes menor, de 24 “fps” ou quadros por segundo e, em suas origens, chegou a usar de 16 fps.

Parece empolgante, especialmente quando assistimos featurettes como esse aqui e lembramos de longas que inovaram na tecnologia e nos deslumbraram como Titanic (1997), Matrix (1999), Avatar (2009) e O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey, 2012) – que também usou o HFR, só que com 48 fps.

Só que o filme de Ang Lee não está disponível em 120 fps 4K em praticamente lugar nenhum. Segundo matéria do Polygon, apenas 14 salas nos EUA que irão reproduzir o filme de forma próxima ao intencionado, em 120 fps em 2K – a metade da qualidade original. Outras salas exibirão o filme em 4K, mas a 60 fps – a metade da taxa de reprodução original.

Pra ver o filme direitinho? Apenas na estreia do TCL Chinese Theater de Los Angeles, que proporcionou a experiência máxima. Ou então, em alguns cinemas da Ásia.

E no Brasil? Depois do primeiro filme do Hobbit, em que poucas salas tinham capacidade de rodar o HFR 48 fps, muitos cinemas se adaptaram para a continuação e, no ano seguinte, a quantidade de locais em que se podia conferit O Hobbit: A Desolação de Smaug (The Hobbit: The Desolation of Smaug, 2013) com a nova tecnologia, mais que triplicou.

Só que o 120 fps e o 4K exigem outros equipamentos, ainda mais tecnologia e capacidade para fazer o que os equipamentos atuais não fazem. É como a diferença entre um fogão residencial e um industrial. E por isso, até onde o Ultimato do Bacon conseguiu apurar, apenas duas salas em São Paulo terão capacidade de exibir os 120 fps – e ao que parece (ainda aguardamos confirmação), as sessões brasileiras do 3D+ serão em 60 fps e, assim como nos EUA, apenas em 2K.

“Mas eu vi várias sessões anunciadas em HFR…”

Seguimos apurando diretamente com as exibidoras e atualizações devem vir ao longo do dia de hoje. Mas ao que tudo indica, são salas que estão preparadas para um HFR de 48 / 60 fps e com definição de imagem Full HD 2K.

Ah cara, então tá legal demais… já é um formato melhor do que estamos acostumados!

Não, não é bem assim. Veja, um filme pensado em 120 fps e 4K tem exigências diferentes. O próprio Peter Jackson deu entrevistas e fez vídeos explicando que os prostéticos e maquiagens de O Hobbit, por exemplo, tiveram que ser repensados após os primeiros testes com os 48 fps! Isso porque o material tradicional parecia grotesco e grosseiro quando visto sob tanta definição e resolução. Imagine numa taxa 2,5 vezes maior…

O mesmo certamente se deu com a composição de Júnior – o Will Smith digital de 20 e poucos anos – de Projeto Gemini. O personagem digitial deve ter tido uma composição ainda mais rebuscada e perfeccionista para funcionar em 120 fps. Só que, tendo conferido o filme em um formato “normal”, ainda que em 60 fps, o espectador e os críticos ficam como a Glorinha: sem serem capazes de opinar.

Tudo isso pra explicar que o filme de Ang Lee já perde um bacon de saída. O segundo bacon perdido, pode ser justamente em função desta celeuma: é possível notar que o personagem digital, construído a partir de imagens de acervo da obra de Will Smith quando mais novo, é bastante “perfeito”, com texturas, pesos e densidades extremamente reais. Só que a iluminação e a movimentação, oscilam. Há algo de estranho, especialmente quando o Will digital está ao lado de Henry Brogan, o Will Smith real. E, apesar de imaginar que isso pode ser um efeito da “baixa qualidade de imagem” – para um filme 120 fps 4K, vê-lo em 60 fps 2K é como assistir um filme 2D normal em bootleg – o uncanny valley é bizarro demais para deixar passar.

Sim, a qualidade de imagem fica ruim. Não, não estou sendo chato. Se fazer uma redução de taxa ou de qualidade de imagem ficasse de fato bom, estaríamos até hoje usando o VHS, gerado a partir de transfers de DVD e Blu-Ray. Certo?

Pra piorar, o roteiro, Bourne demais para ser considerado novidade, é tão previsível e fraco que fico sem escolha a não ser tirar o terceiro bacon. E não, não é só a previsibilidade da história que me incomoda e sim, principalmente, a forma como tratam a clonagem. Bem "anos 80", época em que se pensava que a clonagem replicaria sentimentos, lembranças e características psicológicas. Além de clichê, bastante limitado e impreciso. Tosco até.

O elenco está muito bem em seus papeis e é sempre muito legal ver o Will Smith mandando ver em qualquer coisa. O cara é excelente. Wong, Owen e Winstead também são ótimos. Particularmente, não consigo pensar em nada ruim com a eterna Ramona Flowers, o bonachão Wong e o eterno Jack Manfred. Mas não são atuações brilhantes a ponto de recuperar nenhum bacon para o filme.

Já a direção de Ang Lee está inspirada, acredito que principalmente pela consciência do cineasta de que tantos detalhes, que passam despercebidos em uma projeção normal, estarão nítidos e visíveis em seu novo longa (sabe de nada, inocente!). São ângulos inusitados, detalhes profusos – especialmente na perseguição de moto na Colombia – e panoramas deslumbrantes, favorecendo a tecnologia que ele quis empregar na produção. Ok, bacon pra você Lee.

Ainda sobre essa tal cena de perseguição – e a posterior briga – com motocicletas, são dois bacons recuperados aí: trata-se de uma excelente perseguição de moto e a luta posterior, exageradíssima, é maravilhosa. Júnior usa a moto como arma, ao passo que Brogan é praticamente atropelado sucessivamente e sai andando. Ótimo.

No entanto, mais um bacon é retirado nos embates corporais. Infelizmente o "Fresh Prince da CIA" se move nas brigas como um personagem de Mortal Kombat, e o uso de uma base de motion capture talvez tivesse resolvido essa sensação de que estamos vendo uma luta de videogame. Talvez.

A trilha sonora é genérica, mas competente. E não dá pra falar mais nada sobre.

Por fim, a contagem de bacons só perde mais um graças ao momento “Lois Lane e a lança de kryptonita” de Danny, a personagem de Winstead, que deixa Júnior escapar mesmo estando com ele sob a mira de uma metralhadora.

 

“Ele SUMIU!”. Ah, claro. Uma agente da CIA, altamente letal e treinada, não consegue ajudar um parceiro ferido e manter um suspeito sob a mira de uma metralhadora…

 

A matemática não falha e o filme ganha um bom porque, apesar de sentirmos alguma diferença qualitativa, com mais nitidez e profundidade nas imagens, mesmo no 3D comum, o filme tem muito, muito pouco a ser aproveitado além dessa inovação tecnológica que, infelizmente, está disponível apenas para o cineasta, sua equipe e mais alguns sortudos espectadores residentes da Ásia.

A sensação que fica ao final de Projeto Gemini é a de ser convidado para um jantar de gala e, na hora do evento, não ter a entrada permitida.

 

 

Avaliação: Bom

 

 

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Trailer

 

 


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