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A caixa de areia de Lourenço Mutarelli – O Ultimato

Em 2 de Ago de 2023 3 minutos de leitura
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Conheça a HQ que reflete sobre o tempo e a realidade enquanto um quadrinista investiga o surgimento de brinquedos no banheiro do gato em: A caixa de areia de Lourenço Mutarelli

A caixa de areia ou eu era dois no meu quintal – nome completo da obra – é o último quadrinho lançado pelo mestre Lourenço Mutarelli até aqui. Na verdade, é uma reedição feita pela Quadrinhos na Cia. em 2023. Foi publicado originalmente pela Devir em 2006.

A nova edição tem 144 páginas em capa cartonada, P&B, com 40,6 x 22,5 cm. A HQ une ficção com tons autobiográficos onde o “alter ego” desenhado pelo autor é ele mesmo. Com isso, caminhamos por uma análise filosófica e existencialista sobre o tempo e a realidade.

Qual a trama de A caixa de areia de Lourenço Mutarelli

Mutarelli nos leva por dois enredos que intercalam em 11 capítulos e de algum jeito se conectam. O primeiro, onírico, é de Kleiton e Carlton, dupla cômica desenhada de forma caricata.

Eles andam de carro – parecendo não sair do lugar – em um deserto infinito. A principal características das conversas deles é que ambos repetem as ofensas um do outro “até que elas se tornem simples palavras” e não machuquem mais. Mas sempre estão se criticando. E repetindo.

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A dupla cômica Kleiton e Carlton conta causos e se ofendem durante toda a HQ

A segunda história é a do quadrinista Lourenço Mutarelli, que está narrando um recorte da vida dele como se fosse um diário – daí a arte da capa parecer um – em quadrinhos. Nesse período, miniaturas perdidas com que o artista brincava no quintal de casa – há quase 40 anos – começam a aparecer na caixa de areia do gato da família, o Nanquim.

Ao mesmo tempo em que Lourenço investiga o mistério dos brinquedos, assistimos seu cotidiano ao lado da esposa, Lucimar, e do filho Francisco. Por meio dos diálogos, vamos acompanhando reflexões do quadrinista sobre o tempo, a realidade e a representação, as perdas e a memória, a identidade.

Vale a pena ler?

Na trama, Lourenço queria “capturar o tempo”, mais especificamente o que ele estava vivendo. Porém, como registrar a realidade em quadrinhos, se o fato de ser uma representação já indicar que não é a realidade em si? Indo mais longe, será que existe uma realidade determinada ou ela está presente apenas a um próprio suposto saber?

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Depois de décadas, os brinquedos perdidos de Mutarelli reaparecem na caixa de areia do gato

Poucos quadrinistas sabem lidar com o simbólico de forma tão interessante quanto Lourenço Mutarelli. A metalinguagem, quando ele mostra as páginas do próprio quadrinho a um amigo, como recurso para brincar com o “real”, é um exemplo. Um show à parte. Em paralelo, suas obras têm apelo íntimo e visceral. É a arte em sua concepção mais pura.

No prefácio, Mutarelli fala sobre os nomes de sua família e de seus antepassados. De quadro em quadro, vai adicionando os personagens da célula familiar – Nanquim, Lourenço, Francisco e Lucimar – e, em seguida, Kleiton e Carlton.

Uma visão mais acurada nos faz perceber que o garoto ali pode não ser Francisco – sempre desenhado de topete –, mas Mutarelli pequeno.

Sim, a obra é também sobre a criança que Mutarelli reencontra. Talvez o deserto – lugar sem fim e inabitável – da dupla cômica seja a própria caixa de areia. O quintal é o oposto. Para a criança, onde pode viajar aos lugares mais longínquos do mundo e da imaginação.

Os brinquedos, conforme Mutarelli salienta a companheira, “salvaram a minha vida. Eles fizeram com que eu sobrevivesse a minha infância.” Qual o quintal de um artista, que o tira do deserto, senão a própria arte?

O quadrinista faz uma ampla investigação para descobrir de onde os bonequinhos estão vindo

A caixa de areia ou eu era dois no meu quintal não é daqueles quadrinhos que deixam tudo explícito. Nem segue cartilhas previsíveis. Oferta amplo terreno, inclusive, para as construções do leitor. Os traços, em P&B de alto contraste, são familiares para quem conhece o trabalho do autor, sobretudo em Diomedes: a trilogia do acidente (1999-2002).

E o final da história apresenta um paradoxo divertido e totalmente alinhado às reflexões propostas. Pode levar o leitor longe, mesmo após o término da leitura. Não à toa, se tornou um clássico das HQs nacionais.

Gostou do texto? Leia outras matérias do David Horeglad (HQ Ano 1) para o UB!

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Avaliação: Excelente!

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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