Ultimato do Bacon

Documentário Pulsão (2020) – O Ultimato

Em 1 de Set de 2020 5 minutos de leitura
Documentario Pulsao Wall - faixa presidencial

O documentário Pulsão, realizado sob o selo da Trópico, produtora audiovisual fundada por Di Florentino, está hoje no Ultimato

 

Índice

Documentário Pulsão – esclarecimentos iniciais

Antes de mais nada, antes que a turma da direita e da esquerda saia me hostilizando nas redes socias, como fizeram dcnautas e marvetes depois da minha crítica de Venom (2018), deixo aqui o nosso podcast sobre como funciona o sistema de notas das críticas aqui no Ultimato do Bacon.

Com isso fora do caminho, quero fazer mais uma ressalva: se você acha que conhece meu posicionamento político, esqueça. Nem meus pais conhecem direito. Como jornalista, tento me manter o mais isento possível para seguir o que é tido como uma prática ética – apesar de esquecida por muitos colegas de profissão.

Então, minha crítica ao documentário Pulsão busca ser isenta de viés político e de posicionamento. Busco aqui filtrar minha paixão sobre os assuntos daquilo que é fato.

Documentário Pulsão – a obra em si

O documentário Pulsão de Di Florentino e roteiro de Sabrina Demozzi tem muitos acertos. É uma obra corajosa e que fala de muitos bastidores que a turma da elite dos meios de comunicação prefere não comentar.

Algumas provocações sobre as possíveis relações entre a Petrobrás, o então juiz Sérgio Moro, Eduardo Cunha e todo um esquema com articulação política – objetivando a entrega do pré-sal para empresas privadas – estão ali.

Acredito sinceramente que a máfia do combustível de Curitiba e a relação da mesma com a greve dos caminhoneiros e as possíveis relações disso tudo com a turma da Lava-Jato só não foi mais exposta porque isso seria praticamente suicídio – espero não receber ameaças de morte por citar isso aqui.

Já falei que o documentário Pulsão é corajoso? Pra caramba. Não tem medo de pisar nos calos e apontar dedos. E não somente aos habitantes da República de Curitiba e lavajatenses. Aponta o dedo para Michel Temer, Kim Kataguiri, a turma do MBL, o movimento #vemprarua e muitos mais.

O documentário Pulsão, em pouco mais de uma hora, compila dados e fatos que são fáceis de serem verificados – e tendo sido vividos recentemente por todos, muitas vezes podem ser reconstituídos de memória.

Canais de humor político no Youtube que meteoricamente ascenderam, lançando políticos de carreira como se fosse natural ou orgânica essa transição, mostrando claramente a possibilidade – e em alguns casos – a existência dessa objetivação à priori, através do uso massivo das redes sociais e do Whatsapp.

Tava na cara, não viu quem não quis – ou quem estava com a fuça enfiada no “aplicativo de mensagens”.

Documentario Pulsão – desvios no caminho

No entanto, o documentário Pulsão desvia um pouco daquilo que tem sido veiculado como o objetivo principal do documentário: mostrar o aumento do uso das plataformas digitais com objetivos políticos e através de fake news.

Neste ponto, um primeiro pecadilho da obra: se a intenção era demonstrar o uso de fake news – e não precisa ser, só comento pois foi como o documentário me foi apresentado – senti falta de mais profundidade nesse quesito.

Eu, particularmente, sei bem como funcionam os bots e os disparos de fake news. Mas senti falta de que o assunto fosse melhor explicado para que um público mais leigo entendesse como funciona. Simplesmente dizer que “ciborgues” postam o conteúdo nos grupos fica vago demais e parece… fake news.

Outro deslize é a falta de dados, especialmente no caso do aumento do assunto “política” nas redes sociais. De acordo com informações divulgadas na coluna de Guto Graça na Band News FM em 27 de agosto de 2020, entre 2013 e 2016 as redes sociais viram um crescimento de 1700% em posts relacionados a política. Um dado impressionante que corrobora os argumentos do documentário Pulsão, mas que não são expostos pelo mesmo.

Outro ponto que me incomodou – apesar de conhecer os interlocutores mostrados – é a falta de identificação de seus falantes. Parece difícil que ao longo do tempo as pessoas esqueçam de quem foi Jair Bolsonaro, Barack Obama, Michel Temer, Eduardo Cunha e William Bonner. Mas não são identificadas outras figuras menos conhecidas como Janaína Paschoal, Marco Antonio Villa, os organizadores do Circo da Democracia, Roberto Requião etc.

Dessa forma, o documentário se aproxima dos memes que critica. “Quer saber quem é? Pesquisa, vagabundo!” – resposta comum de usuários intolerantes nas redes sociais.

Minha crítica a algo que pode ser considerado detalhe não é por capricho. Como mencionei antes, acredito que a obra toca em diversos pontos importantes, explorando-os de maneira corajosa. Mas a relevância história de Pulsão poderia ser potencializada se apresentasse esse cuidado quase didático. Não para hoje, mas para gerações futuras.

Documentário Pulsão – os deslizes

Infelizmente a obra não é perfeita. E um dos grandes pecados do documentário Pulsão é a falta de imparcialidade. À principio, Di Florentino parece tentar se manter isento, apresentando os fatos sem paixões. Mas à medida que o documentário progride, o enaltecimento a Lula e Dilma começa a aparecer de maneira perceptível e incômoda.

É claro que o documentário precisa de um recorte e não cabe aqui mencionar que muitos pontos não foram abordados, até mesmo por serem pontos sensíveis – como a prisão de Eduardo Cunha, a absolvição de Claudia Cunha, os depoimentos de Lula à Lava-Jato, o atentado ao candidato Bolsonaro, defendido por muitos como sendo uma encenação, a total desarticulação da esquerda e as tentativas do PT em emplacar um candidato que se encontrava preso até o último minuto.

Ou talvez caiba. A edição do documentário Pulsão consegue, em pouco mais de 3 minutos, concentrar uma parte importante dos descalabros proferidos por Jair Bolsonaro. Mas pinça sutilmente e com extremo cuidado as únicas falas coesas de Dilma Rousseff, por exemplo.

Uma pena. Pulsão, com essa escolha em ser parcial, deixa de ter a possibilidade de informar e mostrar muitas verdades contidas ali a um público amplo e passa a dialogar somente com um público que muito provavelmente já defende a mesma bandeira.

Sim, o documentário é um gênero de cinema. Deve ser encarado como algo ficcional. E infelizmente, grande parte do público não entende isso. A maior parte dos documentários não são peças documentais, jornalísticas. São cinema.

“Este produto pode conter traços de fatos e notícias reais”

Isso fica ainda mais notório nas cenas da votação a respeito de Michel Temer… fica a sensação de que as televisões em bares, restaurantes, academias e locais públicos tiveram a imagem da votação inserida ali, para demonstrar de maneira narrativa – e não documental – o fato de quem ninguém estava ligando para o assunto. Não sei afirmar se é fato, mas dá essa sensação.

Enfim, de toda maneira, o documentário Pulsão é uma obra imprescindível para toda pessoa que quer saber mais sobre os profissionais que vivem às custas do nosso dinheiro. E as articulações que eles fazem e que não nos são expostas. Concordar ou não com o viés apresentado é uma prerrogativa de cada espectador.

 

 

Avaliação: Bom

 

 

Para saber mais sobre o documentário Pulsão, acesse aqui e leia a entrevista com o diretor Di Florentino e a roteirista Sabrina Demozzi aqui.

 

 


Créditos:

Texto e Edição: Alexandre Baptista

Feliz! (2a temporada) - O Ultimato 2
Imagens: Reprodução

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