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Adam Strange… Traidor, vítima ou herói? – Estranhas Aventuras

Em 18 de Abr de 2022 5 minutos de leitura
Adam Strange... Traidor, vítima ou herói - Estranhas Aventuras 1

Adam Strange é um super-herói da DC Comics. Criado pelo editor Julius Schwartz junto com Murphy Anderson, ele apareceu pela primeira vez em Showcase # 17 (Novembro de 1958). Grande parte da história inicial de Strange parece ter sido inspirada em John Carter, um viajante inesperado é transportado para um planeta desconhecido, onde através de seus feitos é declarado o maior herói desse novo mundo.

Adam era um arqueólogo, que por intermédio dos efeitos dos misteriosos RAIOS ZETA, foi teletransportado “acidentalmente” através do universo até o Planeta Rann. Lá acaba por se tornar o principal herói do Planeta, se apaixona por Alana, que viria a ser sua esposa, e juntos eles têm uma filha chamada Aleea.

Entretanto, ele só permanecia em Rann enquanto duravam os efeitos dos raios em seu corpo. Para voltar para lá, ele viajava pelo mundo até os locais em que o raio atingiria a Terra outra vez.

Strange acabou recebendo um convite para se tornar integrante da Liga da Justiça, mas recusou a proposta, optando por atuar tanto na Terra quanto em Rann e ajudando a melhorar a relação entre planetas.

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Índice

Oi… Eu sou Adam Strange

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Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. “Friedrich Nietzsche”

Em 2020, após 62 anos de sua primeira aparição, Adam Strange ganhou uma nova minissérie que explora outra faceta do herói nunca antes vista.

Roteirizada pelo brilhante Tom King (Senhor Milagre, Visão, Batman) e com arte dos excelentíssimos Mitch Gerads e Evan “Doc” Shaner, Estranhas Aventuras (Strange Adventures) é uma minissérie de 12 partes onde observamos a deterioração da psique do protagonista e as consequências de suas ações. Acompanhamos o retorno do aventureiro espacial, Adam Strange, para a Terra como um ‘‘herói de guerra’’, mas será que a guerra pode fazer um homem bom pensar de maneira cruel e perversa?

Como em outros trabalhos do autor, a ação é deixada de lado, aparecendo em momentos específicos, assim temos uma trama totalmente intimista. A narrativa é muito eficiente em sua proposta, mostrando as mazelas da guerra e as consequências da criação de um salvador ou herói utópico.

A história se passa em duas linhas temporais, passado e presente. Com foco em três personagens: Adam Strange, Alana Strange e Mister Terriffer.

O casal Strange é recebido com muita festa, só que isso dura pouco. Adam é acusado de genocídio e misteriosamente seu acusador é encontrado morto e o maior suspeito é o nosso herói.  O Batman entra na investigação, mas logo é substituído pelo Mister Terriffer, pois nosso querido Homem-Morcego não teria uma análise imparcial do caso. Assim a história avança, com os recortes do passado e a investigação de Terrifer no presente.

O salvador de dois mundos

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A violência é o último refúgio dos incompetentes. ‘’Isaac Asimov’’

Precipuamente, é fulcral pontuar a excepcional escolha de artistas para esse projeto, tanto Mitch Gerads como Evan Shaner estão brilhantes em suas propostas. Shaner com seu traço mais limpo, no passado, remetendo a um período mais puro de Adam, assemelhando-se bastante a Era de Prata (período em que o personagem teve participação mais notória no universo DC).

Ademais, é imperativo ressaltar que Mitch Gerads com seu traço mais realista, no presente, nos mostra “a perda da inocência”. Pelo seu desenho percebemos a apatia do personagem e o quanto a guerra influenciou em sua atual personalidade.

Desse modo, a colorização também exerce um papel fundamental na ambientação, com cores mais vibrantes no traçado de Shaner e cores mais sóbrias por parte de Gerards, distinguindo por completo cada período que se passa cada narrativa.

A transição entre as artes é magnifica, passando de um momento de tensão em meio a uma batalha até uma simples dose de whisky pela tarde. Isso alinhando ao brilhante texto do autor cria uma imersão na obra, pois ao observarmos atos corriqueiros do dia a dia criamos identificação com os personagens, mesmo que no quadro seguinte estejam lutando contra uma invasão alienígena ou algo assim.

Todo homem é o herói da sua própria história?

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A guerra é o maior dos crimes, mas não existe agressor que não disfarce seu crime com pretexto de justiça. “Voltaire’’

Ao analisar a obra percebemos que ela em sua essência é um estudo de personagem, ou melhor dizendo, seria a desestruturação da figura do herói de guerra. Afinal, herói para quem? Como pode haver um herói se tantas almas puras terminam mortas? Ademais, também nos é apresentado como funciona a criação de um MITO e de como a verdade pode ser facilmente manipulada. Quem detém o conhecimento detém o poder. Normalmente a história da humanidade sempre foi contada por aqueles que enforcaram os verdadeiros heróis.

Em Estranhas Aventuras não é diferente. Rann manipula a informação sobre a guerra para que sejam vistos como honrosos e bravos, mas o que observamos é justamente o oposto. Adam se torna um genocida matando a todos que ele julga inimigos, incluindo civis e até crianças. Aos olhos de seus apoiadores todas as atrocidades cometidas são amenizadas com a idealização de que os fins justificam os meios. A maioria prefere a mentira ⁠vestida de verdade do que a verdade nua e crua por acreditarem que a vida fique mais palatável e digerível.

Adam, no fim das contas, acaba por se tornar também uma peça publicitária. “Um homem vindo de outro planeta não mede esforços para salvar o lar onde foi acolhido.”

Entretanto, mesmo sabendo que nosso protagonista não é um herói utópico, seria essa toda a verdade? Ou Adam guarda segredos mais obscuros do que poderíamos imaginar? O salvador de dois mundos no fundo só tomou decisões egoístas pensando no seu benefício próprio?

The man who sold the world

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A mentira nunca vive o suficiente para envelhecer. “Sócrates”

Agora irei comentar um ponto específico da história, então você, caro leitor, que não queira tomar nenhum Spoiler, recomendo que pule essa parte do texto até a Conclusão

 SPOILER

Adam construiu um império de mentiras enganando a todos com sua história de bravura e honra, quando na verdade fizera o oposto. Em uma atitude desesperada, após ser torturado incessantemente, e ver que Rann seria dizimada, nosso protagonista acaba por fazer um acordo com o inimigo.

Rann venceria a guerra e Adam seria aclamado como herói por todos, mas teria que “entregar” a Terra em posse deles. E, como firmamento desse acordo, a filha de Adam ficaria em posse do inimigo. Quando ocorre essa revelação, Adam muda de postura drasticamente, ameaçando até mesmo sua esposa. Envolta em mentiras, toda sua trajetória mesmo que sanguinária não passou de uma “atuação”.

Ao longo da história, Adam tenta a todo custo algum suporte da liga da justiça, mas infelizmente é negado. Mendigos não podem escolher e quando seus aliados dão as costas para você… Adam Strange é o tipo de “herói” que você acaba tendo.

Então, se os meios são justificáveis pela finalidade, o herói de dois mundos seria um herói para Rann, um traidor ou simplesmente um homem desesperado ao ponto de entregar seu planeta natal? Qual seria a verdadeira faceta de Adam Strange? No fim das contas, a guerra e a responsabilidade o quebraram e lhe custaram tudo.

Conclusão

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O verdadeiro herói é aquele que faz o que pode. Os outros não o fazem.Romain Rolland

Definitivamente, Estranhas Aventuras é uma leitura envolvente, misteriosa e que provoca um misto de emoções no leitor, tanto arte como narrativa são impecáveis. Não é necessário um alto grau de conhecimento do personagem para uma maior compreensão da obra.

O autor nos guia suavemente pela trama e, aos poucos, nos habituamos aos personagens e a esse universo onde estão inseridos. A investigação que ocorre ao longo de toda narrativa é bem conduzida e atrativa, não havendo “barrigas” na trama.

Novamente Tom King é brilhante ao explorar um personagem sem muito apelo popular, assim, sem intromissões editoriais e com mais liberdade, histórias com um nível altíssimo de qualidade são alcançadas, nos fazendo imaginar que qualquer personagem nas mãos de um bom escritor podem render discussões e questionamentos interessantes.

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Créditos:
Texto: Jorge Paulino – @jorge.p.jr @haterzasso
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse

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