Prepare-se para embarcar em uma viagem no que há de melhor nos quadrinhos argentinos! El Sueñero de Enrique Breccia é uma daquelas histórias que possuem tantas camadas que muito provavelmente vai agradar leitores de gostos, idades e referências diferentes. O humor ácido da trama aliado a alta imprevisibilidade dos roteiros e a bela arte gera um resultado final único.
El Sueñero de Enrique Breccia foi originalmente lançado em capítulos de oito páginas nos anos 80 na Argentina (na revista Fierro) e ganhou uma continuação publicada 20 anos depois. Os capítulos originais – e a continuação – chegaram ao Brasil em 2021 em uma bela edição capa dura da Editora Trem Fantasma. Vale salientar que a edição ainda traz extras interessantes que ajudam o leitor a se situar no ambiente no qual a obra foi publicada.
Observação para os leitores: El Sueñero é uma obra de humor ácido que mistura mitologia e uma trama bem pensada para fazer críticas a sociais – a grande maioria direcionada ao ambiente da Argentina na década de 80. Se você não sabe nada sobre o período ditatorial argentino, você vai conseguir curtir a HQ tranquilamente – seja pela envolvente trama ou por captar que aquelas críticas se aplicam (de maneira geral) a diversos outros países e momentos. Se você conhece mais sobre a história dos nossos vizinhos, a HQ está recheada de referências e críticas que você vai entender profundamente.
El Sueñero de Enrique Breccia não tem contra indicação! =)
Ñato precisa salvar o futuro na HQ El Sueñero de Enrique Breccia
A trama da HQ argentina El Sueñero de Enrique Breccia
A trama de Breccia começa nos apresentando um futuro distópico onde a humanidade padece de… tédio! O ano é 3.412 D.C e ficou conhecido como o “ano da peste sútil”. Após muito tempo, a humanidade encontrou a paz e até os guerreiros mais assíduos pela batalha, perderam o incentivo e a vontade de lutar. Parece bom certo?
Mas não é. Tão acostumada a guerra, a humanidade não sabia o que fazer com a paz e logo a “peste sútil” começou a dizimar a população – que não tinha forças para combater o ócio. Os sábios mais ilustres olharam para o passado e se inspiraram no Sirko Roman-Ho (você entendeu a referência, né?) para resolver o problema: eles decidem criar uma grande arena onde ferozes batalhas acontecerão! O problema? Ninguém mais tem ânimo de lutar.. e é aí que entra o protagonista: o mercenário chamado Ñato.
Ñato viaja pelo tempo para reunir os lutadores que o futuro precisa na HQ El Sueñero de Enrique Breccia
Ñato é convocado pelos sábios para viajar pelo tempo em busca de lutadores que possam ser atrações no Sirko que o futuro precisa para fugir do tédio. Primeira parada? Grécia antiga onde Ñato vai buscar o mitológico Minotauro. As viagens do protagonista levam ele aos mais variados lugares: Inglaterra vitoriana, mares infestados de piratas e terras povoadas por lobisomens e inimigos Gorilas.. Pode tudo em El Sueñero e nunca sabemos para onde Breccia nos levará em seguida.
É importante falarmos sobre o protagonista. Em uma história onde temos uma premissa de “salvação do futuro” é normal que esperemos um tipo no estilo Indiana Jones e Han Solo, certo? Ñato não tem absolutamente nada a ver com esse arquétipo e vemos um personagem que é um tremendo “filho da mãe” – o próprio Breccia estabelece isso ao colocar o protagonista interagindo com Teseu (o que ele faz com o pobre herói grego é de doer).
Minotauro é a primeira presa de Ñato na HQ El Sueñero de Enrique Breccia
El Sueñero de Enrique Breccia é uma HQ que só melhora com o passar dos capítulos: os seres capturados passam a participar ativamente da história e fica claro que não existe uma “fórmula de caçada da semana”. Cada edição é diferente da anterior. O próprio autor comenta:
“As circunstâncias que fizeram surgir El Sueñero são irrepetíveis…Desenhava o que escrevia, escrevia o que desenhava com um alto grau de improvisação”.
A edição da Trem Fantasma é um verdadeiro presente aos fãs de Breccia e acaba sendo uma excelente porta de entrada para novos leitores que vão acompanhar nos extras o contexto no qual a obra se insere e poderão aproveitar ao máximo essa obra que tem tudo para agradar: desde a bela arte, passando por um roteiro muito acima da média e com um humor ácido bem afiado!
Avaliação: Excelente!
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Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: João Maia
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