Ultimato do Bacon

Kombi 95 (2017) – O Ultimato

Em 2 de Jul de 2021 4 minutos de leitura
Kombi 95 (2017) – O Ultimato

Na febre do termo “cringe”, conheça a HQ que retrata essa geração

Quem nunca acessou aquelas páginas destinadas a rememorar objetos típicos de determinada década na internet? Thiago Ossostortos fez a proeza de concentrar quase todas essas lembranças de quem cresceu na década de 1990 – hoje considerada “cringe” – nas 128 páginas de Kombi 95 (2017). E o mais incrível é que apesar de a HQ parecer um catálogo de imagens nostálgicas, tudo se encaixa em um enredo muito divertido e com ótimos pontos de virada.

A aterrorizante Kombi dos Palhaços – inspirada no boato do Bando do Palhaço, que sequestrava e roubava os órgãos de crianças e chegou a ser capa do Notícias Populares na época – serve de pano de fundo para a aventura. O quadrinho, lançado pela editora Plot!, é a primeira história longa – de sete capítulos – de Ossostortos, que publicou diversos bons títulos na sequência, como Os Últimos Dias do Xerife (2018), Mjadra (2020) e Dois Mil e Um Chopes (2021).

Em Kombi 95, Ossostortos preparou uma playlist – com direito a Mamonas Assassinas, Só Pra Contrariar, Racionais MC’s e Chitãozinho e Xororó – para embalar a leitura, que pode ser acessada por um código QR. Trechos das músicas, inclusive, são usados pelo autor para contribuir com a ambientação e com os acontecimentos da HQ.

Kombi 95 (2017) – O UltimatoA banca do Xandison é lugar carimbado para o trio de amigos

Qual o enredo de Kombi 95

Na periferia da Grande São Paulo, o trio de amigos Gelinho, Foguinho e Umbigo – as vezes reforçados por Lumbriga e Waldirene – investigam o desaparecimento de Albino, um dos jovens moradores do bairro. Logo nas primeiras páginas vemos prateleiras de jogos de Mega Drive e Super Nintendo em uma daquelas casas de vídeo game em que se pagava por hora para jogar – a HQ já começa com a expectativa lá em cima para quem viveu isso –.

Saindo de lá, Gelinho convence o Xandison da banca – que também reservava os álbuns do momento, como do Dragon Ball e d’Os Cavaleiros do Zodíaco – a vender uma revista adulta. O comerciante embrulha em uma folha de jornal para disfarçar e, quando Gelinho vê o papel amassado, a manchete: “Kombi dos Palhaços apavora escolas”. As suspeitas do sumiço de Albino logo caem nos “palhaços assassinos”.

Banner Suenero UB

Paralelamente à investigação, acompanhamos os protagonistas em aventuras típicas da garotada dessa geração, como decidas de rolimã, skate e bicicleta no meio das ruas, as idas a uma floresta da região e o salto de pêndulo em uma árvore alta. Ambientes como a escola, a cantina, a padaria e os quartos cheios de pôsteres de bandas também marcam presença.

É no segundo capítulo, “Os Caça-Palhaços”, que o grupo – agora com um nome que faz total referência ao filme Os Caça-Fantasmas (1984) – começa a se organizar para descobrir o que houve com Albino, quem são os tais palhaços e, nas palavras de Foguinho, “dá skeitada na cara deles.”

E é exatamente isso que eles fazem quando encontram um palhaço de Kombi branca no estacionamento da escola. Se o sujeito fantasiado era um assassino ou não, vou deixar você conferir na HQ.

Kombi 95 (2017) – O UltimatoA Kombi dos Palhaços aterroriza a molecada do bairro

Vale a pena ler Kombi 95?

Para quem cresceu nos anos 1990, não preciso nem dizer por que Kombi 95 é mega indicado. A nostalgia é imensa. Quando vi a tia Neyde da cantina, logo me lembrei do Miguel, o senhor que vendia lanche durante o recreio onde eu estudava.

E a leitura vai causando isso, revive aquela década tanto pelas lembranças geracionais – como os programas de TV, as propagandas, as músicas – quanto pelas recordações particulares que vamos puxando na memória por associação.

É interessante perceber que o quadrinho é bastante autobiográfico. Ossostortos nos conta no material complementar da HQ que a maioria dos personagens são uma mistura dele e dos amigos. Os lugares, inspirados na escola e no bairro em que morou.

Provavelmente por isso, Ossostortos teve tanta propriedade em falar de uma época onde a molecada cresceu sem a web mediando as interações sociais. Consequentemente, foi a última geração que passou mais tempo na rua do que em casa. A impressão é a de que era um tempo muito mais livre, menos complexo e que podíamos fazer tudo. É isso que Kombi 95 nos passa em cores vivas e traços descontraídos, cartunescos.

Não sei se a HQ tem o mesmo impacto para gerações mais velhas. Mas aqui vai um recado específico para o leitor da geração Z (nascidos entre 1996 e 2010): se você acha que os millenials (nascidos entre 1981 e 1995) causam “vergonha alheia”, talvez com Kombi 95 possa entender o motivo dessa geração ter orgulho de ser “cringe”. Eu posso dizer sem problemas que tomo café da manhã, curto séries antigas e andei muito de skate quando era moleque. *

*“Cringe” é um termo utilizado como sinônimo de mico ou “vergonha alheia” que nos últimos dias esteve entre as palavras mais buscadas no Google. Mais especificamente, é uma gíria atualmente usada pela geração Z para designar costumes e gostos da geração do milênio, como – acredite se quiser – tomar café da manhã, usar calça skinny, acessar o Facebook e pagar contas com boleto. Na tradução literal, o verbo “to cringe” significa “encolher-se (de medo ou vergonha)”.

Compre Kombi 95 clicando na capa abaixo! 

Kombi 95 (2017) – O Ultimato

Quer debater sobre quadrinhos, livros, filmes e muito mais? Venha conhecer nosso grupo no Whatsapp clicando aqui!!!


Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
Compre pelo nosso link da Amazon e ajude o UB!


Quer debater Quadrinhos, Livros e muito mais?

Conheça nosso grupo no WhatsApp!

Quero participar

Notícias relacionadas

Ultimato do Bacon Editora

Ultimato do Bacon Editora

18 de Jan de 2021

Nós usamos cookies para garantir que sua experiência em nosso site seja a melhor possível. Ao navegar em nosso site você concorda com a nossa política de privacidade.

OKPolítica de privacidade