Homem de Aço (2013) de Zack Snyder tinha a pesada responsabilidade de tentar iniciar o universo compartilhado da DC nos cinemas.
Desde o início a produção teve lá suas polêmicas, desde declarações estranhas e duvidosas dos produtores, motivações jurídicas para a produção do filme, escolha de elenco, trailers que entregavam boa parte das surpresas do filme, enfim, não foi nada fácil.
Para “ajudar” ainda mais o filme estreou no aniversário de 75 anos do personagem, o que trazia mais um peso. Mas será que Homem de Aço conseguiu cumprir tantas expectativas?
Antes de mais nada é válido contextualizar o momento. Homem de Aço começou a ser desenvolvido por Christopher Nolan e David Goyer ainda durante a gravação do Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012).
O Cavaleiro das Trevas (2008) havia alcançado 1 bilhão de bilheteria, ganhou Oscar de melhor ator coadjuvante, uma categoria incomum até então para um filme de super herói que geralmente só vence em categorias técnicas e acima de tudo o filme é até hoje um sucesso quase absoluto de crítica.
A Warner tinha acertado com precisão no universo sombrio e realista para o Batman, contrastando com a até então jovem concorrência da Marvel que apostava em um tom mais leve (mesmo tendo feito o primeiro Homem de Ferro mais “cinza”). Diante disso a Warner resolveu aproveitar essa fórmula mais sombria e realista no filme Homem de Aço, o que desagradou alguns fãs e agradou outros.
Um dos momentos mais intensos do filme. A batalha de Smallville.
Eu sou um grande defensor do filme, mesmo reconhecendo suas falhas. A história toda tem uma profundidade emocional que funciona muito para essa versão do personagem.
Aqui vemos muito mais de Clark Kent/Kal-El do que do próprio Superman, o que nos permite ver o desenvolvimento do herói passando por diversos momentos de dúvida, o tradicional questionamento sobre o sentido de sua vida naquele mundo e em especial a tristeza da solidão em ser um ser único.
A primeira parte do filme que explora essa busca por seu lugar no mundo renderia muito mais história e por ser tão boa, incomoda a maneira como tudo parece corrido na tela, mesmo ficando nítido que o que vemos é apenas uma fração dessa jornada. A atuação de Henry Cavill é muito sutil e precisa, entregando tudo que o personagem precisa, dos momentos mais emocionantes aos mais tensos.
Os paralelos religiosos, que trazem a relação Jesus Cristo e Superman, com o conceito de ser um farol moral, uma inspiração para a humanidade é muito forte aqui, apesar de não ser novidade.
Desde o nascimento até uma simbólica crucificação, rever o filme com isso em mente, pode te fazer notar coisas novas. O que mais agrada aos fãs de HQs (quadrinhos) são as referências a materiais clássicos de excelência como Superman Grandes Astros e Legado das Estrelas.
No filme temos alguns diálogos utilizados na íntegra, tirados dessas hqs. Mesmo assim o filme tem uma identidade própria e traz uma versão peculiar, quase única do personagem. Talvez a versão nas HQs mais próxima seria a do Superman Terra Um.
A trilha sonora de Hans Zimmer é perfeita, sendo responsável por desenvolver muito do filme. É incrível como isso faz diferença em Homem de Aço, de fato um dos trabalhos mais inspirados do já renomado compositor, que faz diversas referências ao tema clássico do filme de 1978.
Uma das grandes expectativas era o equilíbrio entre o realismo advindo do Batman de Nolan com a ficção fantasiosa. Em alguns momentos incomoda a necessidade de tentar justificar cientificamente coisas inexplicáveis, o que traz algumas incoerências que podem irritar os mais chatos.
Ao mesmo tempo o realismo falha ao permitir a sobrevivência de um ser humano normal ao escalar uma “montanha” congelada num clima de -40º. Ok, perdoável. Não precisava tentar explicar o voo, mas explicar a existência de um certo campo de força, inutilizaria algumas críticas à uma determinada cena.
Não faltam referências religiosas em Homem de Aço
As cenas de ação, que eram a grande expectativa do filme, entregam muito do esperado. Infelizmente boa parte já havia sido mostrada nos trailers, mesmo assim é incrível ver momentos como a batalha em Smallville e o confronto de “deuses” no final do filme.
Uma das cenas mais emocionantes é o primeiro voo, que explora paisagens lindas e ficou tão perfeita que é impossível não resgatar o slogan do filme Superman de 1978:
“Você vai acreditar que o homem pode voar”. Por sinal, o final tem algumas referências sutis ao clássico de 1978. A maneira como Snyder filma valoriza muito o ambiente, rendendo cenas lindas. Isso sem contar o incrível talento de Snyder em produzir excelentes cenas de ação.
A abertura do filme, com o prólogo em Krypton é algo tão lindo e incrível, que faz você desejar ver mais daquele mundo, o que acaba sendo frustrante já que tem menos de 20 minutos. O design das armaduras, naves, tudo, absolutamente tudo em relação a Krypton é incrível!
Uma das belíssimas cenas em Krypton.
General Zod, aqui magistralmente interpretado por Michael Shannon, tem uma atuação inspiradíssima. Zod não chega a se mostrar como um vilão, o filme faz questão de explorar muito bem as justificativas dele desde o primeiro ato em Krypton.
O discurso de Zod no final do filme é algo incrível, emocionante e muito forte, o que traz muito peso ao embate final entre ele e Superman.
Michael Shannon perfeito como General Zod!
Homem de Aço pode não ser o filme que os fãs da DC gostariam de ver, mas é um adaptação muito digna do personagem justamente por ter uma visão um pouco mais “cinza”.
Alguns momentos polêmicos como a morte de Jonathan Kent, o final com o dilema estilo Kobayashi Maru mesmo sendo incômodos, são razoavelmente justificáveis dentro do universo do filme.
Como vimos recentemente com o anúncio do já lendário Liga da Justiça – Snyder’s Cut, todo esse universo DC no cinema que iniciou em Homem de Aço vai ser assunto de grupos geeks e nerds por muitos e muitos anos…
Homem de Aço está disponível na Netflix!
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Trailer:
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Créditos:
Texto: Diego Brisse
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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