Homem-Aranha no Aranhaverso venceu na categoria Melhor Animação e A Favorita decepciona: das dez indicações, levou somente uma. Pantera Negra garante três estatuetas
por Alexandre Baptista
A festa de premiação da Academia de Artes e Ciências em Cinema (Academy of Motion Picture Arts and Sciences) – o 91o Academy Awards – acontecido no domingo, 24 de fevereiro, foi uma celebração marcada pelo inusitado. Desde a falta do(a) costumeiro(a) apresentador(a) – ninguém aceitou o convite – substituído por vários apresentadores "volantes"; aos brindes enviados aos jurados (cada kit avaliado em US$ 148.000,00 e que incluíam um chocolate com cannabis); a polêmica sobre apresentar ou não os prêmios técnicos no interavalo da transmissão – sendo conferidos somente pelo público presente no Dolby Theatre em Los Angeles e a apresentação ao vivo de Queen + Adam Lambert – que haviam recusado o convite, voltando atrás logo em seguida. Tudo parecia ser um indicativo do anseio por e necessidade de mudanças que a Academia tentou desesperadamente implementar este ano.
No entanto, apesar de surpreender em algumas categorias, a premiação acabou como de costume, seguindo o Globo de Ouro, que pulverizou sua premiação, confirmando muitos dos principais favoritos como vencedores: Melhor Ator Coadjuvante ficou com Mahershala Ali em Green Book: O Guia (Green Book); Melhor Atriz Coadjuvante para Regina King em Se a Rua Beale Pudesse Falar (If Beale Street Could Talk); O Homem-Aranha no Aranhaverso (Spiderman: Into the Spiderverse), merecidíssimo, em Melhor Animação; Melhor Canção Original para Shallow de Nasce Uma Estrela, com um discurso emocionado de Lady Gaga; Melhor Diretor para Alfonso Cuarón em Roma.
O prêmio de Melhor Ator ficou com Rami Malek e apesar de parecer inesperado para muitos que o jovem ficasse com a estatueta, face a impressionante representação de Dick Cheney por Christian Bale em Vice, a orientação política do filme de Adam McKay acabou pesando, deixando o ator de Bohemian Rhapsody sem seu maior concorrente. Apesar de outros fortes representantes na categoria – Bradley Cooper em Nasce uma Estrela; Willem Dafoe em No Portão da Eternidade; e Viggo Mortensen em Green Book: O Guia; todos material de primeiríssima linha – o termômetro já apontava para Malek desde o Globo de Ouro, confirmando a premiação da HFPA como um dos maiores indicativos para o Oscar. Em seu discurso, Malek novamente agradeceu seus colegas de produção, os membros do Queen e num inesperado comentário político, mencionou a origem de Freddie Mercury como um imigrante na Inglaterra, comparando-se ao cantor nesse sentido e relembrando aos presentes que ele também, sendo a primeira geração nascida nos EUA, é filho de imigrantes egípcios. Por fim, dedicou o prêmio a Lucy Boynton, que interpreta Mary Austin no longa, com quem mantém um relacionamento desde as filmagens.
Outro prêmio que pareceu inesperado mas confirmou as expectativas reais foi o de Melhor Filme, que ficou com Green Book – O Guia. Dos demais concorrentes, Pantera Negra, Infiltrado na Klan, A Favorita e Vice – seja pelo gênero, estilo ou posicionamento político – seriam vitórias pouco prováveis e apontariam de fato alguma mudança no pensamento da Academia; A vitória de Roma seria inédita: por ser um filme não falado em inglês e uma produção mexicana, já tendo sido agraciado com Melhor Filme Estrangeiro, marcaria de fato um prêmio inusitado. Dos três remanescentes, Bohemian Rhapsody, Green Book: O Guia e Nasce Uma Estrela, o filme de Bradley Cooper com Lady Gaga foi o único a não levar o Globo de Ouro, diminuindo a lista de apostas para dois prováveis vencedores. Ficou com Peter Farrely.
Curiosamente, Melhor Filme foi a única categoria que o grande vencedor da noite – Bohemian Rhapsody – não levou. Das cinco indicações que tinha, o filme de Bryan Singer (removido da indicação de Melhor Diretor do BAFTA devido a seu envolvimento nos escândalos de abuso sexual), venceu quatro: Melhor Ator; Melhor Edição; Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som.
Homem-Aranha no Aranhaverso: o Oscar mais previsível (e merecido) da história.
Já o prêmio de Melhor Atriz marcou de fato um momento histórico e inesperado no Oscar. Se por um lado "a favorita" Glenn Close acabou sendo mais uma vez esnobada pela Academia, por outro a vitória merecidíssima de Olivia Colman por seu papel em A Favorita acabou deixando a maior parte do público perplexo. Assim como no BAFTA, seu discurso nervoso e atrapalhado foi um dos destaques da noite: sincero, engraçadíssimo e comovomente.
Nele, agradeceu ao diretor Yorgos Lanthimos; pediu desculpas a Glenn Close por ter vencido:
"Glenn Close, você tem sido meu ídolo por tanto tempo e não é assim que eu queria que fosse e acho você incrível. Eu te amo muito.";
dedicou o prêmio a seus pais e seus filhos:
"Minha mãe e meu pai … bem, vocês sabem… Meus filhos que estão em casa e assistindo, olhem! Bem, se vocês não estão, muito bem! [já passou da hora de dormir]. Eu meio que espero que vocês estejam – isso não vai acontecer novamente";
comentou que praticava o "discurso do Oscar" quando ainda trabalhava como faxineira:
"Eu costumava trabalhar como faxineira e adorava esse trabalho, passei bastante tempo imaginando isso. [ganhar um Oscar]"
foi sinalizada pela produção da premiação para finalizar o discurso:
"Oh, por favor, finalize?"
e então fez isso:
agradeceu comoventemente ao marido, aos presentes, a Frances McDormand (que entregou o prêmio a ela), a outras atrizes e por fim, a Lady Gaga, que devolveu a cortesia jogando-lhe beijos. Foi aplaudida por uma plateia em pé – sabe-se lá por quanto tempo, uma vez que entraram os comerciais em seguida na transmissão.
A Favorita no entanto foi a maior decepção da noite: tendo sido indicado em dez categorias, venceu somente esta última, marcando a principal diferença entre o BAFTA e o Oscar. Vice, de Adam McKay, graças a sua já mencionada orientação política, também ganhou somente em uma das oito categorias em que foi indicado – Melhor Maquiagem e Penteados.
Pantera Negra garantiu aos fãs de super-heróis três dos seis prêmios a que foi indicado – Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino e Melhor Design de Produção – coroando os 10 anos do Marvel Studios com seus primeiros Oscars e se tornando matéria-prima de muitas discussões ridículas entre os nerds.
Como é de praxe, a Academia lembrou-se também dos profissionais da área falecidos recentemente. Os destaques entre os homenageados foram Stan Lee, um dos criadores do Homem-Aranha; Milos Forman – diretor de clássicos como Amadeus (1984), Um Estranho no Ninho (One Flew Over The Cucko’s Nest, 1975), O Mundo de Andy (Man on the Moon, 1999), falecido em abril do ano passado; Bernardo Bertolucci diretor de O Último Imperador (The Last Emperor, 1987), Último Tango em Paris (Last Tango in Paris, 1972) e Os Sonhadores (The Dreamers, 2003); Margot Kidder, a eterna Lois Lane de Superman, O Filme (1978); Burt Reynolds, cujo último trabalho é o inédito Defining Moments e Bruno Gans, o Hitler de A Queda (Downfall, 2004), falecido há apenas dez dias, em 15 de fevereiro deste ano. O diretor brasileiro Nelson Pereira dos Santos (Vidas Secas, 1963), tido por muitos como um dos maiores nomes do Cinema Novo, também foi lembrado no painel. Nelson faleceu em abril de 2018 aos 89 anos.
Apesar de todas as polêmicas e trapalhadas da produção do evento antes da cerimônia, a celebração transcorreu sem grandes "elefantes na sala" este ano. As apresentações musicais de Queen + Adam Lambert; Lady Gaga e Bradley Cooper foram a contento e o ritmo da festa, dentro do esperado.
No entanto, as pausas comerciais a cada duas categorias apresentadas deveriam ser repensadas – comparada ao BAFTA que leva duas horas exatas e num ritmo muito melhor, a cerimônica do Oscar de fato está cada vez mais intolerável por suas constantes interrupções comerciais. Com a queda na audiência e o consequente aumento do número de comerciais para compensar a desvalorização do espaço publicitário, a Academia precisa de fato renovar a cerimônia com urgência a fim de evitar essa "espiral da morte" de uma apresentação tão importante para o cinema.
Conheça todos os indicados e vencedores do 91o Oscar 2019 abaixo:
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
Han Solo: Uma história Star Wars (matéria)
Missão: Impossível – Efeito Fallout
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