Ultimato do Bacon

Bohemian Rhapsody – O Ultimato

Em 3 de Nov de 2018 7 minutos de leitura
Bohemian Rhapsody
Ano: 2018 Distribuição: 20th Century Fox
Estreia: 01 de Novembro Diretor: Bryan Singer
Duração: 121 Minutos Elenco: Rami Malek, Gwilym Lee, Joseph Mazzello, Ben Hardy, Lucy Boynton

Sinopse: “Bohemian Rhapsody é uma celebração exuberante do Queen, sua música e seu extraordinário cantor principal Freddie Mercury, que desafiou estereótipos e quebrou convenções para se tornar um dos artistas mais amados do planeta. O filme mostra o sucesso meteórico da banda através de suas canções icônicas e som revolucionário, a quase implosão quando o estilo de vida de Mercury sai do controle e o reencontro triunfal na véspera do Live Aid, onde Mercury, agora enfrentando uma doença fatal, comanda a banda em uma das maiores apresentações da história do rock. Durante esse processo, foi consolidado o legado da banda que sempre foi mais como uma família, e que continua a inspirar desajustados, sonhadores e amantes de música até os dias de hoje.

 

[tabby title=”Diego Brisse”]

Umas das memórias mais felizes da minha infância nos anos 90 é ficar andando pela casa com um Walkman da Sony (aquele amarelo e preto) escutando sem parar a fita Queen Greatest Hits II. A pilha acabava, minha mãe não tinha como comprar mais e ia eu colocar as pilhas no congelador, lenda que meu irmão ensinou para recarregar. Isso foi bem antes de eu me interessar por ser músico. Eu era um grande fã, ouvia os vinis, lia as revistas sobre a banda, e Queen é até hoje a banda que eu mais ouço.

Quando vi o primeiro trailer de Bohemian Rhapsody no cinema eu fiquei emocionado. Rapidamente as memórias de infância voltam e o amor pela banda grita. Mas eu tive medo. Não queria um filme estereotipado ou militante na questão pessoal do Freddie Mercury. Queria ver um filme sobre a banda, mesmo sabendo que o filme é uma cinebiografia focada em Freddie, mas ainda assim eu queria ver o artista.

A produção passou por diversos problemas, Bryan Singer “abandonou” a produção, troca de elenco, divergência com questões legais, tudo se encaminhava para dar errado. E por pouco não deu. Como fã do Queen, sei um pouco da história da banda, então ver que eles alteraram muitos detalhes da história real, me incomodou demais! Não respeitaram cronologia de fatos, eventos e isso deixou o filme bem morno. O filme não pode ser encarado como uma cinebiografia de Freddie Mercury, mas sim um filme baseado em fatos.

Apesar disso, o filme funciona. Se deixar a chatice de lado, não ser um fã Xiita, é possível amar o filme. Mesmo que os únicos erros não sejam apenas esses da história, conseguiram fazer um roteiro agradável baseado na vida do Freddie Mercury. A maneira como o comportamento dele afeta a banda e sua carreira, é mostrada sem pena do personagem, esfregando os erros na cara. Ver as consequências disso é legal. Um outro acerto é não terem feito um filme panfletário, que era meu maior medo. Respeitaram a importância de Mary Austin na vida de Freddie de uma forma que eu não esperava. O filme trata a dificuldade do personagem em lidar com sua condição bissexual, e de afastar a mídia de sua vida pessoal, querendo que o mundo conheça os artistas e sua obra, evitando toda exploração midiática de sua vida pessoal.

A escolha do elenco ficou incrível, todos os atores se parecem muito com os membros da banda, em especial Joseph Mazzello (o Tim de Jurassic Park) que interpreta o John Deacon. Rami Malek apesar de ser bem diferente de Freddie Mercury entrega um interpretação muito apaixonada, que com ajuda da voz de Marc Martel fazem um Freddie Mercury quase perfeito. Sua indicação ao Oscar é óbvia e justa. A reprodução de shows da banda ficou impecável e muito emocionante, usando truques e efeitos especiais que tornam a experiência de assistir o filme no cinema única. O “remake” de trechos do Live Aid é pra fazer qualquer fã do Queen se emocionar, recomendo que assistam em Imax ou em uma sala com som Xplus. Ouvir Queen em uma sala de cinema com som de extrema qualidade me fez ficar até o final dos créditos e eu ainda levantei triste, querendo mais.

Ignorando o lado de fã xiita, Bohemian Rhapsody é uma homenagem emocionante à maior banda de todos os tempos. A parceria Rami Malek e Marc Martel deixa o filme mais incrível ainda. Um filme emocionante, mas que me deixou triste por ver que hoje a música no mundo é medíocre e desprezível, que dificilmente verei uma banda tão perfeita surgir. Freddie Mercury faz muita falta ao mundo, mas sua obra com o Queen é imortal.

OBS: Para quem quer saber mais sobre a banda de verdade recomendo o documentário da BBC Queen – Days o four Lives e o livro Freddie Mercury: A biografia definitiva de Lesley-Ann Jones.
 

Avaliação: Ótimo!

 

[tabby title=”Alexandre Baptista”]

Pouco foco nos gatos de Freddie Mercury transformam Bohemian Rhapsody numa biografia imprecisa e inexpressiva

por Alexandre Baptista

Afinal de contas, gatos são os maiores geradores de cliques na internet. Vídeos de gatos contam milhões de visualizações. E Freddie Mercury era simplesmente apaixonado por eles. Alguns certamente vão dizer que estou sendo chato e que a paixão incondicional do músico pelos felinos, a ponto de ter quartos para cada um deles em sua mansão e se importar mais com eles do que com sua própria família consanguínea, é apenas um dos aspectos da prolífica vida e carreira do artista. Certamente também dirão que os gatos aparecem sim no filme, embora não sejam o foco principal. E sabe de uma coisa? Quem disser isso estará certo.

Há quem goste do chamados biopics/bioflics (as cine biografias). Eu particularmente prefiro os documentários. E por um único motivo: nem mesmo documentários acertam na história real. Para que possam existir, as biografias, sejam documentais ou dramatizadas, são adaptadas. Biógrafos, escritores, diretores e produtores geralmente evitam certos dramas ou complicações, deixando de lados fatos controversos da história de determinada pessoa ou banda, especialmente quando esta acabou por qualquer motivo motivo controverso: os autores acabam sempre favorecendo um lado da história, sendo raríssimas as biografias que sejam ou mesmo procurem ser imparciais. E isso é ainda mais notório nos filmes biográficos. Mesmo porque os cineastas precisam fazer caber em cerca de duas horas de projeção elementos de uma vida ou carreira inteira, que se desenvolveu ao longo de vários anos, o que faz com que muitos elementos sejam escolhidos com cuidado no momento de serem suprimidos, cortados ou alterados.

Bohemian Rhapsody, não sendo um documentário, tem ainda outra preocupação: ser um filme. Que tenha coesão de eventos e de roteiro. Ritmo. Estrutura. E é por isso que muitas coisas acabaram sendo adaptadas. Aliás, como em toda cine biografia: eventos mudam de ordem, de data; pessoas são substituídas; situações são adaptadas para mais apelo dramático; etc.

E por isso, volto aos gatos. O filme tem sido duramente criticado por alguns por fazer "straight-washing" (alterar eventos de forma a sugerir um comportamento mais heterossexual – ignorar o lado homoafetivo da vida de Freddie no caso). Bryan Fuller, criador de Pushing Daisies e Haniball, foi um dos mais notórios a se pronunciar sobre isso no Twitter, atacando a Fox e a produção do longa nesse sentido. E ele está completamente enganado sobre isso. Ou criou uma expectativa errada para o filme.

Desde que foi anunciado e mesmo com todas as mudanças e problemas que a produção enfrentou (por exemplo, a saída logo no começo de Sacha Baron Cohen no papel de Freddie Mercury por Rami Malek), o longa sempre foi divulgado como sendo a história do Queen. E não especificamente de Freddie. E, mesmo que o longa focasse majoritariamente em Mercury (como faz em certa medida), a escolha dos produtores e de Bryan Singer, diretor do longa em 90% das cenas, foi pelo equilíbrio. Está tudo lá: a relação com Mary Austin; o relacionamento e a traição de Paul Prenter, o relacionamento com Jim Hutton, seu parceiro a partir de 1985; sua família, os tradicionais Bulsara, e os músicos do Queen frequentando a residência dos mesmos; Tim Staffell e a banda Smile; os gatos de Freddie; as festas regadas a bebida, sexo e narcóticos; e principalmente, a música contagiante do Queen.

Sim, o Rock in Rio de 1985 "acontece" no filme ainda nos anos 70; Paul Prenter revela o estilo de vida de Freddie para a TV e não aos jornais como na vida real; a plateia do Live Aid forma uma onda de palmas ao som de Radio Gaga – embora a plateia do Live Aid em 1985 tenha sido impressionante, a cena das palmas que ocorria com frequência nos shows do Queen, teve sua transmissão mais impressionante em 1992 durante a apresentação do Extreme para o The Freddie Mercury Tribute; Ray Foster, o empresário da EMI interpretado por Mike Myers jamais existiu; todas essas e muitas outras alterações acontecem no filme. E são necessárias para que o longa não seja somente um amontoado de eventos desconexos, chatos e sem ritmo. Sim, o filme menciona o estilo de vida movido a sexo, drogas e rock'n'roll de Mercury. Mas a escolha é por sugerir os acontecimentos, sem focar nos mesmos. E essa é parte da magia do cinema. Muitas cenas podem ser sugeridas; estar nas entrelinhas. Muito está implícito no filme em favor das cenas em estúdio, em palco e dos dilemas da banda. E isso faz de Bohemian Rhapsody um filme equilibrado e poderoso dentro daquilo que se propõe, cumprindo exatamente o que sempre foi anunciado e prometido desde o início. Sem deixar de lado a sexualidade de Freddie.

Dentro do que se propõe um biopic, o longa não deixa quase nada de fora, tendo três momentos extremamente emocionantes: o coro da plateia de Love of My Life no Brasil; a apresentação da banda no Live Aid; a saída de Mercury do hospital ao descobrir que é soropositivo (aliás, cena singela e simbólica, de uma delicadeza ímpar que sem dúvida veio do talento de Bryan Singer).

Outro ponto alto é a técnica utilizada na criação da voz lírica de Rami Malek para Freddie Mercury, que mesclou a voz do prórprio Rami Malek com Marc Martel (roqueiro canadense que ganhou notoriedade ao fazer covers de Mercury), dando credibilidade às cenas. De quebra, os expectadores mais atentos poderão ver uma participação especial de Adam Lambert e reconhecer a insistente pergunta da jornalista Glória Maria durante a vergonhosa entrevista realizada em 1985: no filme, uma jornalista pergunta durante uma coletiva de imprensa se Freddie é o lider da banda, ao que ele responde "sou apenas o cantor principal" (um trocadilho entre leader – líder – e lead singer – cantor principal).

Bohemian Rhapsody é por fim um filme que faz jus ao nome: assim como a letra da música homônima, deixa muito apenas sugerido mas acerta em cheio na qualidade de entretenimento, no roteiro bem amarrado, na trilha sonora que por pouco não faz com que a plateia do cinema cante junto e principalmente nas interpretações impecáveis de todo o elenco. E tudo isso dito por alguém que simplesmente não gosta de cine biografias.

 

Avaliação: Ótimo!

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Leitura Recomendada:

Freddie Mercury: A biografia definitiva de Lesley-Ann Jones.

 

 

Trailer:

 

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