Depois da minissérie Zero Hora a DC Comics precisava de alguém para arrumar a história de um de seus maiores personagens mágicos. Shazam de Jerry Ordway é a resposta que a editora tanto procurava! O autor modernizou o personagem sem deixar de dar espaço para suas características clássicas que os fãs tanto gostavam. Sabemos que nos Novos 52 tivemos a modernização de Geoff Johns que seguiu por caminhos bem diferentes e por isso mesmo é tão bacana relembrar a fase de Ordway.
A fase de Ordway começa com a HQ de origem chamada no Brasil de Shazam A Origem do Capitão Marvel e segue em uma série própria batizada de The Power of Shazam! nos EUA. A série, que começou em 1994, teve 47 números regulares até 1999, além de um especial one-shot durante a saga A Noite mais Densa de Geoff Johns em 2010 e desenvolveu bastante o personagem e toda família Shazam.
Infelizmente só tivemos a publicação de 15 desses 47 números no Brasil! A editora Abril os publicou na série de 1995 Shazam #0 – #12 e um número perdido foi publicado em Os Melhores do Mundo #3 – esperamos que um dia isso seja corrigido! Shazam de Jerry Ordway contou com grandes artistas como Mike Manley e Dick Giordano nas ilustrações.
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O Shazam de Jerry Ordway traz tramas mais simples que não deixam de ser emocionantes.
As grandes tramas do Shazam de Jerry Ordway
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O grande mérito do Shazam de Jerry Ordway é a forma como ele trata o tema família. Na versão de Ordway, os pais de Billy Batson trabalham como arqueólogos e são mortos pelo homem traiçoeiro que é a reencarnação do Adão Negro. A tragédia continua quando Billy é colocado aos cuidados de seu tio Ebenezer Batson, que rouba a herança da criança e o coloca na rua, enquanto sua irmã Mary desaparece.
Boa parte da trama dos primeiros arcos gira em torno do sumiço da irmã de Billy e de seu papel enquanto herói de Fawcett City – tudo isso sem deixar de lado os problemas legais (no sentido de lei mesmo) que uma criança que mora sozinha enfrenta.
O mago do Shazam de Jerry Ordway é mais próximo de Billy e tenta, na medida do possível, ajudá-lo. A família Shazam vai crescendo quase que organicamente enquanto o espírito de partilha de Billy – e depois de Mary – faz com que eles doem parte dos poderes de Shazam com aqueles que consideram como sua família.
Diversos vilões perigosos aparecem, mas a imaturidade – apesar da sabedoria de Salomão – de Billy, Mary e Fred acabam sempre ganhando os holofotes (aliás, Fred é extremamente autoconfiante na versão de 1995!).
O Mago relembra que não deu os poderes de Shazam ao pai de Batson porque haviam muitos outros heróis naquela época
A família de Billy e Mary passa longe de ser um desapontamento para os personagens como no filme de 2019. O Mago, em dado ponto da história do Shazam de Jerry Ordway, revela que os poderes de Shazam teriam ido para seu pai se não tivessem tantos heróis para defender a Terra – vale lembrar que na série o autor também diz que o aspecto do então chamado “Capitão Marvel” era por conta da admiração que Billy tinha pelo pai. O fato de os pais serem admiráveis não torna a versão de Ordway menos triste ou trágica – afinal os pais foram assassinados de maneira brutal.
Sabe aquelas HQs que possuem um ar clássico? É exatamente o que temos nesta série. Entendo perfeitamente que o Johns fez foi trazer o personagem para os tempos atuais mas o trabalho de Ordway reflete tramas mais simples que não deixam de ser emocionantes e de terem algo para falar. O autor é inclusive um dos únicos a explorar o passado do mago e contar a origem dos poderes de Shazam.
Shazam de Jerry Ordway conta a origem do Mago que dá os poderes para Billy Batson
Ordway estabelece que o Mago – em um passado muito distante – era um menino que descobriu sua aldeia chacinada e pediu aos Deuses uma explicação. Os deuses atenderam ao menino que não pediu por vingança e sim por uma forma de fazer justiça e de tentar impedir que aquelas tragédias acontecessem de novo. Os Deuses então presentearam o menino com o poder de Shazam e disseram que o poder era dele enquanto ele fosse digno.
A história de porque ele está sentado na Pedra da Eternidade e porque ele precisa de um sucessor também são exploradas quando descobrimos um mal pior do que os famosos Sete Pecados Capitais. Ordway estabelece que a Pedra da Eternidade é a prisão do demônio Terror, Pecado e Perversão e que o Mago é seu carcereiro.
Billy tem reações hilárias quando belas jovens se jogam aos seus braços na HQ Shazam de Jerry Ordway
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O interessante é que Ordway cria vilões a partir dos erros do mago (e não estamos falando da escolha de Teth-Adam para Adão Negro). Ele estabelece a vilã Blaze, um dos gêmeos do mago com uma demônia que o enganou para ter uma noite de “amor”.
É a vilã, inclusive, a responsável por boa parte dos problemas que ocorrem nos arcos iniciais – tudo movido pelo ódio que sente de seu pai. O autor ainda encontra espaço para atualizar conceitos amados pelos fãs como o tigre Sr. Malhado – que agora vira um boneco de pelúcia encantado – e o caricato Sr. Dudley, que sempre tenta ajudar Billy e chega até a partilhar os poderes de Shazam!
Dudley é um simpático senhor que ajuda Billy e chega até a partilhar os poderes de Shazam!
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O Shazam de Jerry Ordway – conclusão
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Por mais que a fase do Shazam de Jerry Ordway não tenha sido lançada por completo no Brasil, é seguro dizer que o que foi lançado merece ser conferido pelos leitores – até porque fecham-se os arcos iniciais e estabelece-se Fawcett City!
É uma ótima oportunidade para leitores que só conhecem a versão de Johns poderem ter uma noção da versão mais “clássica” do herói! Fique avisado, porém, que se você é o tipo de leitor que gosta de histórias mais darks, sombrias e sérias a série certamente não é para você.
O Shazam de Jerry Ordway possui muitos pontos positivos e faz os leitores terminarem os arcos com um sorriso no rosto. Algo incomum nas HQs atuais e que merece ser valorizado!
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Confira nossa coluna Baú de HQs e HQs Brasileiras!
Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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