Prepare-se para mergulhar em um universo único que é considerado por muitos como sendo uma das mais importantes sagas autorais dos quadrinhos! Criado por Matt Wagner em 1982, Grendel é um vilão extremamente habilidoso, cruel e cativante. O personagem, em sua primeira encarnação, protagoniza histórias sangrentas que envolvem máfia, roubos e planos que mais parecem grandes partidas de xadrez.
O interessante é que esse universo criado por Matt Wagner também tem lugar para o sobrenatural e o oculto e o grande inimigo de Grendel é uma espécie de lobisomem “do bem” chamado Argent. A publicação da Mythos Editora Grendel Omnibus Vol.1 de Matt Wagner foi lançada em 2024 no Brasil e reúne as histórias da era Hunter Rose.
O bacana desse universo criado pelo autor é que ele vai avançando no tempo e tempos – no decorrer dessa epopéia – diversos personagens que assumem o manto de Grendel. Mas isso é papo para outros Omnibus pois o foco nessa primeira edição é o começo da lenda.
O inteligente vilão domina a máfia na HQ Grendel Omnibus Vol.1 de Matt Wagner
As Tramas de Grendel Omnibus Vol.1 de Matt Wagner
Grendel é uma leitura peculiar em todos os sentidos. E é importante ressaltar isso logo de saída pois essa passa longe de ser uma leitura fácil e isso tem tudo a ver com seu formato e escolhas narrativas que envolve o vilão. Falaremos mais sobre isso, mas antes é crucial definir quem é Grendel.
A história estabelece desde o começo que Hunter Rose é um prodígio. O personagem é um escritor famoso que “veio do nada” e cativou o mundo com sua escrita. Sua vida social agitada e noturna divide espaço com atividades criminosas que são protagonizadas por Grendel – seu alter ego.
Mas Grendel não é um bandido comum e suas ações mascaradas logo ganham fama pela brutalidade o que faz com que o personagem, que inicia sua carreira como um guarda costa de uma das mais importantes famílias criminosas desse universo, seja temido e ganhe apelidos relacionados ao demônio.
Grendel usa uma marcante lança de duas lâminas para agir na HQ de Matt Wagner
Esse universo interessante se torna ainda mais marcante por conta da presença do sobrenatural. A obra não faz questão de explicar de onde vem a “magia” desse universo e apenas estabelece que ela existe. Tanto que um dos grandes perseguidores de Grendel é um sanguinário lobisomem chamado Argent. Outros elementos sobrenaturais se apresentam em alguns momentos, mas não vamos dar spoilers.
Para os leitores que estão “achando” que Grendel pode ser uma espécie de anti-herói, garantimos que não. Ele é um vilão da pior espécie que é capaz de matar, mutilar e torturar sem o menor pudor.
E as ações do personagem, que até tem seus (poucos) limites, não são suavizadas. Mesmo assim é inegável que em dado momento nos pegamos torcendo para ele – mesmo ele sendo a encarnação do mau.
Dito isso, vamos falar dos formatos de história que estão presentes em Grendel Omnibus Vol.1 de Matt Wagner. Algumas tramas mais se assemelham a contos ilustrados do que a quadrinhos e outras são extremamente verborrágicas.
Isso não é necessariamente um problema, mas o leitor precisa ter ciência de que vai estar constantemente sendo desafiado pelos formatos que se apresentam. Wagner não está sozinho nessas mais de 600 páginas e temos nomes como Tim Sale, Stan Sakai, Darick Robertson e Jill Thompson que se juntam ao autor.
O sanguinário lobo Argent é um dos que caçam Grendel no universo criado por Matt Wagner
A primeira trama é chamada de “A Obra do Diabo” e é uma das mais longas desse volume e – sem dúvidas – a mais importante. A história é uma espécie de conto ilustrado de quase 50 páginas que conta toda a história de Hunter Rose sob a perspectiva de um personagem (sem spoilers) que já viu toda a jornada do vilão.
Ela conta desde o surgimento de Hunter, como escritor e Grendel, até seu amargo fim. Achei bem inusitado que a primeira trama já nos contasse toda a vida do personagem e é como se as histórias posteriores fossem aprofundando essa jornada que já é conhecida pelo leitor. A sensação é que cada trama, seja ela muito ou pouco importante, foi pensada para encaixar nessa grande história inicial.
Após esse começo “diferente”, temos uma grande quantidade de histórias curtas que foram originalmente publicadas antologias que foram premiadas. Pessoalmente, achei a qualidade das histórias bem irregular e temos tramas extremamente cativantes e outras bem desanimadoras. Esse é um risco que qualquer antologia corre, mas talvez meu incômodo com algumas histórias venha da mudança de tom que ora é denso e noir e ora parece mais caricato.
O gosto agridoce que os contos curtos deixaram é totalmente removido pela ótima história que encerra a edição. A trama longa, a mais longa de Hunter Rose (o 1º Grendel), se chama “Contemple o Diabo” e se desenvolve em duas frentes. Na primeira temos um repórter e uma policial caçando Grendel e tentando descobrir como detê-lo. Os dois personagens são muito carismáticos e é óbvio que passamos a história temendo pela vida deles.
A segunda frente de “Contemple o Diabo” mostra Hunter Rose tendo que lidar com mafiosos que o estão desafiando ao mesmo tempo que precisa lidar com uma espécie de ameaça sobrenatural. Essas duas narrativas vão se aproximando conforme a trama avança e o explosivo final deixa o leitor de boca aberta. Lembre-se: Grendel não é um anti-herói e sim um implacável e cruel vilão.
Grendel e Argent protagonizam grandes confrontos no universo criado por Matt Wagner
Por mais que tenhamos uma ou outra crítica a narrativas específicas do universo de Grendel, é inegável que esse é um universo extremamente rico que é capaz de entregar histórias cativantes e memoráveis. A construção do protagonista é impecável e ele tem tantas nuances e detalhes que se torna magnético – apesar da crueldade de seus atos. O equilíbrio entre ação, violência e reviravoltas na maioria das tramas também contribui.
Se você gosta de histórias recheadas de mistério, violência e ação e que ainda possuem um clima noir inconfundível, Grendel Omnibus Vol.1 de Matt Wagner vai te agradar em cheio. E vale dizer que se não fosse a irregularidade das histórias curtas, esse seria um material impecável pela inventividade e pela ousadia de entregar uma trama em um formato pouco comum.
Avaliação: Ótimo!
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Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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