Um jovem garoto precisa crescer sozinho nos EUA na década de 30 enquanto descobre os problemas e as nuances que a vida vai lhe impor. Essa é a premissa da excelente HQ Charlie Moon de Carlos Trillo e Horacio Altuna, uma daquelas leituras que nos deixam com um gostinho de “quero mais” após seu fim.
Charlie Moon de Carlos Trillo e Horacio Altuna começou a ser publicado em 1980 na Argentina (na revista Superhum). As histórias do menino americano chegaram ao Brasil em 2022 em uma edição com pouco mais de 68 páginas da Editora Risco. Infelizmente o personagem não teve muitas aventuras mas as que foram produzidas são muito marcantes! Talvez seja isso que nos deixe com o “gostinho de quero mais” que citei acima.
Curiosidade para o leitor: A história se passa nos EUA porque os autores entenderam que nenhuma revista da Argentina iria publicar uma HQ com essa temática se ela se passasse no próprio país – afinal as histórias do pequeno Charlie Moon são recheadas de críticas sociais.
Quer ler outra grande obra da dupla? Confira nosso review de O Último Recreio de Carlos Trillo e Horacio Altuna (também publicado pela Risco Editora no Brasil). E se você é fã de Carlos Trillo, confira nossos reviews sobre Fulù de Carlos Trillo e Eduardo Risso, Ninguém de Carlos Trillo e Alberto Breccia e Viajante de Cinza de Breccia e Trillo.
O jovem Charlie Moon enfrenta muitas decepções nas histórias da dupla Carlos Trillo e Horacio Altuna
As tramas da HQ Charlie Moon de Carlos Trillo e Horacio Altuna
Carlos Trillo e Horacio Altuna criaram um personagem que é um jovem misterioso que cresce sozinho nos EUA na década de 30. As narrativas não dão muitos detalhes sobre a origem de Charlie (quem são seus pais, de onde ele veio, porque está sozinho..) e isso acaba não tendo importância dentro dos contos que são propostos.
A dura realidade é que o solitário Charlie precisa enfrentar todos os problemas da vida – alguns que ele ainda nem compreende – sem nenhuma orientação.
Cada história nos mostra um “problema” diferente que o personagem-título enfrenta: falta de dinheiro, racismo, as primeiras interações com meninas, trabalho… As histórias são muito ágeis e isso faz com que a leitura seja rápida e dinâmica. Apesar dessa agilidade, o texto potente de Trillo é capaz de nos fazer refletir em diversos momentos.
Muitas decepções e ensinamentos aguardam o protagonista na HQ Charlie Moon de Carlos Trillo e Horacio Altuna
O que me cativou nessa leitura foi a personalidade de Charlie. As situações que são propostas na HQ não são necessariamente novas e nem chegam a trazer um olhar “inovador” sobre nenhum problema/questão social, mas encarar esses problemas sob a ótica do jovem e inocente protagonista que nem entende direito o que está acontecendo.. isso sim é extremamente cativante!
Mesmo que não gostemos de admitir, a realidade é que em algum ponto todos nós passamos pelo problema de não entender as situações que se apresentam na nossa vida. O pequeno Charlie passa por isso frequentemente e alguns ensinamentos só são absorvidos quando já é tarde demais.
O garoto é o tipo de personagem que gera empatia imediata e faz com que a gente torça para que tudo funcione para ele. Infelizmente o ambiente não é muito favorável para um jovem e pobre órfão e dureza é a palavra que define a vida do rapaz.
Situações novas e frustrantes testam o protagonista da HQ Charlie Moon de Carlos Trillo e Horacio Altuna
De todas as histórias do personagem, a que mais me chamou a atenção foi a que retrata Charlie trabalhando na fazenda dos Bishop. O conto começa mostrando um velho cavalo sendo abatido pelos donos da fazenda e isso logo se torna uma metáfora para que um velho trabalhador negro da fazenda, Jeremias, entenda que seus dias como empregado estão contados – afinal, tudo que é velho é descartado não é mesmo? O final da história é de partir o coração e nos convida a uma reflexão profunda sobre nossa relação com o trabalho de maneira geral.
Charlie Moon de Carlos Trillo e Horacio Altuna é uma daquelas HQs especiais que conseguem deixar sua marca mesmo com histórias curtas e com um personagem que é pouquíssimo estruturado. Para os que gostam de ler sobre situações cotidianas em leituras mais reflexivas, a HQ é uma excelente pedida. Uma pena que Charlie teve tão poucas histórias porque claramente havia potencial para muito mais.
Avaliação: Excelente!
Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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