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Estrada Para Perdição (1998) – Baú de HQs

Em 22 de Abr de 2020 4 minutos de leitura
Comparação entre Poster do Filme e Capa da HQ Estrada para Perdição de Max Allan Collins

Estrada para Perdição, para maioria das pessoas que reconhece o nome, é apenas um ótimo filme de gangster dirigido por Sam Mendes que conta com um elenco de alto nível com nomes como Tom Hanks, Jude Law e Daniel Craig entre outros. O que muita gente não sabe é que o filme lançado em 2002 é na verdade uma adaptação da revista homônima escrita por Max Allan Collins e contando com os desenhos de Richard Piers Rayner.

A HQ Estrada para Perdição (Road to Perdition) foi publicado nos EUA pela DC Comics no antigo selo Paradox Press em 1998. A obra, publicada no Brasil pela editora Via Lettera em 2002 em Estrada para Perdição #1 – #3 (2002), serve também como uma homenagem do autor Max Allan Collins ao mangá de Kazuo Koike e Goseki Kojima “Lobo Solitário” (Lone Wolf and Cub). Ambas as histórias tratam de uma relação de pai e filho que é drasticamente modificada por um ambiente hostil.

Desenhos de Richard Piers Rayner dão um toque ainda mais noir para a HQ Estrada para Perdição

A História Original da HQ Estrada para Perdição

A história da HQ Estrada para Perdição acompanha a relação de Michael Jr. e seu pai Michael O´Sullivan – também conhecido como o Arcanjo da Morte. A HQ, assim como o filme, é todo narrado pela ótica de Michael Jr. que vai descobrindo um pouco mais sobre as atividades que seu pai, um veterano da Grande Guerra, exerce para a família de mafiosos Looney.

Toda a trama gira em torno do filho mais novo do patriarca da família Looney, chacinando a família O´Sullivan porque Michael Jr. presenciou um dos “trabalhos” do pai. Motivado pela curiosidade de saber mais sobre a atividade do pai, o garoto se esconde no carro para acompanhar uma das “missões” e é avistado posteriormente por Connor Looney que queria dar cabo do garoto.

A relação do filme com a HQ é muito emblemática e as duas divergem em poucos pontos – com alguns preferindo a HQ e outros o filme. O interessante é que enquanto a HQ foca mais nas atividades criminosas da Família Looney e na conexão entre pai e filho, o filme Estrada para Perdição constrói de forma mais expositiva o que motivou Connor Looney a querer tirar O´Sullivan do seu caminho: ciúmes.

O próximo líder da família Looney era inapto para a função e via a relação de seu pai com o Arcanjo da Morte como uma ameaça. É bem interessante assistir o filme após ler as HQ´s – a experiência realmente fica mais completa e garanto que você vai admirar ainda mais a obra.

Estrada para Perdição: Capa da HQ de 1998 e do filme de 2002 – Obras Complementares

Esse desejo de Conner de retirar os O´Sullivan do mundo dos vivos faz com que uma guerra se inicie após uma tragédia: o irmão e a mãe de Michael Jr. são mortos. A partir desse ponto a obra realmente se assemelha, em termos de relação pai/filho, ao famoso mangá “Lobo Solitário”. Os dois passam a caçar e serem caçados pelo responsáveis pelas mortes de seus parentes.

Michael Jr. relata muito bem, tanto na HQ quanto no filme, a forma como a relação com seu pai ficou mais próxima e evoluiu depois dos tristes acontecimentos. É bem diferente vermos essa relação evoluindo quando o garoto já tem consciência do que eles estão fazendo – e essa é a maior diferença da história de Max Allan Collins para o mangá de Kazuo Koike e Goseki Kojima.

Enquanto a história japonesa traz uma criança, Daigoro Ogami, que ainda não expressa com palavras e pensamentos o que acha de toda aquela violência (por mais que os olhos e atitudes de Daigoro nos dêem uma ideia) em Estrada para Perdição temos um Michael Jr. que guia a história através de suas memórias e pensamentos. Isso torna a leitura fluída e magnética!

Outro ponto que chama a atenção na HQ Estrada para Perdição de Collins  é a sua capacidade em se utilizar de personagens e fatos históricos para tornar a narrativa ainda mais interessante. Se passando em 1929, no período conhecido como Lei Seca nos EUA, a história vai buscar papéis relevantes para figuras que realmente foram importantes naquele contexto. Capone e Nittu são gangsters famosos que viveram e foram notícia nesse período, enquanto Ness foi o investigador que atingiu notoriedade ao investigá-los e finalmente prendê-los.

Mas o autor faz mais do que isso e insere fatos históricos reais em uma história que tem sua fundação em um tenente da família Looney que foi traído. Os amantes da história da máfia americana ainda vão identificar outros fatos (e sim, furos também) da revista.

Michael Jr. e seu pai Michael O´Sullivan chegam a Chicago em cena de Estrada para Perdição

O filme ainda cria uma boa dinâmica com o antagonista Harlen Maguire (Jude Law) que não existe na obra original. Na HQ não sentimos falta de ter um “grande assassino” que rivalize com Michael O´Sullivan mas no longa a relação de antagonismo funciona bem e rende boas cenas de ação de Tom Hanks com Jude Law.

Da concepção da história aos desenhos, Estrada para Perdição foi pensada para ser uma grande história noir sobre gangsters. Max Allan Collins e Richard Piers Rayner ainda conseguem entregar uma HQ que aborda o relacionamento de pai e filho acima de qualquer violência ou cenas de ação – e é isso que realmente tira a HQ do lugar comum.

Honestamente, não sei porque Estrada para Perdição não é aclamada e celebrada – talvez falte um super-herói de colã voando pela cidade – mas tanto o filme quanto os quadrinhos trazem uma história emocionante – e termos tido essa história contada com a ótica de Michael Jr. fez com que ela fosse ainda mais especial (determinados apelos do jovem ao interagir com seu pai podem te fazer arrepiar!).

Minha recomendação? Corra atrás das HQ´s e do filme e conheça essa intrigante história de Max Allan Collins (indicado sete vezes ao prêmio de “Private Eye Writers of America Shamus Award” – algo como Prêmio Shamus de Escritores de História de Detetive) o quanto antes.

Duvido que você vá se arrepender!

Quer conhecer mais HQ´s antigas e interessantes? Confira outras publicações da nossa coluna Baú de HQ´s!


Créditos:

Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Alexandre Baptista
Texto publicado originalmente em 21 de maio de 2019. Atualizado em 22 de abril de 2020.

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