Escalpo de Jason Aaron e R. M. Guéra – O Ultimato

Confira o Ultimato de Escalpo de Jason Aaron, considerada uma das melhores séries da Vertigo! 

Rosa da Pradaria é uma reserva indígena localizada no estado de Dakota do Sul; é paupérrima e sofre muito com mazelas sociais (muito por culpa da colonização do homem branco). Após quinze anos, Dashiel Cavalo Ruim, nosso protagonista, retorna para ela, sua terra natal.

Logo ele é contratado por Corvo Vermelho, chefe tribal, líder do crime organizado, e, de quebra, um homem com muita influência na polícia e poder naquela sociedade. O trabalho que ele tem para Dashiel é simples: suavizar a relação entre mestiços e nativos de modo a trazer mais lucro para si, inclusive para o cassino que está prestes a abrir.

O que o mafioso Lincoln Corvo Vermelho não sabe, é que o impiedoso e cruel Dashiel é um infiltrado do FBI! Sua real missão é derrubar Corvo Vermelho e seu império, investigando um crime cometido anos atrás.

Escalpo de Jason Aaron e R. M. Guéra – O Ultimato

Em todos os momentos você se deparará com um texto visceral de Jason Aaron. Ele consegue descrever a desgraça dos personagens com riqueza realista de detalhes. É como se fosse uma poesia do pior que aquela sociedade indígena pudesse oferecer.

A arte de R. M. Guéra é tão visceral quando o texto de Jason Aaron em Escalpo

Os personagens são todos detestáveis, mostrando sempre seu pior. Todos eles têm seus problemas e seus demônios para exorcizar. E o roteirista brinca o todo tempo com a distorção de honra e a contestação do que é certo e errado.

Fato é que Aaron consegue desenvolver todos eles muito bem, sem pressa, contando minúcias da vida de cada um de modo a você compreende seus problemas e sentir (raiva ou alegria) quando algo ruim acontece a eles.

A galeria de personagens é tão boa e bem construída, que Jason Aaron se dá ao luxo de deixar o personagem principal em segundo plano por várias vezes, e até de deixá-lo sem voz no vol 5. As subtramas são tão interessantes quanto a principal; mas o mais legal de acompanhar é como elas se interligam e influenciam uma na outra.

Dashiel Cavalo Ruim, o protagonista de Escalpo

Jason Aaron utiliza muitas e muitas vezes o flashback para contar sua história. No começo do capítulo ele te fisga com alguma situação incomum, e nas próximas páginas explica como aquilo aconteceu. É um recurso narrativo excelente, mas como é usado demais (afinal são 60 volumes) acaba ficando um pouco manjado.

A arte fica a cargo do sérvio Rajko Milošević Guéra, que se provou um parceiro excelente na criação de Escalpo. Não consigo pensar em outra pessoa para desenhar essa série. Casou perfeitamente! Seu desenho é lindo, apesar de apresentar uma certa inconstância no rosto dos personagens ao passar da série, mas nada que atrapalhe ou te prejudique de identificar quem é quem.

A violência gráfica empregada por ele é condizente com a brutalidade do texto e tem papel fundamental no peso da história. Assim como a colorização, que, por muitas vezes, dá o tom da cena.

Lincoln Cavalo Vermelho, o antagonista em Escalpo

Uma parada bem legal em Escalpo é conhecer os hábitos e a cultura dos Lakotas, tribo da reserva Rosa da Pradaria (que é fictícia). As tradições, crenças e histórias dessa tribo são retratadas em Escalpo; inclusive, vários diálogos são falados na língua lakota, o que dá uma imersão bem legal na leitura. E acompanhar como toda essa cultura foi adaptada para o modo de vida no sec. XX é fascinante!

Escalpo foi lançado no Brasil em 5 volumes de luxo, com capa dura, papel couché. São quase 1500 páginas de um quadrinho fantástico. Não entendi o motivo da capa do volume 3 ter um acabamento diferente, apenas ela tem acabamento em brilho, as outras são foscas.

Dialoga com redenção e com se libertar de velhos hábitos; com a revolta de um povo que luta contra o fato de ter sido esquecido, mostrando toda sua resistência, toda sua resiliência, e a forma como querem fincar suas raízes e sobreviver. É uma obra poderosa, que merece demais ser lida!

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