Ultimato do Bacon

EndGame – Dragon Quest III: Surpreendentemente Complexo

Em 21 de Fev de 2019 7 minutos de leitura

por Lucas Pontes

 

Como dito na matéria anterior, Dragon Quest é o avô dos J-RPGs que conhecemos hoje. Por isso, nada melhor do que começar as recomendações por essa série incrível. Se você for iniciante, qualquer Dragon Quest é ótimo pra começar, mas se eu tivesse que recomendar só um, eu recomendaria Dragon Quest III.

Esse seguimento da franquia encerra (e, de certa forma, começa) o que eu gosto de chamar de A Trilogia de Loto/Erdrick, que consiste dos três primeiros jogos da série. A trilogia conta a história de um herói (de nome Loto no Japão, ou Erdrick na versão americana) e de sua linhagem lendária e seu auge, em minha singela opinião, se dá em DQIII, mas eu estou me adiantando.

Os três Heróis da Trilogia de Loto/Erdrick

Dragon Quest III (ドラゴンクエストIII), conhecido originalmente como Dragon Warrior III na América do Norte, é um J-RPG desenvolvido pela Chunsoft e publicado pela antiga Enix em 1988, para o FamiCom e traduzida para o NES em 1992, que gerou remakes para o Super Famicom — ganhando o título Dragon Quest III: Soshite Densetsu he… (ドラゴンクエストIII そして伝説へ…) –, GameBoy Color e inúmeros ports, incluindo um “port melhorado” para Android, com o título de Dragon Quest III: The Seeds of Salvation.

E não é a toa que o jogo tem tantos remakes e ports: recebendo críticas extremamente favoráveis em seu lançamento, a versão original vendeu mais de um milhão de cópias só no primeiro dia, com as vendas totais quase chegando a 3.8 milhões no Japão. DQIII é o jogo mais popular da franquia, com os leitores da revista Famitsu colocando-o como o terceiro jogo favorito de todos os tempos em 2006, consolidando DQIII como o jogo mais bem-sucedido da série.

Já no ocidente, por causa do lançamento no fim da vida útil NES, Dragon Warrior III passou quase despercebido. Com o lançamento da versão de GBC fora do Japão e a recente popularização da série, DQIII tem recebido mais atenção dos críticos, fãs e desenvolvedores, com rumores de mais um remake para ser desenvolvido depois do lançamento de Dragon Quest XII espreitando pela net.

Não tem por onde errar, com qualquer uma das versões desse jogo espetacular, mas hoje o foco é a versão de Super FamiCom, de 1996. A versão de SFC é exclusiva do Japão, mas se você usar emuladores…

“Emuladores? Seu monstro pirateador…!”

Calma, calma…! Não tenho nada contra emuladores, especialmente quando é pra jogar jogos que nunca foram lançados fora de certas regiões. Mas esse tópico fica pra outro dia. Podem apagar as tochas, agora. Obrigado. O que você precisa saber hoje de fato, meu caro leitor, é que Dragon Quest III vale a pena emular.

Embora eu não goste de algumas coisas pequenas (alguns nomes de itens e feitiços são melhores nas traduções oficiais), a tradução feita por fãs é super competente, sem perder um pingo do humor e charme dos diálogos — uma das qualidades da série, em geral. DQIII não tem a sua história como foco, por isso não espere nada muito elaborado, nem confuso, mas sim uma história leve, com personagens e locais memoráveis.

E, se você realmente não gostar de emular, sempre tem a versão pra Android/iOS, que é quase um port exato da versão de SFC.

Antes de começar um novo jogo de fato, algumas perguntas são feitas ao jogador. Após essas perguntas e mais alguns testes, o jogo designa uma das várias personalidades presentes no jogo ao personagem principal, variando de Sem-Sal à Lobo-Solitário. Esse é o que os desenvolvedores chamaram de Seikaku System (ou , em bom português, Sistema de Personalidade), e eu voltarei a falar dele mais adiante.

Após essa (não tão) pequena enquete, o jogador deve encontrar o Rei, que lhe explica a situação: como filho(a) do lendário herói Ortega, seu objetivo é acabar com Baramos, o Rei dos Demônios, achar o seu pai, que sumiu tentando fazer o mesmo, e devolver a paz ao mundo. Simples, né?

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Vai encarar?

A premissa geral é bem simples, sim, mas o bacana é como o jogo apresenta a sua história num nível microscópico. Cada vilarejo visitado tem sua própria história, que ajuda o jogador a progredir e, muitas vezes, não têm nada a ver com o objetivo principal em si.

Por exemplo, a side-quest do reino de Romaly. Nela, um bandido chamado Kandar rouba a coroa do rei e a leva para o seu esconderijo. Se você recuperá-la, você pode virar rei por um dia (ou mais, se você tiver paciência), além de achar mais alguns itens que podem lhe ajudar com o seu objetivo final. O jogo nunca lhe manda fazer essas coisas, mas quase sempre dá a opção, fazendo esse e outros locais que você visita em DQIII se tornarem mais vivos e cheios de descoberta e fantasia.

Isso faz com que cada local visitado tenha uma mini-aventura que você achou por acaso e você, como filho(a) do Grande Ortega, pode decidir ajudar o povo e restaurar a paz por cada pedacinho do mundo que você visitar, ou só fazer o que é estritamente necessário para terminar com a fonte de todo esse caos.

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Você é o Herói Lendário no fim das contas

Alguns NPCs têm histórias e rumores para contar sobre as aventuras e feitos de seu pai, o que dá mais motivação pra encontrá-lo e levá-lo de volta pra casa. Por esses e outros motivos, muitas vezes me senti como se eu e os desenvolvedores fizessemos parte de um grupo de RPG de mesa, criando uma história, enquanto jogamos algum sistema qualquer nos empanturrando de salgadinhos diversos.

DQIII criou diversas conveniências que podem ser encontradas por jogos até hoje. Dentre as mais importantes se encontram o ciclo de noite e dia (fazendo com que as cidades tenham atividades diferentes dependendo do horário em que você as visita, e monstros mais perigosos apareçam a noite) e o banco, que pode armazenar itens, quando o jogador não pode carregá-los (função que nas posteriores à original se tornou obsoleta, graças a criação da mochila de viagem), além de guardar o seu rico dinheirinho, que, se não posto lá, é roubado por monstros quando todos os personagens morrem.

Mas isso não é a parte mais divertida de DQIII. Não, não… A parte mais divertida de DQIII é, sem dúvida, o seu sistema de classe, que é extremamente flexível, graças ao Seikaku System. Em suma, as Personalidades são o que administram e distribuem as bonificações nos atributos de seus respectivos personagens, em cada level up e elas também podem ser mudadas por equipamentos e livros achados pelo jogo. O que isso quer dizer é que nem todo o personagem é igual, mesmo que tenham a mesma classe.

Falando em classes, o jogo traz nove classes (Herói, Mago, Clérico, Lutador, Guerreiro, Comerciante, Brincalhão/Palhaço, Sábio e Ladrão), cada qual com seus prós e contras. Ao chegar em um certo ponto do jogo, você pode trocar a classe dos seus personagens quantas vezes quiser (tirando o personagem pricipal), com o efeito colateral de voltar ao lvl. 1 toda vez que você o fizer. Mas não tema: você ainda fica com todas as habilidades e feitiços aprendidos na classe anterior, além de metade do valor de cada um dos atributos.

Juntando essas duas mecânicas, você pode criar uma Maga com propriedades de um Guerreiro, ou um Lutador com magias de cura, entre outras combinações bizarras. O meu único problema com isso é que DQIII só te dá a oportunidade de trocar de classe um pouco tarde, na minha opinião, mas eu não posso deixar de elogiar esse sistema único, que abre portas para a experimentação e rejogabilidade, fazendo com que nenhuma jogatina seja 100% idêntica a anterior.

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“Experimentação” é o nome do jogo.

Fora que você pode trazer com você até três outros personagens além do personagem principal, assim como pode se aventurar completamente sozinho: a escolha é toda sua. É basicamente uma escolha de nível de dificuldade pro jogo (especialmente lá pelo final, onde alguns inimigos podem atacar mais de uma vez no mesmo turno), então sair sem companheiros pode ser uma grande dor de cabeça às vezes, mas partidas onde se joga apenas com o personagem principal são muito populares na web (procure por “Dragon Quest III Hero Only Run” no YouTube).

Os gráficos e animações são resultado da colaboração com o Bird Studio, que é regido por ninguém menos que o criador de Dr. Slump e DragonBall, Akira Toriyama, com seu estilo de desenho instantaneamente reconhecível. Some isso a um motor gráfico aprimorado de Dragon Quest VI e o resultado não podia ser outro: sprites coloridos e detalhados, com animações muito fluidas e cheias de carisma. Toriyama sempre faz um trabalho delicioso de se ver, especialmente quando o que ele desenha são monstros. As criaturas criadas por ele demonstram a sua capacidade de criação imensa, com um toque que só ele sabe dar.

O estilo artístico de Toriyama praticamente define a identidade da franquia

E, claro, a trilha sonora de Koichi Sugiyama mais do que complementa o universo do jogo, fazendo-o ainda mais rico. Se você não gosta do som original de qualquer jogo principal da série, sempre existe a versão orquestral oficial das trilhas sonoras, as chamadas Symphonic Suites, que são uma tradição dragon-questiana. O tema principal da série é sempre uma delícia de ouvir (aliás, clique aqui e faça isso), mas as novas também não deixam de impressionar: elas vão de composições tristes, lentas e melancólicas até as heróicas, bombásticas e enérgicas. As melodias vão demorarmuito pra sair da sua cabeça, se você for um tarado por música de vídeo-game que nem eu. Eu realmente não tenho como descrever o quão boas as músicas são, então só vou largar esse link aqui, e você decide se eu tô certo, beleza?

No final, as mecânicas novas que foram introduzidas por DQIII, como o ciclo de dia e noite, mudando o que e quem você encontra nas cidades dependendo da hora do dia; bancos, que a partir desse jogo se tornam constantes na série, fazendo com que DQIII se tornasse um dos (se não “o”) jogo mais influente da história dos jogos, gerando muitos imitadores.

Simples, bem-humorado, com um carisma único e surpreendente complexo, DQIII aperfeiçoa os seus antecessores, criando um novo padrão para os seus sucessores. Sua influência nos jogos modernos é incontestável — tanto dentro, quanto fora da série — e pode ser encontradano DNA de todo bom RPG.

Por isso, eu convido você, leitor, a jogar Dragon Quest III e fazer um tour pelo material genético de que é feito um J-RPG (é bem menos nojento do que soa, eu prometo) e descobrir o que faz desse seguimento da franquia um dos clássicos mais importantes pro legado dos J-RPGs, mesmo hoje, além de um ótimo lugar para os novatos que queiram começar a jogar jogos desse subgênero.

Avaliação: Excelente!

 

 

 

 


 

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