Ultimato do Bacon

Nightflyers – Entrevista exclusiva com os dubladores principais da série

Em 8 de Fev de 2019 8 minutos de leitura

Karen Giraldi e Yannes Zola falaram com o Ultimato do Bacon sobre os desafios em dublar a nova série baseada num conto de George R. R. Martin de Game of Thrones

por Diego Brisse & Alexandre Baptista

 

Nightflyers, nova série com 10 episódios baseada em um conto de George R.R. Martin estreou dia 01 de fevereiro na Netflix e já teve sua primeira temporada exibida de 02 a 13 de dezembro pelo SyFy. O conto de 1980, expandido em 1981, ganhou o Locus Award naquele ano e foi indicado ao Hugo Awards, atestando a qualidade da escrita de ficção científica de horror proposta por Martin.

Na trama, o planeta Terra está em risco de destruição e, com ele, toda a humanidade. Para tentar evitar a catástrofe, uma equipe de exploradores embarca no Nightflyer, um veículo espacial extremamente bem equipado, a fim de interceptar uma espaçonave alienígena e dar uma chance de sobrevivência às pessoas. No entanto, à medida que a viagem se aproxima do destino final, os tripulantes logo encaram as consequências de ficarem dependentes da inteligência artificial e do capitão da nave espacial.

O Ultimato do Bacon teve a chance de entrevistar Karen Giraldi e Yannes Zola que dublaram a Doutora Agatha Matheson (interpretada por Gretchen Mol) e o Doutor Karl D’Branin (Eoin Macken), dois dos personagens principais da série que, apesar da morna recepção nos Estados Unidos, deve ganhar força com o lançamento da plataforma de streaming em mais países, incluindo o Brasil.

 

Ultimato do BaconNightflyers é a primeira obra de George R. R. Martin a ser adaptada para a televisão depois do sucesso de Game of Thrones. Como foi trabalhar em um material tão importante e com tanta visibilidade?

Karen Giraldi – Foi uma sequência de sentimentos. Quando cheguei ao estúdio e descobri que o seriado a dublar seria de ficção científica, meu gênero favorito, dei um gritinho de alegria! E depois que soube que era adaptação do George R. R. Martin foi um misto de felicidade, empolgação e receio. Porque mesmo trabalhando sempre com muito esmero, quando sabemos que um projeto tem esta importância, a cobrança interna aumenta ainda mais para fazer um ótimo trabalho.

Yannes Zola – A gente sabia da importância dessa obra desde que ela chegou. Vimos a magnitude do trabalho e como devíamos nos atentar ao texto e à adaptação. Fizemos um trabalho minucioso nesse sentido: dublagem, interpretação, nuances da interpretação… um tom mais baixo, de suspense. Foi necessário um trabalho mais “caprichado” – obviamente que procuramos fazer nosso melhor em todos os trabalhos – mas com a visibilidade deste material, tínhamos uma preocupação, uma ansiedade maior em fazer uma boa dublagem. Foi uma oportunidade incrível e uma mega experiência.

 

UB – Considerando o clima de suspense e terror da obra e as surpresas no final, quais foram os desafios na dublagem do material? Você recebeu indicação do que aconteceria ao seu personagem ou foi descobrindo a cada gravação?

KG – A Doutora Agatha Matheson, a personagem a quem dei voz, tem uma forma branda de falar. O desafio foi encontrar o equilíbrio entre a voz original suave, a melodia da voz em português, e os gritos que surgiam de vez em quando (risos). No momento da gravação, recebia da direção um breve panorama do que estava acontecendo antes da cena, e na hora da gravação da dublagem descobria o que iria acontecer dali pra frente.

YZ – Todo esse clima de suspense, terror, foi um desafio maior na hora de dublar. Nossa diretora, Mônica Placha, conta com dois assistentes na direção, o Bruno Rodrigues e a Nani Teixeira. No primeiro episódio que gravei de Nightflyers, a Nani me passou todo o release de como era a série, do que se tratava, a importância do material para o cliente e o público… ela me passou um pouco de como seria a abordagem do material; meu personagem, o Dr. Branin; e então tivemos uma conversa, antes de começar as gravações, para entender como era esse mundo de Nightflyers [o universo dos Mil Mundos], o que foi de fundamental importância para o trabalho.

Conhecer o material antes te dá a oportunidade de aprofundar mais a interpretação e ter uma noção mais completa do que se está fazendo. Isso obviamente alongou o tempo de gravação do primeiro episódio (risos) porque a gente via a cena muitas vezes pra entender direito o que estava acontecendo, qual era o tom, pra onde o roteiro caminhava, quais as implicações… então conseguimos fazer um bom trabalho desde o começo, justamente por esse respaldo de um certo “estudo” do material antes de gravarmos de fato. Inclusive, a Nani [Teixeira], estudou o material anteriormente, pra poder nos passar exatamente o que era necessário para cada cena de fato funcionar. Esse respaldo que tivemos da direção foi de suma importância.

 

UB – Agora, pensando na tradução, Nightflyers, o conto original, ainda não possui versão em português, embora faça parte do mesmo universo dos Mil Mundos apresentado no Brasil pela editora LeYa em 2012 (no primeiro romance de Martin, A Morte da Luz, publicado originalmente em 1977).

Haveria alguma adaptação digna de comentário, em relação a termos e nomes da série, feita pela dublagem? Havia liberdade para esse tipo de alteração ou a tradução era fixa?

KG – Sempre há liberdade de alteração na tradução do texto para que a fala da dublagem caiba no tempo da fala original, desde que não mude o sentido. As alterações são sugeridas ora pelo diretor, ora pelo dublador ou em conjunto. Por isso, para ser um bom dublador, é também muito importante ter conhecimento de interpretação de texto e vocabulário.

YZ – Em relação à tradução, acredito que fomos bastante fiéis ao que estava no texto [traduzido]. Temos alguma liberdade para adaptar o texto, principalmente em função do sync [sincronismo] labial ou alguma intenção da cena… mas nunca mudando nomes originais. Havia uma opção de traduzirmos o título da série, mas preferimos manter o original; achamos que ficaria melhor assim. Acredito que não houve nenhuma mudança concreta na tradução realizada pelo estúdio. Somente pequenas mudanças sem relevância e sem alterações de sentido.

 

UB – Você já conhecia a obra de George R. R. Martin antes deste trabalho? Qual a sua relação com os livros do autor e com a série da HBO, Game of Thrones?

KG – Eu ainda não conhecia a história de Nightflyers, mas depois deste trabalho, fiquei curiosa para conhecer mais sobre o universo dos Mil Mundos. Quanto aos livros do autor, ainda não li nenhum. Sou fã da série Game of Thrones e costumo me reunir com amigos para assistir as temporadas logo que são lançadas. Depois de assistir, costumo acompanhar no YouTube canais que comentam sobre os episódios.

YZ – Eu também não conhecia esse trabalho dele e confesso que assisti somente os seis primeiros episódios de Game of Thrones… mas sei da fama do seriado: ninguém fica vivo, não se afeiçoe aos personagens, eles vão morrer! (risos) Então eu sabia que alguma coisa forte viria em Nightflyers. Eu tinha certeza da magnitude do projeto. Mas não conhecia a obra em si e o que soube de Nightflyers antes de gravar foi o que a Nani [Teixeira] me passou. Foi um desafio muito gratificante que vou levar pra sempre na minha vida e com um resultado final que eu gostei bastante.

 

UB – A série estreou em dezembro no canal SyFy e teve uma recepção um pouco fraca nos Estados Unidos. Você teria alguma opinião sobre isso? O que você achou da série? Você acha que com a estreia mundial na Netflix a “balança” pode virar?

KG – Eu acredito que é natural que o sucesso de Game of Thrones tenha criado uma grande expectativa quanto a novas adaptações de George R. R. Martin. Eu gostei muito da série. Adoro ficção científica misturado com suspense e um toque de terror, os efeitos visuais estão incríveis, e devorei a temporada em 2 dias! E acho que com a estreia mundial, a percepção da série irá melhorar, porque provavelmente as pessoas que assistiram logo no lançamento nos Estados Unidos, estavam imersos na "expectativa de um novo GOT". Na Netflix o público é mais heterogêneo, e certamente quem também gosta do gênero irá se divertir como eu e meus amigos nos divertimos ao assistir.

YZ – Confesso que quando soube da fraca recepção nos EUA eu fiquei um pouco preocupado, afinal estaríamos participando de um trabalho que já vinha com uma crítica pesada… bater forte na série e, em seguida, bater forte na dublagem… seria um pulo. Mas essa informação veio depois de já termos finalizado as dublagens. Não interferiu no psicológico de ninguém durante o trabalho.

Eu já assisti a série e gostei bastante, achei surpreendente em vários aspectos. Mas entendo as críticas. O ritmo oscila muito, em alguns pontos ela cai um pouco. Não há um foco, o que deixa talvez a série confusa para muitos expectadores. Espero sinceramente que haja uma segunda temporada porque muitas coisas ficam em aberto… e torço para que o público brasileiro goste da série.

Algo que pode ter influenciado também [as críticas negativas] é a comparação com Game of Thrones… “ah, deve ser parecida com aquela”. Isso deixa a expectativa lá no alto e Nightflyers é outra pegada. Acredito que tenha sido um dos primeiros materiais escritos do Martin e a escrita dele deve ter melhorado depois disso… mas enfim, a série é ótima e estou ansioso para que venha uma segunda temporada.

 

UB – Por que assistir Nightflyers dublado?

KGNightflyers está belíssimo. Efeitos especiais, detalhes da nave, efeitos de profundidade, fotografia, tratamento de cor. Contrastes entre cenas frias em tons de azul, cinza e preto, com as estufas internas, de um verde vivo, terráqueo, e também o vermelho sangue que aparece muitas vezes. Embora hajam controvérsias, ao ler a legenda, você perde um pouco da percepção dessa bela combinação visual. Quando a obra é dublada, você tem toda a tela para passear com os olhos, tanto em momentos de silêncio quanto com falas.

YZ – Eu sempre falo isso: alguns amam produtos dublados, outros odeiam. Mas vamos para o lado técnico: Nightflyers é uma série bem complexa, com muitos detalhes, como a Karen mencionou. Você tem que prestar atenção. Às vezes o foco está em algo, mas está acontecendo nos outros planos muito mais coisa. Nesse caso, ler a legenda pode inclusive te atrapalhar nisso. Com o áudio no seu idioma nativo, você pode dedicar sua atenção a todos os detalhes e aproveitar bem mais a série. Agora, se você entende o inglês de maneira perfeita, você pode desligar a legenda e assistir o seriado em sua forma original. Mas a dublagem está muito bem-feita e você ganha por poder manter sua atenção no todo e no detalhe.

 

UB – Você tem alguma dica, recado ou orientação pra quem é fã de dublagem e sonha trabalhar com isso?

KG – Se profissionalizar em dublagem leva um certo tempo. Antes de investir tantos meses e anos na preparação, o ideal é sentir o gostinho de ser dublador num curso de dublagem. Se a paixão acontecer, entre numa escola de teatro. Normalmente é necessário cerca de 3 anos e muitas apresentações para se formar como ator, e somente atores profissionais com DRT podem trabalhar na área. Em paralelo, assista a muitos filmes, séries e animações dublados. Depois que passar pelo curso de dublagem vai assistir com outros 'ouvidos'. Para exercitar, pode silenciar a cena e tentar encaixar uma fala no lugar. Grave-se, filme a tela enquanto dubla, assista. Somente nos escutando conseguimos ter clareza nos aspectos que precisamos melhorar. Boa sorte!

YZ – Dica pra quem quer ser dublador: primeiro de tudo é ser muito dedicado, ter uma ótima leitura, boa dicção. Sempre que puder, leia livros, textos em voz alta. Faça [consultas e tratamento com] fono[audióloga(o)] para que você tenha força na sua voz e saiba de onde tirar a voz, sem se machucar. Afinal você vai usa-la muito. Algumas pessoas acreditam que, por falarem o dia todo, não precisam dessa orientação… Mas não é bem assim. [Dublar] é uma maneira diferente de falar. Você está em um estúdio, existe um texto definido e uma direção a ser seguida. Às vezes é possível adaptar? Sim. Mas você tem que saber a hora de fazer isso e o porque fazer a adaptação. Precisa fazer sentido. E precisa ser aprovado pelo diretor. E às vezes, pode até não dar certo.

Além disso, como a Karen mencionou, é necessário que o dublador(a) seja ator /atriz, tenha essa formação de Artes Cênicas. A dublagem nada mais é do que artistas emprestando a voz para outros artistas, em outro idioma. Você precisa entender o trabalho do outro e reproduzir isso no seu próprio idioma, para que fique o mais natural e orgânico possível.

Faça exercícios vocais, cuide bem da sua voz. Faça um curso de dublagem – é necessário saber como funciona a dublagem também. Bons atores às vezes não são bons dubladores, por uma série de motivos.

Por fim, um bom trabalho de dublagem passa despercebido pelo público: a voz tem que combinar com o personagem, as batidas labiais em sincronia com o som, as intenções têm que estar em sintonia, pra que o material não fique discrepante do original. O público precisa entender tudo, do começo ao fim, e acreditar no que está vendo e ouvindo.

Esses são alguns pontos muito relevantes pra quem sonha em trabalhar com dublagem. E garanto, trabalhar com o que se gosta é a coisa mais fantástica do mundo.

 

O Ultimato do Bacon agradece a paciência e disponibilidade de ambos, torce para que a série tenha uma segunda temporada e convida quem está lendo a conferir nossa crítica da série em breve por aqui, além de conferir um vídeo gentilmente cedido pela Karen Giraldi, em que ela simula a dublagem (as dublagens profissionais não podem ser registradas por contrato) feita em Nightflyers.

 

Karen Giraldi – Agatha Matheson

 

Nightflyers – Trailer Oficial Dublado

https://youtu.be/zPjo1SXiOEw

 

 


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