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Demolidor – Diabo da Guarda define a essência de Matt Murdock

Em 15 de Dez de 2021 5 minutos de leitura
Diabo da Guarda 1

Com roteiro do cineasta Kevin Smith, o arco Diabo da Guarda em oito edições apresenta um dos maiores perrengues que o Demônio Atrevido já passou. Mesmo sendo duramente criticada, ela possui seu valor na cronologia do personagem.

Criado por Stan Lee e Bill Everett em 1964, na revista Daredevil #1 (abril de 1964) e foi remodelado como é nos dias de hoje – com o uniforme vermelho – pelo mestre dos quadrinhos Wally Wood.

O Homem Sem Medo já passou por muitas ciladas dentro e fora dos quadrinhos desde suas primeiras aparições, mas foi no fim dos anos 80 que o personagem já não agradava mais tanto os leitores, e com a revista à beira do cancelamento. Mas foi aí que um jovem rapaz, que ia no escritório da Marvel ver os consagrados desenhistas da Casa das Ideias trabalhando e foi contratado depois de mostrar seu portfólio.

Esse garoto achava o Demolidor muito interessante e, com o título prestes a ser cancelado, pediu para desenhá-lo e foi escalado, até porque, se ficasse ruim, só seria mais um título no ostracismo. O Demolidor não era o Homem-Aranha ou os X-Men, pouco importava o que se passava nas histórias do personagem para os editores. O bicho começou a pegar quando o roteirista, Roger McKenzie, decidiu sair do título e os roteiros ficaram para o mesmo moleque que estava desenhando: Frank Miller.

Diabo da Guarda 2

Frank Miller, roteirista e desenhista, criador de obras como Batman O Cavaleiro das Trevas, Ronin, 300 e O Homem Sem Medo

A partir daí, o resto é história; Miller reformulou o personagem quase do zero, algo parecido com o que Alan Moore fez com o Monstro do Pântano. Criou um dos maiores pilares da vida de Matt Murdock, a assassina grega Elektra e transformou o Mercenário de um vilão chato que ninguém dava meia moeda em um dos mais perversos vilões das histórias em quadrinhos: um psicopata a nível de Lex Luthor e Norman Osborn. Além de ter firmado seu maior rival, um vilão B do Homem-Aranha: Wilson Fisk, o Rei do Crime.

O Rei antagonizou boa parte das histórias do Demônio de Hell’s Kitchen, a que mais vale o comentário é “A Queda de Murdock”, de Miller com os desenhos de David Mazzucchelli. Aqui a mesma dupla do futuro “Batman: Ano Um” aborda a maior derrocada do Demolidor, um personagem que – assim como nós brasileiros – não tem um segundo de paz.

Matt está em sua melhor fase: casa própria, muito bem no seu trabalho de advogado, continua mulherengo… até que seu antigo amor, Karen Page – que estava em Los Angeles para seguir uma carreira de atriz, o que não deu certo – troca a identidade secreta do Atrevido por um pico de heroína e tal informação cai nas mãos do Rei do Crime.

É facilmente um dos melhores gibis de super-herói de todos os tempos, indiscutível, mas foi preciso todo esse contexto para comentar aqui outra derrocada braba na vida do nosso Advogado Diabo. Com os roteiros do cineasta Kevin Smith e desenhos de Joe Quesada: O Diabo da Guarda!

Diabo da Guarda 3

Índice

Demolidor – Diabo da Guarda

Questione a fé de um católico e verás quem ele é de verdade

Em Demolidor – Diabo da Guarda Murdock nunca escondeu de ninguém sua crença católica, mesmo depois de perder a visão, o pai e Elektra, Matt nunca parou de acreditar em Deus. Aqui sua fé é testada até o limite, quando uma bebê, a suposta salvadora, é confiada a ele pela própria mãe, que revelou após uma conversa com Deus para confiar no advogado e que ele é o Demolidor.

Logo após isso, um outro homem lhe diz exatamente o contrário: que a menina é o anti-Cristo. Nosso Diabo da Guarda entra num dilema ético – inclusive um bem conhecido: “você mataria o bebê Hitler?” – enquanto várias desgraças acontecem em sua vida.

Seu melhor amigo e sócio Foggy Nelson é acusado de assassinato; Karen Page descobre que é soropositiva – e que possivelmente Matt também é; perde seu emprego por querer defender seu melhor amigo… Com tudo isso e mais um obstáculo – que se eu comentasse, seria um spoiler – Matt terá que tirar forças do nada e dar um fim no vilão que quer destruir a sua vida.

Pontos Negativos

O gibi tem alguns problemas, como muitos balões de pensamento, que não chegam a ser redundantes, como quadrinhos dos anos 60 para trás, mas que cansam um pouco a leitura e com uma linguagem mais parecida com um livro do que propriamente um quadrinho.

Os balões recordatórios também podem ser algo que fãs de quadrinhos mais “die hard” podem não gostar, mas que é necessário visando que é um quadrinho mensal e que têm de ser vendido, não só para assíduos entusiastas do Homem Sem Medo, como também para pessoas que não leem quadrinhos e/ou não conhecem o personagem.

As cores de Jimmy Palmiotti é um dos pontos mais questionáveis do quadrinho, sendo muito vívida, bastante luz, o que combina nos gibis do Superman e Homem-Aranha, num personagem urbano e sombrio como o Demolidor, já não seria o usual, mas nada que comprometa completamente o quadrinho.

O fato de Kevin Smith ser um cineasta – mesmo tendo vários quadrinhos no currículo, como O Mal no Coração dos Homens, Batman: Cacofonia, entre outros – realmente influencia na escrita dele, que passa um ar de roteiro de cinematográfico. A história é boa, mas não coube tão bem em um quadrinho quanto caberia nas telonas.

Diabo da Guarda 4

Exemplo de uma página dupla do quadrinho. A luz excessiva, o tom de azul da chuva claro demais…

Pontos Positivos

As decisões de roteiro foram bem ousadas e me causaram muito impacto na primeira leitura. Tanto no vilão, que só é revelado no fim do quadrinho e em um acontecimento que fez até cair uma lágrima do meu olho, que prefiro deixar oculto para melhor leitura.

A última edição do arco em oito partes se dá numa conversa de Murdock com alguns personagens, como Homem-Aranha, Viúva Negra e Karen Page, que fecha o quadrinho referenciando acontecimentos de A Queda de Murdock, mostrando que mesmo após um de seus maiores baques, a vida continua.

O desenho de Quesada tem de ser exaltado; um trabalho que esse sim é inquestionável, tanto na representação clássica do Demolidor nas sombras, aparecendo apenas os olhos vermelhos e os chifres, até as cenas de luta com muita referência do mestre Miller.

Diabo da Guarda 5Joe Quesada; Demolidor e Viúva Negra

Diabo da Guarda 6Frank Miller; Demolidor e Mercenário

Conclusão

Sempre ouvi muitos fãs com ressalvas sobre este quadrinho, mas não tem como falar que ele é de todo ruim. Tem suas pisadas de bola – como foram apontados neste texto – mas o principal motivo é que eles tratam o gibi como uma sequência de Queda de Murdock e o comparam com a obra. O quadrinho apenas sucede os acontecimentos de Queda: o que aconteceu 13 anos depois.

Comparar uma obra com a outra é a mesma coisa que colocar a Seleção Brasileira de 2002 contra a Seleção de 2014. É um romance injustiçado, tem que ser criticado mesmo, não é perfeito, mas tem o seu devido valor.

Demolidor: Diabo da Guarda, originalmente lançado pela editora Marvel Comics nos Estados Unidos de novembro de 1998 até junho de 1999.

Aqui no Brasil foi publicada na revista mensal Marvel 2000, da Editora Abril; compilada num encadernado capa cartão em 2009 pela editora Panini Comics; em 2014 na Coleção de Graphic Novels da Marvel, pela editora Salvat, no número 17; e em um encadernado capa dura pela editora Panini Comics em 2019.

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Créditos:
Texto: Ricardo Vitorino 
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse

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