Ultimato do Bacon

Nós – O Ultimato

Em 19 de Mar de 2019 4 minutos de leitura
Nós (Us)
Ano: 2019 Distribuição: Universal Pictures
Estreia: 21 de Março (Brasil)

Direção: Jordan Peele

Roteiro: Jordan Peele

Duração: 116 Minutos  

Elenco: Lupita Nyong'o, Winston Duke, Elisabeth Moss, Tim Heidecker, Shahadi Wright Joseph, Evan Alex, Anna Diop

Sinopse: “Situado nos dias atuais, o filme apresenta a história de Adelaide Wilson (Lupita Nyong’o), mãe de familia que viaja com marido e filhos para a casa de verão onde passou boa parte de sua infância. A viagem, planejada para ser um descanso, subitamente se transforma em um pesadelo quando um trauma inexplicável volta a assombrar Adelaide. Ao cair da escuridão, os Wilson terão que enfrentar o mais terrivel e improvável adversário: eles mesmos.”

 

 

 

[tabby title=”Alexandre Baptista”]

Depois do excelente Corra!, Jordan Peele surpreende novamente com Nós, que estreia nesta quinta nos cinemas

Um clássico instantâneo do terror, longa estrelado por Lupita Nyong’o faz reverência aos grandes filmes do gênero sem perder a crítica social

por Alexandre Baptista

 

“Portanto assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei”, Jeremias 11:11

Depois do grande sucesso de Corra! (Get Out, 2017), grande parte do público e da crítica estava ansiosa pelo novo filme de Jordan Peele que estreia nesta quinta, 21 de março, nos cinemas.

Nós, que traz Lupita Nyong’o no papel de Adelaide Wilson, é um clássico instantâneo que acerta em muitas camadas e revigora de maneira profunda o desgastado, batido e repetitivo gênero do terror.

Seja por sua fotografia, deslumbrante e com uma ambientação pouco típica dos filmes de terror – a praia – mas também a clássica casa no bosque, próxima a um curso d’água, favorecendo as tomadas de estabelecimento, com uma beleza pouco vista no gênero; seja pela trilha sonora, com elementos tribais, vozes em latim e uma sonoridade muitas vezes “etérea” que ajuda na criação do clima de algumas cenas mais tensas, contrapondo-se com músicas mais contemporâneas nas cenas de família do início do longa.

Seja pela direção de Peele que é, de maneira geral, impressionante: nos ângulos de câmera, na condução dos atores, nos jump-scares ou na ambientação, Nós é prova de que o produtor, roteirista e diretor não teve apenas um “golpe de sorte” em seu filme de estreia. Pelo contrário, mostra seu ótimo repertório e sobe alguns degraus de qualidade com sua segunda direção.

Seja pela brilhante atuação do elenco que não tem um deslize sequer. A família Wilson é simplesmente real e coesa como família, com Winston Duke no papel do pai Gabe Wilson, engraçado, uma forte presença em cena (impossível não lembrar do poderoso M’Baku de Pantera Negra (Black Panther, 2018) interpretado pelo ator); Shahadi Wright Joseph como Zora, a típica adolescente, entediada com a família, mas disposta a morrer por ela; Evan Alex, maravilhoso como Jason, o filho mais novo, um tanto peculiar mas extremamente inteligente e observador; e Lupita Nyong’o como Adelaide, a protagonista e fio condutor de uma história que envolve um trauma de infância e a transformação visível da personagem ao longo do filme. E isso sem abordarmos em detalhes a família de sósias, para não dar spoilers do filme. Basta dizer que o trabalho físico e vocal de toda a família, mas em especial de Nyong’o é simplesmente incrível.

Seja pelo brilhantemente escrito roteiro, que se inicia com uma premissa que a todo momento parece ser óbvia mas possui reviravoltas de fato inesperadas. A trama escrita pelo diretor induz o público para a típica trama de terror psicológico, totalmente calcado na realidade – um distúrbio causado pelo estresse pós-traumático, a depressão ou qualquer outro choque psicológico sofrido pela protagonista em sua infância mas, no entanto, em pouco tempo de filme, é subvertida, cedendo lugar para o “perigo real” dos sósias que invadem a vida da família Wilson em busca de “causar uma impressão”, “realizar uma declaração” e, basicamente, se vingar.

Com uma qualidade digna do remake de Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977), Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, 2006), vemos essa deformada família, uma aberração digna dos grandes clássicos do gênero, quando questionados sobre o que são, responderem “somos americanos”, lançando uma bomba multicamadas para ser apreciada pelo espectador.

Sim, é possível só curtir o susto, a matança, o sangue que escorre em quantidades gigantescas. É possível curtir o absurdo por trás de tudo o que ocorre com a família Wilson, as motivações, as reviravoltas, o humor ácido e perfeito que acontece no meio da confusão e que diverte muito, sem quebrar o clima de suspense e terror do filme. Resumindo, é possível curtir a “chutação de balde” e só.

Mas é possível também, assim como nos filmes de George A. Romero, em especial A Noite dos Mortos-Vivos (The Night of the Living Dead, 1968), perceber a dura crítica social maquiada de slasher-gore-jump scare-pós-terror; é possível discutir por horas a fio a origem dos monstros ou qual o verdadeiro propósito de sua missão, assim como os dilemas que até hoje persistem sobre O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982) de John Carpenter; ou talvez tentar entender o lado animalesco das sósias associando o longa a Os Invasores de Corpos (Invasion of the Body Snatchers, 1978).

Talvez a chave de leitura esteja na frase inicial, que fala sob a quantidade de túneis inutilizados e inúteis ao longo dos Estados Unidos; os trabalhadores de empregos menores e subempregos, que trabalham e vivem em condições precárias, uma sombra de vida, para que a classe mais abastada possa ser feliz e curtir passeios e parques de diversão; talvez a jovem Adelaide seja tal chave, os anúncios que ela vê na TV, logo no início do longa deem a metáfora mais profunda sobre a “sósia”, de personalidade mais agressiva e determinada (um alter ego sufocado por anos?), pronta a sobreviver na família disfuncional em que crescia; ou talvez a relação de Gabe Wilson com os Tyler, família branca que conquistou tudo o que Gabe aspira, tentando viver como “sombra” do que acredita ser a felicidade, muito embora os Tyler não sejam exemplo de família feliz.

Mas essas conjecturas seriam mais apropriadas em um podcast com avisos sobre spoilers.

Na verdade, Nós é um clássico instantâneo por todos esses quesitos em conjunto, aliado ainda a uma profunda reverência a seus antecessores – a máscara do pequeno Pluto que alude a Leatherface e Mike Myers; sua queimadura, as luvas e tesouras que os sósias usam, a Freddie Kruger; até mesmo o macacão de cor vermelha que remete à Thriller, de Michael Jackson.

Um filme obrigatório a todos os fãs do verdadeiro terror e que, sem sombra de dúvidas, será referência para gerações futuras.

 

Avaliação: Excelente!

 

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Trailer:

 
 
 

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