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O Relatório de Brodeck – O Ultimato

Em 5 de Mar de 2021 3 minutos de leitura

O ser humano é mau por natureza? A HQ O Relatório de Brodeck é uma adaptação do livro homônimo, escrito por Philippe Claudel, e para fazer uma resenha bem-feitinha, vou precisar me aprofundar um pouco em temas filosóficos. Mas fique tranquilo pois não vou me atrever a fazer um mergulho profundo na fossa das Marianas… vai ser algo leve, como numa pequena lagoa. Então, bora para a resenha?

Quero voltar na pergunta que fiz ao início e te convidar para uma reflexão: o ser humano é mau por natureza? Intrinsicamente, temos a ruindade enraizada em nosso coração? Será que, como diz o teórico francês Jean-Jacques Rousseau, o meio influencia no homem? Seria isso consequência do pecado original cometido por Adão?

Ao analisarmos parte da obra do filósofo inglês Thomas Hobbes, podemos enxergar que o homem é um ser medroso, preocupado consigo mesmo e a fim de perpetuar seu poder. E nosso personagem principal, Brodeck, um sobrevivente do Holocausto e escrivão, está aqui para testemunhar essa teoria.

Vamos mergulhar no mundo de O Relatório de Brodeck

A história se passa logo após o término da segunda guerra, num vilarejo que não é especificado, mas claramente faz fronteira com a Alemanha. Obviamente, o povo ali é sofrido, as cicatrizes da guerra ainda estão abertas e a desconfiança para o novo é enorme.

conheça a hq o relatório de brodeck

Um forasteiro, que aparentemente não quer problemas com ninguém, chega ao vilarejo. Mas, que por conta esse medo e desconfiança antes citados, acaba virando vítima fatal dos moradores. Brodeck então, é intimado pelos habitantes, a fazer um relatório que buscasse isentar o vilarejo de tal crime, já que ele é o único ali que possui alguma habilidade com a escrita.

E enquanto escreve o relatório, Brodeck acaba revisitando seu passado e descobrindo como os habitantes do vilarejo foram permanentemente alterados, no seu âmago, pelas desgraças da guerra.

Ao decorrer da HQ, o autor vai nos revelando algo já amplamente explorado na cultura pop: a crueldade do nazismo. Mas Manu Larcent consegue representar os soldados (e até os cães) de uma forma que eu nunca havia visto: a cabeça deles é disforme, com um aspecto maligno e monstruoso.

A arte é uma das coisas mais espetaculares que eu já vi desenhadas em preto e branco. É tão rica em detalhes e veracidade, que é impossível não se ver envolvido na trama. Ele tem um domínio absurdo de iluminação e trabalha muito com sombras. O quadrinho é pesado o tempo todo, com muita tinta preta sendo trabalhada e por vezes revelando bem pouco da cena, deixando o ambiente soturno e abafado. O formato wide screen colabora para os quadros mais horizontais, o que dão uma fluidez e um ritmo de leitura muito bons, com uma estética cinematográfica.

Há ainda no quadrinho alguns diálogos excelentes, que me fizeram tirar os olhos do gibi e ficar olhando a parede, degustando o que havia acabado de ler. Um destaque especial é a conversa que Brodeck tem com seu amigo Diodéme e que com o padre. Se você ainda não leu, fique esperto nesses diálogos; mas se você já fez essa leitura, sabe do que estou falando!

Lá no século 16, o já citado Thomas Hobbes concluía que o homem, em seu estado de natureza (ou seja, antes da sociedade), é o lobo do próprio do homem. Ele afirma que, para determinados fins, o homem é capaz de qualquer coisa… seja usando a razão, a paixão, a experiência ou a força física. Hobbes dizia que o homem era egoísta, preocupado com a autopreservação e não preocupado com a conservação do estado e do governo. E o que ocorre nessa história, se não isso?

O que Brodeck vivencia em seu vilarejo é uma demonstração de que o ser humano, quando acuado e com medo, pode recorrer à violência para manter a segurança do que quer que ele esteja defendendo; e, no caso dessa história, o povo que recentemente havia vivido e presenciado o genocídio, sentiu-se ameaçado pela chegado de um estranho… e resolveu cortar o “possível mau” pela raiz. Em resumo, o desejo de se conservar, de manter sua própria vida, de perpetuar sua própria existência… como escreveu Thomas Hobbes, em sua obra máxima, O Leviatã.

O Relatório de Brodeck é um quadrinho sobre a condição humana, sobre buscar entender o próximo, sobre o ódio enraizado e sobre as consequências de seus atos. É um gibi excelente, que vai além de contar uma trama… ele se preocupa em levantar discussões e te fazer refletir.

Publicado no Brasil em 2019 pela editora Pipoca e Nanquim, em formato wide screen, capa dura, 332 páginas impressas em papel polen Bold. Vem uma luva (caixinha) para guardar o quadrinho na vertical. Acabamento excelente e um visual “classudo” que, quando você pega na mão, sabe que vai ler algo especial. Um gibi indispensável.

Avaliação: Excelente!

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Confira também a resenha em vídeo de o Relatório de Brodeck

Aproveite para conhecer também a Trilogia Gatilho que será relançada em volume único pelo Pipoca & Nanquim!

 

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Créditos:
Texto: Kim Martins – @review.express
Imagens: Reprodução
Edição: João Maia
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